O futuro é agora

Na Raízen, o E2G está perto de virar receita

Nas próximas semanas, a Raízen deve assinar o primeiro contrato para antecipar uma parte dos recebíveis do etanol de segunda geração

Depois de abrir a fronteira tecnológica do etanol de E2G, mostrando que o etanol de segunda geração pode ser produzido em escala industrial, a Raízen está prestes a derrubar mais argumento de quem ainda acha que o risco de execução do E2G é muito alto.

Nas próximas semanas, a Raízen deve assinar o primeiro contrato para antecipar uma parte dos recebíveis do etanol de segunda geração —até das usinas que ainda não estão prontas. Na companhia, a operação inédita vem sendo encarada como uma demonstração de que as fábricas de E2G, que demandam muitos investimentos, são um projeto “autofinanciável”.

“O fato de antecipar é a prova de que os investidores acreditam que vamos entregar o produto. Pouca gente ainda acredita e pensa: ‘não é possível que esses brazucas colocaram de pé no E2G como ninguém no mundo conseguiu’, disse Ricardo Mussa, CEO da Raízen, em entrevista a jornalistas.

Mais cedo, executivos da companhia disseram que o primeiro contrato de antecipação de recebíveis do E2G deve ser assinado ainda em fevereiro. “Estamos concluindo a operação de adiantamento dos recebíveis e vamos anunciar até o fim do mês”, disse o vice-presidente de finanças e relações com investidores da Raízen, Carlos Moura, durante teleconferência com analistas nesta sexta-feira.

Usina de E2G Costa Pinto, da Raízen, em Piracicaba
Usina de E2G da Raízen em Piracicaba (SP); empresa começa a antecipar recebíveis pela venda do biocombustível | Crédito: Raízen

Única companhia capaz de produzir E2G em escala comercial, a Raízen já inaugurou duas fábricas (em Piracicaba e Guariba, no interior de São Paulo) e deve concluir as obras de outras duas na safra 2024/25. Até 2028, a empresa quer chegar a nove plantas de E2G, cumprindo as promessas do IPO.

Com esses projetos de E2G ainda no papel, a Raízen já havia conseguido fechar contratos fornecimento de longo prazo com clientes europeus que precisam reduzir a pegada de carbono.

4 bilhões de euros

Ao todo, os contratos de fornecimento já fechados somam 4,3 bilhões de euros, com volume e preço mínimo determinado. A Shell, que divide o controle da Raízen com a brasileira Cosan, é a principal contratante do EG2.

“Poucas pessoas entenderam o valor de ter esse tipo de contrato. São fenomenais. Não há risco de volume e preço. O adiantamento dessa receita é incrível”, comemorou Mussa.

A Raízen não abriu o montante que será adiantado, mas o executivo disse que os recursos obtidos serão usados para a construção de outras plantas que estão no pipeline, além de reduzir as dívidas da companhia também.

“Você cria uma ferramenta para se autofinanciar. Estamos fazendo algo que protege o nosso balanço, dá força para crescer sem se endividar”, acrescentou o CEO da Raízen a jornalistas.

Grau de investimento

Uma das metas da companhia é preservar o grau de investimentos durante o ciclo de investimentos do E2G, ficando com o índice de alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda) entre 1,6 e 1,8 vez. No fim de dezembro, a alavancagem da Raízen estava em 1,9 vez.

Além de ajudar na estrutura de capital, o contrato de adiantamento da receita do E2G pode ir além das fronteiras da própria companhia.

Como um dos planos de longo prazo da Raízen é licenciar a tecnologia do E2G para terceiros, a companhia poderia oferecer um combo bastante atrativo: a tecnologia, o contrato de fornecimento de longo prazo e outro de antecipação, fechando a conta desses projetos com facilidade.

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Listada na B3, a Raízen está avaliada em R$ 40,5 bilhões. Em doze meses, as ações avançam 21%. Nesta sexta-feira, os papéis chegaram a subir 3,8% após a divulgação dos resultados do terceiro trimestre, que vieram acima do esperado.