Balanço

No primeiro balanço completo dentro da RJ, Agrogalaxy desova estoques

Resultado do quarto trimestre retratou enxugamento da rede de revendas, com queda na receita de 70%, Ebitda negativo e prejuízo de R$ 292 milhões

No primeiro balanço trimestral dentro da recuperação judicial, a Agrogalaxy mostrou uma fotografia pouco animadora — ainda que bastante previsível. Depois do brutal encolhimento, a companhia controlada pelo Aqua Capital viu a receita do quarto trimestre cair 70%, um enxugamento que percorreu todo o balanço, com Ebitda negativo e um prejuízo de R$ 292 milhões. 

O tombo na receita veio principalmente pela redução de vendas de fertilizantes — que fazem muito volume, mas contribuem com pouca margem. Ao protocolar o pedido de RJ, a Agrogalaxy teve a relação com os fornecedores rompida e foi obrigada a cancelar diferentes pedidos junto aos clientes, explicou o CEO Eron Martins a jornalistas nesta terça-feira. 

No trimestre, inclusive, a companhia chegou a vender uma carteira de créditos vencidos e já judicializados, no montante de R$ 120 milhões, para um fundo de investimentos em troca do recebimento de produtos — e não de dinheiro. 

Luiz Conrado, diretor financeiro da rede de revendas, explicou que o próprio fundo para quem essa carteira foi vendida fez o meio de campo com uma empresa de insumos que disponibilizou os produtos, sem dar mais detalhes a respeito da mecânica dessa transação. 

A relação rompida com as indústrias fez com que a Agrogalaxy se movimentasse com o estoque parado dentro de casa para fazer caixa, vendendo produtos a agricultores capitalizados que podem pagar à vista. 

Com isso, o valor dos produtos mantidos em estoque caiu de R$ 909 milhões, no final do terceiro trimestre, para R$ 223 milhões no quarto.

O esforço, segundo Martins, foi um dos grandes responsáveis pela companhia sair de uma posição de caixa de R$ 195 milhões no terceiro trimestre para R$ 475 milhões entre outubro e dezembro de 2024. Vale lembrar que o pedido de RJ foi protocolado em setembro.

Outro ponto que a companhia quis fomentar no fim do ano foi a conversão de contas a receber — com vencimentos nos meses de março e abril — em pagamentos à vista no fim do ano. Essa iniciativa teve um impacto pequeno, em cerca de 5% a 7% do crescimento do caixa do terceiro para o quarto trimestre. 

“No quarto trimestre, a empresa abriu mão de rentabilidade em troca de monetização de ativos, algo que foi essencial. Com liquidez dentro de casa, tivemos tranquilidade para começar negociações com credores no processo de RJ”, frisou o CEO. 

Ebitda negativo — e nova provisão

Nos últimos três meses do ano, o Ebitda da Agrogalaxy ficou mais uma vez negativo, em R$ 206 milhões, em uma magnitude muito menor do que a do terceiro trimestre — que concentrou a maior parte dos eventos não recorrentes que afetaram o balanço da companhia em 2024.

No período encerrado em dezembro, a companhia continuou colhendo os efeitos desses eventos, como provisões para inadimplência (PDD), multas sobre os contratos com as tradings (wash outs, no jargão) e impostos diferidos. 

A novidade fica com uma provisão para vencimentos de produtos que estão no estoque. “Todo o estoque que corre risco de vencer e que na RJ a relação não é propícia para negociá-lo foi provisionado”, explicou Conrado, sem abrir detalhes da cifra a que isso corresponde no balanço.

No mais, CEO e diretor financeiro reforçaram a conhecida mensagem de que a Agrogalaxy vai ganhar um porte compatível com sua nova estrutura — o que envolve, por assim dizer, uma redução ainda maior nas despesas com pessoal. 

Os R$ 124 milhões registrados no SG&A, no jargão, ainda não são o retrato final do que a companhia deve representar, afirmou Martins. “Esse processo continua, estamos capturando benefícios no primeiro trimestre, mas ainda não posso dar mais detalhes, o foco é na execução do plano desenhado”, disse.

Crédito

Na nova configuração de uma Agrogalaxy menor, os executivos ressaltaram que é possível a rede de revendas voltar a ser rentável. 

No plano de recuperação judicial aprovado no início de abril, a projeção da empresa é chegar a uma receita líquida de R$ 1,8 bilhão em 2025, com um Ebitda ainda negativo em R$ 173 milhões, mas, por fim, chegando a um lucro líquido positivo em R$ 793 milhões. 

Em curto prazo, Conrado ressaltou que a empresa ainda conta com um horizonte restrito para o acesso ao crédito, ainda que mudanças significativas tenham sido realizadas com a aprovação do plano de recuperação judicial. Especialmente no que diz respeito a FIDCs.

“O investidor que desconta recebíveis de uma companhia que está entre o pedido de RJ e a homologação tem que ser ultra qualificado. Com a homologação, abre-se um leque muito mais vasto de quem pode operar conosco, financiando nosso contas a receber”, explica o diretor financeiro, ressaltando também a expectativa da melhora do relacionamento com os bancos.

Após a aprovação do plano de recuperação judicial, a companhia tem um período de até 60 dias para homologar o plano na Justiça, mas, segundo os executivos, a expectativa interna é de que isso ocorra em 30 dias.

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Em relação à próxima safra, os executivos ressaltaram o comportamento de compra ainda “da mão para a boca” por parte do produtor rural, influenciado por fatores como as incógnitas relacionadas ao preço da soja e oscilações do dólar.

No caminho para tentar participar da safra 25/26, a companhia deve focar, após a homologação do plano, em deslocar o centro de decisões para as filiais espalhadas pelo País — em mais um passo para desmontar por completo a tese de unificação de redes de revendas no Brasil. “Nosso lema é menos central, mais filial”, afirmou Martins.