Terras

No rastro do El Niño, BrasilAgro assume fazenda em Mato Grosso por R$ 36 milhões

Empresa vai pagar 13 sacas de soja por hectare pelo arrendamento e desembolsar R$ 36,4 milhões para comprar o antigo operador da propriedade

Colheita em Balsas, no Maranhão; BrasilAgro compra empresa para ficar com arrendamento em MT

A BrasilAgro está aproveitando o ano de dificuldades no Mato Grosso para estrear em uma das regiões mais valorizadas e promissoras do Estado. A empresa pagou R$ 36,4 milhões pela Companhia Agrícola Novo Horizonte, que tinha como principal atrativo um contrato de arrendamento de 5 mil hectares na região de Primavera do Leste.

Com mais de 260 mil hectares em seu portfólio (entre áreas próprias e arrendadas), a BrasilAgro já operava outras fazendas em Mato Grosso, mas em regiões mais isoladas. Além de apresentar uma alta produtividade, Primavera do Leste está bem servida em termos logísticos e comerciais, com tradings e beneficiadores de algodão instalados nas proximidades.

A BrasilAgro pagará em média 13 sacas de soja por hectare durante os 16 anos do contrato, que prevê o arrendamento de 4.767 hectares úteis, dos quais 670 hectares são irrigados. Segundo fontes consultadas pelo The AgriBiz, o preço médio de arrendamento na região varia entre 14 e 18 sacas de soja por hectare.

No valor que será pago à Nova Agrícola estão incluídos um parque de máquinas agrícolas, cinco pivôs de irrigação e um prejuízo acumulado de aproximadamente R$ 10 milhões da Novo Horizonte.

“Assumir a empresa foi a melhor forma que encontramos de fazer um contrato de arrendamento por um custo que não existe mais no mercado. Esse valor estava sendo praticado há cinco anos”, disse Ana Paula Zerbinati, head de relações com investidores da BrasilAgro, a jornalistas nesta quarta-feira.

Para os analistas do BTG Pactual, o múltiplo do negócio foi atrativo para a BrasilAgro. “Assumindo que a Brasil possa fazer um Ebitda de R$ 1.500 por hectare nessa área (uma estimativa conservadora considerando a média de R$ 2.300 por hectare alcançada pela companhia nos últimos seis anos), a empresa estaria pagando 5x EV/Ebitda, ante um múltiplo de 7x historicamente”, escreveu o analista Thiago Duarte em relatório.

Oportunidade

A head de RI da BrasilAgro classificou a transação como um negócio de oportunidade. A Novo Horizonte possuía um prejuízo acumulado de R$ 10 milhões — a BrasilAgro vai absorver um valor bem inferior a este, segundo a executiva.

Os sócios da empresa vendida também trabalham na conversão de uma outra propriedade de 4 mil hectares no município de Vila Bela da Santíssima Trindade, em Mato Grosso, que foi retirada da Novo Horizonte para viabilizar o negócio com a BrasilAgro, explicou Rafael Maia, diretor e investidor da Novo Horizonte, ao The AgriBiz.

Maia contou à reportagem que a Novo Horizonte começou a trabalhar na propriedade que está sendo transferida à BrasilAgro em 2020. Na última safra, a produção na primeira safra foi afetada pelo El Niño, inclusive inviabilizando o plantio na segunda safra.

A BrasilAgro aguarda a aprovação do Cade para assumir a área, mas conta com ela para a safra de verão, que tem largada em setembro.

O plano é plantar soja em praticamente toda a área, inclusive irrigada, e destinar 400 hectares para algodão. Na segunda safra, os 670 hectares irrigados serão cultivados com algodão. Da área de sequeiro, cerca de 30% (aproximadamente 1.200 hectares) tem aptidão para milho safrinha e deve receber o cereal, segundo Ana Paula.

Vem mais por aí?

A BrasilAgro continua avaliando oportunidades de arrendamentos e compra de terras. “Recebemos, dia sim dia não, banqueiro com oferta de áreas de fazendeiros endividados”, comentou. A maior probabilidade, daqui para frente, é que operações de compra sejam anunciadas, pois a janela em que normalmente são fechados os contratos de arrendamento (entressafra) está ficando mais curta.

Em março, a empresa anunciou o arrendamento de uma área de cana-de-açúcar em Brotas, no interior de São Paulo. A operação foi a estratégia adotada pela BrasilAgro para se expor ao açúcar —até então, a companhia fornecia cana para usinas dedicadas apenas à produção de etanol, o que limitava a sua remuneração.

As ações da BrasilAgro caíram 0,6% nesta quarta-feira na B3. Em 12 meses, os papéis acumulam alta de 22%. A empresa está avaliada em R$ 2,5 bilhões na bolsa.