Revendas

O alento da Agrogalaxy: num trimestre difícil, o agricultor voltou às compras

Pedidos dos clientes aumentaram 30% em junho e julho, indicando que a recuperação virá no segundo semestre

Axel Labourt, CEO da Agrogalaxy

Depois de segurar as encomendas de insumos agrícolas por várias semanas, o agricultor voltou às compras a partir de junho — um alívio para as revendas Brasil afora.

A sinalização de que uma recuperação está a caminho veio nesta quinta-feira, em uma entrevista com os dois principais executivos da Agrogalaxy: Axel Labourt e Eron Martins, CEO e CFO, respectivamente.

Em uma conversa com jornalistas, a dupla traçou um cenário mais benigno para o segundo semestre, uma boa notícia depois das dificuldades enfrentadas na primeira metade do ano.

No balanço do segundo trimestre que a Agrogalaxy acaba de divulgar, os efeitos da retomada nas compras ainda não aparecem de forma evidente, mas Labourt adiantou que os números de pedidos de junho e julho mostram que as compras de insumos ganharam tração.

Ao todo, a receita líquida da Agrogalaxy desabou 42% no segundo trimestre, somando apenas R$  1 bilhão. Quando se exclui a receita com a venda de grãos, deixando apenas a comercialização de insumos, a redução foi ainda maior (58%).

“O segundo trimestre pode ser dividido em dois”, argumentou o CEO da rede de revendas, tentando ilustrar a mudança de comportamento do produtor ao longo dos meses.

De abril até meados de maio, o agricultor ainda estava com o “freio de mão puxado”, na expressão de Eron. Os pedidos só começaram a acelerar no fim de maio, num ritmo que se intensificou nas últimas semanas de junho.

A avaliação não é exclusiva da Agrogalaxy. Na semana passada, a Boa Safra também mostrou o efeito do comportamento de compras atrasado do agricultor nos pedidos de sementes, o que também ocorre com defensivos químicos, biológicos e fertilizantes.

Pelos cálculos da Agrogalaxy, os pedidos dos clientes aumentaram 30% tanto em junho quanto em julho, sempre comparando com o mesmo período do ano passado. Com isso, a expectativa para o terceiro trimestre é grande. A um mês do início do início do plantio de soja, as revendas estão num momento crucial para confirmar a recuperação.

Menos fertilizante

Há um ano como diretor financeiro da Agrogalaxy, Eron já consegue apresentar os resultados positivos da reorganização iniciada desde que assumiu, o que inclui um forte programa de redução de despesas que incluiu 600 demissões e o fechamento de 19 lojas. Agora, esta fase de cortes está encerrada.

Em doze meses, a Agrogalaxy reduziu o nível de despesas em R$ 182 milhões, o equivalente a 2,4% da receita do período (R$ 7,4 bilhões). Para um negócio de margens apertadas como costuma ser o varejo, é uma economia relevante. Pelos cálculos de Eron, a redução do nível de despesas deve atingir R$ 200 milhões no ano cheio.

Ao mesmo tempo em que enxugou as despesas, a rede de revendas acelerou o uso de barter nas vendas aos agricultores, o que ajuda no recebimento — controlando melhor a inadimplência. Atualmente, o barter responde por 42% das vendas da Agrogalaxy. “Achavam que não íamos alcançar a meta de 30% de barter, mas superamos”, ressaltou o CFO.

Outro pilar no processo de reestruturação da Agrogalaxy tem sido a mudança no perfil de vendas, reduzindo o peso dos fertilizantes (que deixam pouca margem e consomem bastante capital de giro) em detrimento de especialidades (insumos biológicos, fertilizantes especiais) e sementes.

Em algumas lojas, mais de 50% da receita era com a venda de fertilizantes, uma prática que não faz sentido econômico. Agora, a companhia só faz as vendas de fertilizantes de menor margem em pacotes (incluindo especialidades e outros produtos).

Nesse processo, a empresa aumentou a participação dos produtos especiais nas vendas, saindo de 9,4% há um ano para 17%. Com isso, a Agrogalaxy também melhorou a margem bruta nas vendas de insumos. No segundo trimestre, o indicador atingiu  19,5%, incremento de 2,9 pontos na comparação anual.

Segundo Eron, a decisão de reduzir o peso dos fertilizantes explica também a magnitude da queda da receita líquida no segundo trimestre. Tradicionalmente, a compra de fertilizantes é feita primeiro, o que acaba afetando os resultados nesse trimestre.

Sem os fertilizantes, o tombo no top line teria sido menor, da ordem de 25% — abaixo da redução de players como a 3tentos, que registrou uma diminuição de 30% no volume de vendas de insumos.

À espera do faturamento

Com o ritmo de pedidos que vem acumulando nas últimas semanas, a Agrogalaxy espera que os resultados apareçam no faturamento neste terceiro trimestre, o que é fundamental para diluir os custos fixos, aumentar o Ebitda e, com isso, melhorar os indicadores de endividamento.

No fim de junho, a dívida líquida da Agrogalaxy somava R$ 1,5 bilhão, uma diminuição de quase 10% na comparação anual. O problema é que, como o Ebitda em doze meses caiu 64,8%, o índice de alavancagem está muito alto, acima de 8 vezes. Com a retomada das vendas, a tendência é que o Ebitda acumulado em doze meses também cresça, ajudando nos cálculos de endividamento.

Um dos fatores que pode ajudar a ampliar as vendas serão as compras de última hora de defensivos, especialmente porque os produtores estão comprando apenas o estritamente necessário e, em casos de pragas, terão de adquirir mais produtos.

“Podemos ver um repique nervoso de compras de defensivos”, projetou Labourt, CEO da Agrogalaxy. A programação adiantada para fechar contratos de barter para o milho safrinha que será plantada só em 2025 também pode ajudar, melhorando o faturamento nos últimos meses do ano. Ao todo, a Agrogalaxy já firmou barter para 2,5 milhões de sacas milho da próxima safrinha.

Até o fim do ano, a estrutura de capital também pode ser beneficiada pela venda de uma participação (ou mesmo da totalidade) na operação de sementes, um processo em curso desde fevereiro. No mercado, estima-se que a Agrogalaxy poderia obter de R$ 350 milhões a R$ 400 milhões pelo negócio como um todo.

Nesse cenário, a Agrogalaxy precisaria de um Ebitda de R$ 400 milhões para cumprir a meta de alavancagem, que é de no máximo 3 vezes no fim de dezembro. No ano passado, a companhia teve um Ebitda de R$ 342 milhões, mas o resultado já foi superior a R$ 700 milhões nos áureos tempos, em 2022.

Se as vendas vierem, o negócio pode se recuperar.

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Listada na B3, a Agrogalaxy está avaliada em R$ 254 milhões. Em doze meses, os papéis acumulam uma queda de 67%.