A disparada do boi gordo levantou dúvidas entre os analistas do sell side que cobrem a Minerva Foods. Em menos de dois meses, o preço do gado subiu 50% no Brasil, o que pode aumentar a necessidade de capital de giro e afetar a rentabilidade justamente no momento em que a companhia assumiu 13 frigoríficos — ampliando a capacidade no Brasil em 80%.
Em uma teleconferência durante a manhã, os principais executivos da Minerva tentaram aplacar as preocupações dos analistas. Na visão deles, a forte demanda — especialmente nos Estados Unidos — vai compensar o custo mais alto da matéria-prima no médio prazo, preservando bons níveis de margem.
O assunto apareceu logo na primeira pergunta dos analistas. Thiago Duarte, do BTG Pactual, questionou o impacto do boi gordo mais caro sobre a rentabilidade e seus efeitos para o capital de giro.
Na pergunta, o analista lembrou que a Minerva estimava que os frigoríficos adquiridos da Marfrig represariam um acréscimo de R$ 700 milhões a R$ 800 milhões em capital, mas esses números foram estimados há pouco mais de um ano, quando o preço do boi gordo estava mais próximo de R$ 200 por arroba. Agora, o animal é negociado acima de R$ 320 por arroba, de acordo com dados do Cepea.
Em um tom visivelmente contrariado, o diretor financeiro da Minerva, Edison Ticle, argumentou que a demanda está aquecida. “A despeito de tudo que a gente tem falado, vocês acreditam no que vocês querem. A gente acha que o mercado lá fora está aquecido com a falta de carne e que isso nos dá espaço para fazer aumento de preços, e com isso pagar o preço mais alto do boi aqui. Mas de que adianta falar isso se ninguém acredita?”, disse.
Fernando Galletti de Queiroz, CEO da Minerva, completou o argumento, citando a melhora do mercado chinês. No curto prazo, no entanto, o empresário reconheceu que há um descasamento, com o preço do boi subindo primeiro e a resposta na carne vindo só depois.
“Nós estamos vendo o mercado internacional. Na China, o dianteiro saiu de US$ 4,5 mil por tonelada para US$ 5,4 mil essa semana. Então, isso começa a mostrar os indicativos. O cenário como um todo é superpositivo”, disse.
Como estão as margens
No curto prazo, os dados efetivamente mostram uma margem menor nas indústrias, mas ainda assim muito boa para o histórico dos frigoríficos brasileiros.
Levantamento da consultoria Agrifatto mostra que o spread (um indicador de margem bruta que considera a diferença entre o preço do boi gordo e da carcaça) ficou negativo em 0,64% em outubro, contra margens que estavam positivas em quase 4% poucos meses atrás.
O spread de outubro, no entanto, está longe de ser um problema. Historicamente, esse indicador costuma ficar negativo em 4% — os frigoríficos acabam compondo a margem desossando a carcaça e comercializando subprodutos (couro, sebo, entre outros).
Na Minerva, a margem Ebitda do terceiro trimestre já veio um pouco abaixo do que alguns analistas estimavam. A companhia bateu recorde de Ebitda em termos absolutos, fazendo R$ 813 milhões, mas a margem Ebitda caiu 0,5 ponto na comparação anual (9,6%).
“Pensávamos que o terceiro trimestre representaria o pico nas margens, mas é provável que isso tenha ocorrido no segundo trimestre já que a margem bruta diminuiu 80 pontos, potencialmente impulsionada pelo aumento dos preços do gado no Brasil”, escreveu Leonardo Alencar, analista da XP Investimentos.
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Na bolsa, as ações da Minerva Foods sofrem forte queda nesta quinta-feira, acompanhando o comportamento da concorrência.
Às 15h50, os papéis da Minerva caíram 4,7% enquanto Marfrig recuava 4,3% e BRF, 5,6%. A JBS, bem mais diversificada globalmente, sofre menos, com queda de 2,9%.
Para um analista, a disparada do preço do boi gordo já pode estar provocando essa resposta nas ações. “Os spreads de outubro vieram ruins. O boi deu uma explodida sem precedentes. Então, as margens parecem piores”, disse.
A Minerva está avaliada em R$ 3,5 bilhões. Em um ano, os papéis caem quase 30%.