A família Logemann pode se gabar de um feito no mercado de capitais. Tida por muitos como a maior produtora de grãos do país, a SLC é a única companhia agrícola a fazer parte do Ibovespa, um sinal de que oferece liquidez suficiente para investidores institucionais.
Antes, uma explicação. É verdade que o agronegócio nacional possui representantes de peso listados na bolsa (JBS, Raízen e Marfrig estão entre as cinco maiores empresas do país, em faturamento), mas são ativos que fazem grande parte das receitas depois da porteira — processando matérias-primas agrícolas como boi, frango, porco e cana-de-açúcar.
A SLC é um player que atua majoritariamente dentro da porteira, oferecendo uma oportunidade rara para quem quer se expor ao mercado de grãos, um dos setores mais resilientes da economia brasileira.
É um negócio de porte, com receita da ordem de R$ 10 bilhões por ano e R$ 9,5 bilhões de valor de mercado. A participação da SLC na carteira teórica do Ibovespa (0,25%) supera marcas conhecidas do público como Petz (0,11%) e Pão de Açúcar (0,12%) e mesmo negócios como Raízen (0,15%), Marfrig (0,11%) e Minerva (0,17%).
Nos últimos anos, a estratégia asset light da gestão liderada por Aurélio Pavinato ajudou a SLC a mudar de nível. Ao concentrar a expansão arrendando terras já maduras (portanto, com melhor produtividade) ao invés de fazendas próprias, a companhia melhorou o retorno sobre o capital investido.
Recentemente, o BTG Pactual sustentou que a rentabilidade da SLC mudou de patamar, com o Ebitda por hectare ficando acima de US$ 700 mesmo ainda trabalhando com custos de produção (fertilizantes, sobretudo) mais altos, como mostra o gráfico acima.
Num relatório divulgado há um mês, o BTG recomendou a compra dos papéis, com um preço-alvo de R$ 70, o que implica um potencial de valorização de 55%. Nos cálculos da casa, o negócio controlado pela família Logemann é negociado a múltiplos bastante atrativos, perto de 5 vezes (EV/Ebitda), abaixo da média histórica de 7 vezes.
Mas nem todo mundo parece concordar com a visão positiva. Claro que o mau-humor generalizado com a Selic alta e a tensão entre governo Lula e Banco Central pesa — tirando apetite da renda variável —, mas as ações da SLC estão sofrendo mais do que o Ibovespa neste mês de março.
No mês, os papéis da SLC perderam 8,6%, reagindo ao efeito da crise bancária global sobre os preços das commodities e, na últimas semanas, aos sinais mais fortes de que o El Niño deve se estabelecer a partir de junho. O fenômeno climático costuma aumentar as chuvas nas áreas produtoras de grãos da América do Sul, o que tende a ampliar a oferta da safra 2023/24.
Leandro Fontanesi, analista do Bradesco BBI, já trabalhava com um cenário baixista para os grãos nos próximos dois anos, recomendando a venda do papéis. “Historicamente, o preço das ações da empresa tem sido negociado em linha com o preço da soja e algodão”, escreveu num relatório publicado ontem. Com o El Niño, mais um fator de pressão se instalaria.
A administração da SLC vê a situação de forma distinta. Pavinato lembra que a aversão global ao risco pesou, mas a companhia não vê a demanda por algodão enfraquecendo.
“A demanda por algodão está voltando, na verdade. O nível de ocupação indústria de fiação da China estava em torno de 40%, mas voltou um nível normal nos últimos dois meses, de 60% a 65%. A demanda por roupas no varejo dos EUA também está firme”, disse o CEO da SLC à The Agribiz.
Pavinato também argumentou que os estoques globais de soja e algodão continuam baixos, o que impede que os preços cedam muito — ainda que alguma queda seja esperada com o aumento da oferta que parece contratado.
No relatório mensal, por exemplo, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos estimou que o estoque global de soja no fim da safra 2022/23 será apenas 1 milhão de toneladas (1%) superior ao ciclo anterior. A relação estoque/consumo segue abaixo dos níveis de 2019.
Também não se pode perder de vista que as margens dos produtores de grãos tendem a melhorar na safra 2023/24 — que no Brasil começa a ser plantada em setembro —, se beneficiando da queda dos preços dos insumos, observaram os analistas do BTG.
Depois de disparar 20%, os preços dos insumos estão recuando. A relação entre NPK (os principais fertilizantes) e o preço da soja já voltou à média histórica. “Vai ter um queda de custos e vamos conseguir manter margens adequadas”, concorda Pavinato.