Frigoríficos

O inferno astral da Minerva: BTG retira recomendação de compra

Só uma redução do endividamento pode recuperar as ações da Minerva; Desde a aquisição dos ativos da Marfrig, papéis caíram mais de 40%

O ciclo da pecuária prometia ser exuberante para os frigoríficos brasileiros — e particularmente para a Minerva Foods, a companhia listada mais exposta à América do Sul. A compra dos ativos da Marfrig, no entanto, nublou tudo, jogando a companhia dos Vilela de Queiroz em um inferno astral.

Em um relatório enviado a clientes nesta segunda-feira, o BTG Pactual retirou a recomendação de compra das ações da Minerva, suspendendo um rating que perdurava por mais de dois anos.

Ao revisarem a recomendação, os analistas Thiago Duarte e Henrique Brustolin mostraram que a aquisição dos ativos da Marfrig — um M&A de R$ 7,5 bilhões que enfrenta dificuldades para ser aprovado pelos órgãos antitruste — mudou a história das ações da Minerva (para pior).

Carne de qualidade da Minerva

Entre os investidores, a percepção negativa com o M&A vem castigando as ações. Desde que anunciou a compra, a Minerva viu as ações caírem mais de 40%. Nesta segunda-feira, os papéis caem mais de 4%, com a companhia avaliada em R$ 3,6 bilhões.

Antes do anúncio da aquisição, a Minerva caminhava para se tornar uma história de pagamentos constantes de dividendos ao mesmo tempo em que reduzia o endividamento, lembraram os analistas do BTG.

Com o M&A, o índice de alavancagem vai aumentar justamente quando o ciclo da pecuária tende a se inverter, reduzindo a oferta de boi gordo e apertando as margens dos frigoríficos brasileiros.

Há luz no fim do túnel?

Se quiser mudar a trajetória, a Minerva terá de conduzir uma integração impecável dos ativos da Marfrig, permitindo uma redução do endividamento da companhia dos Vilela de Queiroz.

Pelos cálculos do BTG Pactual, a dívida líquida da Minerva deve chegar a R$ 15,3 bilhões após a conclusão da aquisição — o que deve ocorrer, provavelmente, no fim do ano. Com um valor de mercado de apenas R$ 3,6 bilhões, isso significa dizer que 80% do valor de firma (EV, sigla para enterprise value) da companhia estará nas dívidas.

Com isso, o múltiplo EV/Ebitda pelo qual as ações da Minerva negociam subiria das atuais 3,7 vezes para 5 vezes após a aquisição, mas bem em linha com o histórico. Sendo assim, as ações dependem da redução do endividamento para reagir.

A possibilidade existe, e os analistas do BTG confiam que a Minerva ainda tem mais chances de sucesso do que de fracasso. Ainda assim, os riscos ficaram muito altos, alertaram os analistas. Hoje, a Minerva é aposta “binária” para os investidores. Ou dá muito certo, ou muito errado. Alguém topa o risco?