Celulose

O mega M&A da Suzano assusta os investidores, mas caberia no balanço

Porte da companhia e grau de investimento podem ajudar a levantar o montante necessário para o acordo, diz BTG

A gigante brasileira Suzano sacudiu o mercado nesta terça-feira com as notícias sobre uma possível oferta de US$ 15 bilhões, em dinheiro, para adquirir a americana International Paper, um mega M&A que daria tração ao processo de internacionalização da companhia da família Feffer.

A informação, veiculada inicialmente pela agência Reuters, derrubou as ações da Suzano. Listadas na B3, as ações da companhia brasileira despencaram 12%, tirando R$ 9 bilhões do valor de mercado. A Suzano terminou o dia avaliada a R$ 68 bilhões.

Pelo menos três fatores assustaram investidores: a surpresa da transação em si, a percepção de que o preço a ser pago estaria caro e a falta de sinergias claras, ao menos nesse primeiro momento. 

Em fato relevante, a Suzano não fechou as portas para uma oferta. A companhia afirmou que “está permanentemente analisando oportunidades de mercado e investimentos alinhados com a sua estratégia”, mas que, até o momento, não há nenhum documento formal.

“O mercado vai precisar de tempo e de uma cuidadosa explicação a respeito dos méritos da transação. Nós não ficaríamos surpresos em ver as ações negociando com um desconto significativo até que isso aconteça”, escreveu a equipe de analistas do BTG Pactual, formada por Leonardo Correa e Caio Greiner.

O ponto de partida para entender a reação do mercado é, primeiro, a reversão na tese relacionada à companhia brasileira de papel e celulose. Até aqui, a desalavancagem (reforçada pela entrada em operação do Projeto Cerrado) ditava o rumo.

Com as notícias desta terça-feira, os investidores passaram a olhar para a alocação de capital da Suzano como um ponto de interrogação.

Oferta ainda maior?

Para emplacar o M&A, a Suzano terá de atropelar uma transação já em andamento. Neste momento, a International Paper está no meio de um processo de aquisição da DS Smith, um deal de US$ 7,2 bilhões anunciado no mês passado. A oferta da Suzano estria condicionada ao cancelamento esse acordo, ainda segundo reportagens divulgadas ao longo do dia.

Para os analistas do BTG, não é impossível que a Suzano aumente a oferta pela Internacional Paper, até porque essa primeira abordagem de US$ 15 bilhões tende a ser recusada pelos americanos, de acordo com a Reuters.

Essa possibilidade só aumenta os temores dos investidores. Na oferta de US$ 15 bilhões, a Suzano já pagaria um prêmio de controle e avaliaria a International Paper com uma oferta de mais de 10% de seu valor de mercado.

Pelos cálculos dos analistas do BTG, a transação com a IP embute um múltiplo de 7 a 8 vezes Ebitda para a empresa estrangeira. É um valuation bastante superior ao da própria Suzano, hoje negociada a 5 vezes Ebitda, o que reforçou as impressões de um M&A caro.

Cabe no balanço

Apesar do preço salgado, os analistas acreditam que a Suzano tem espaço no balanço para conseguir financiar essa aquisição. Com o M&A, a alavancagem da companhia subiria para 4 a 4,5 vezes Ebitda em 2024, ante uma estimativa anterior de 2,9 vezes.

“Para uma empresa de alto calibre e com grau de investimento, nós acreditamos que o negócio é digerível”, escreveram.

A extração de sinergias da aquisição, no entanto, não é tão simples. “Reconhecemos a capacidade de a Suzano conseguir fazer uma alocação de capital eficaz até aqui, mas caso esse movimento seja confirmado, será um passo muito maior e muito mais desafiador”, ponderam os analistas do BTG.

A eventual aquisição da International Paper marcaria o primeiro passo para a internacionalização da companhia, uma lógica muito diferente dos M&As anteriores da Suzano.

Enquanto a compra da operação brasileira da Kimberly Clark e da Fibria tinham claras sinergias operacionais, esse é um movimento que parte de um racional de diversificação geográfica e de produtos (trazendo uma ênfase maior para a celulose de fibra longa).

Essa não é a primeira tentativa de internacionalização da Suzano. No ano passado, a companhia admitiu um contato com a chinesa Vinda International, fabricante de papel higiênico que foi vendida em março para um grupo asiático.