As ações de BRF e JBS, duas das maiores produtoras de carne do mundo, subiram após os resultados do segundo trimestre sinalizarem que o pior pode ter ficado para trás.
A BRF foi um dos destaques de alta da bolsa, com as ações subindo quase 7%. A dona da Sadia apresentou melhora na performance operacional e traçou perspectivas positivas, com a entrada dos recursos do follow-on abrindo caminho para reduzir as despesas financeiras — principal causa para o prejuízo bilionário no período.
“A BRF entregou um bom trimestre em comparação com as expectativas”, escreveu o analista Thiago Duarte, do BTG Pactual, em relatório. Ele destacou a redução de custos — que segundo a BRF deve-se quase integralmente aos resultados de seu plano de eficiência—, aumento na margem bruta.
Do lado negativo, o analista lembrou da persistente queima de caixa (quase R$ 600 milhões no segundo trimestre). “A BRF ainda tem um caminho a percorrer antes de chegar aos dias de margens superiores a 20%, mas gostamos do que vimos”, disse Duarte.
Os analistas Leonardo Alencar e Pedro Fonseca, da XP, chamaram os resultados da BRF de “nostálgica surpresa positiva”. “Com o risco de gripe aviária praticamente eliminado, vemos espaço para otimismo com as perspectivas da BRF, auxiliadas pelo follon-on e melhora no capital de giro”, a dupla afirmou em nota.
Troca de dívida
Com a entrada dos R$ 5,4 bilhões captados em julho, a BRF parte agora para um liability management para reduzir suas despesas financeiras, que ultrapassaram R$ 1 bilhão no segundo trimestre.
A empresa vai priorizar troca de dívida no mercado de capitais, começando pela recompra de bonds, segundo o CFO Fábio Mariano. Há potencial para redução das despesas financeiras entre R$ 550 milhões e R$ 700 milhões, disse.
O plano de eficiência operacional também segue no segundo semestre, com esforços mais concentrados em redução de estoques no mercado internacional para liberar mais capital de giro, de acordo com Mariano. Ele também sinalizou que a BRF pode divulgar em breve novidades sobre o seu plano de desinvestimento, o que inclui a venda da unidade de pet food.
“Estamos com uma expectativa de converter as propostas não vinculantes em vinculantes”, disse. “Acreditamos que não vamos demorar para termos novidades.”
JBS arruma a casa
Na JBS, os sinais também foram positivos. Leandro Fontanesi, do Bradesco BBI, destacou a recuperação das margens das principais divisões da companhia. “Esperamos que as margens da JBS se recuperem totalmente até 2025”, disse.
Nos cálculos do analista, as ações da empresa dos Batista estão baratas, negociando com um desconto sobre o histórico. Atualmente, o papel negocia a um múltiplo (EV/Ebitda) de 5 vezes o resultado esperado para 2024 e 4,2 vezes para 2025. Na média histórica, a companhia negocia a 5,5 vezes.
“O trimestre ainda foi fraco, mas os resultados foram melhores do que o temido e mostram que o pior já ficou para trás”, corroborou Duarte, do BTG, em relatório sobre o balanço da JBS. O analista reiterou a recomendação de compra para o papel da companhia.
No primeiro trimestre, a JBS havia reportado o primeiro prejuízo trimestral em três anos, com margens em recorde de baixa. O ambiente desafiador para os produtores globais de proteínas, como alta de custos e excesso de oferta em alguns mercados, pressionou os números no início do ano, mas o balanço do segundo trimestre mostrou uma melhora em quase todos os segmentos.
Com o cenário mais adverso, a JBS também está se dedicando a melhorias que precisam ser feitas dentro de casa. Na operação de carne bovina nos EUA, principal negócio da empresa, já houve ganhos nas áreas comercial e industrial, mas os resultados vão ficar mais evidentes ao longo dos próximos trimestres.
“Acredito que tem mais uns dois pontos percentuais de margem que podemos capturar”, Wesley Batista Filho, CEO da JBS USA, disse em call com analistas. Essa recomposição interna de margens será fundamental para evitar que o negócio perca dinheiro à medida em que a oferta de gado nos EUA fique ainda mais restrita.
“Os spreads na operação de beef nos EUA devem seguir pressionados, a não ser que a indústria reduza capacidade”, afirmou Ricardo Boiati, analista do Safra. As margens no negócio devem ficar em “low single digit” neste e no próximo ano, quando o ciclo de gado nos EUA passará por seu momento mais desafiador, segundo Wesley Filho.
Na Seara, a JBS também está buscando ganhar eficiência na operação de frango, o que poderia ter um impacto positivo de 3% a 4% na margem Ebitda da unidade de negócios nos próximos trimestres, segundo o CEO Gilberto Tomazoni.