Safra 2024/25

O preço é ruim, mas clima e dólar garantem a próxima lavoura da BrasilAgro

Sinalização de margens melhores foi bem recebida pelos investidores da companhia de terras agrícolas

Plantio de soja; BrasilAgro sinaliza margens melhores na próxima safra | Crédito: Schutterstock

Depois de uma safra de margens tíbias e clima hostil, a BrasilAgro vislumbra uma recuperação da rentabilidade na temporada 2024/25 — o plantio de soja deve começar nas próximas semanas, a depender das chuvas.

A sinalização de margens melhores foi bem recebida pelos investidores. As ações da BrasilAgro subiam mais de 3,5% nesta quarta-feira, anulando a queda que os papéis acumulavam ao longo do ano. Listada na B3, a BrasilAgro está avaliada em R$ 2,5 bilhões. Em 2024, AGRO3 sobe 1,6%.

Num relatório enviado a clientes, o BTG Pactual argumentou que as projeções da BrasilAgro para a safra 2024/25 foram positivas, abrindo o caminho para alguma dose de otimismo com os resultados de curto prazo.

“Em soja e cana, nossas duas principais culturas, esperamos uma recuperação de margens”, disse Gustavo Lopez, diretor financeiro da BrasilAgro, em entrevista a jornalistas.

Com o clima menos hostil do que o ano passado, quando o El Niño castigou áreas de Mato Grosso e Goiás, a produtividade das principais culturas agrícolas vai melhorar. Nas projeções da BrasilAgro, a melhora de produtividade de soja, milho e algodão deve aumentar 15%, 27% e 41%, respectivamente.

Os custos de produção mais baixos, especialmente com fertilizantes, também ajudam. A BrasilAgro trabalha com a expectativa de uma redução de custos de 10% no cultivo de soja e de 26% na safra de milho.

“Combinada à recuperação da produtividade, isso pode levar a uma substancial redução do custo unitário de produção, o que é crucial para as margens agrícolas melhorarem uma vez que os preços das commodities estão mais baixos”, escreveram Thiago Duarte, Guilherme Guttilla e Pedro Soares, do BTG Pactual.

O crescimento da área plantada da BrasilAgro também conta a favor. Ao todo, a BrasilAgro projeta aumentar a área cultivada em 4%, chegando a 179 mil hectares.

“A área de algodão vai praticamente dobrar em um ano, o que deve criar valor para as margens agrícolas da companhia”, ressaltaram os analisas da XP Investimentos Leonardo Alencar, Pedro Fonseca e Samuel Issak.

Prêmio e dólar a favor

A melhora de resultados esperada pela BrasilAgro não vem apenas da combinação entre clima favorável e custos mais baixos. A companhia também vem se aproveitando da valorização do dólar para fazer hedge, garantindo uma receita maior em reais. Até junho, a BrasilAgro travou 53% da receita em dólar, com um câmbio médio de R$ 5,44.

A venda futura de soja, no entanto, ainda está baixa — apenas 17% da safra já foi travada. Em contrapartida, o preço médio fechado foi vantajoso até aqui: US$ 12,48 por bushel. Na bolsa de Chicago, os contratos mais negociados estão na casa de US$ 10,05 por bushel.

A jornalistas, o CEO da BrasilAgro, André Guillaumon, admitiu que ainda há muita soja para travar. Apesar disso, companhia ainda pode chegar a 27% da soja travada nesse nível de preços usando os acumuladores (um contrato de derivativos). Para o restante da produção de soja, o trunfo é o câmbio e os prêmios no porto mais atrativos.

“O que estamos vendo? A US$ 10 por bushel, ninguém está vendendo. O que estamos entendendo é o que o mercado está disposto a comprar soja de US$ 11 por bushel”, avaliou Guillaumon.

Nesse cenário, os preços devem ajudar. Ao contrário do que ocorreu em 2023, quando o prêmio foi negativo em boa parte do ano, os prêmios tiveram uma forte recuperação neste ano, chegando a US$ 1 por bushel.

“Quando fizemos o orçamento da safra 2024/25, projetamos o prêmio em US$ 0,30 negativos com a leitura de ampla oferta de soja. Hoje, tem negócio para travar o prêmio em US$ 0,40 positivos. Só aí são US$ 0,70 por bushel a mais”, resumiu o CEO da BrasilAgro.

A melhora do prêmio, aliás, também mostrou que a BrasilAgro acertou ao segurar as vendas da soja colhida na safra passada (2023/24).

Em 30 de junho, na virada da safra, a companhia ainda tinha o equivalente a 36% da colheita de soja não vendida. “Estamos carregando umas 75 mil toneladas”. Para se ter uma ideia da magnitude, no ano passado a safra virou com apenas 14% da produção não comercializada.

Para conseguir dar conta desse carrego, a BrasilAgro fez investimentos em armazenagem no Piauí, um projeto de porte relevante que chegou a turbinar os resultados da fabricante de silos Kepler Weber.