Revendas

O primeiro golaço da Agrogalaxy. O que diz o CFO

Há menos de dois meses à frente da diretoria financeira da rede controlada pela Aqua Capital, Eron Martins comemora alongamento de dívidas e vê boa folga para cumprir covenants

Atravessar a arrebentação no mercado de capitais não é uma tarefa trivial. Se você for um CFO de uma companhia listada, então, até notícia boa pode gerar ruído negativo. Que o diga Eron Martins, o executivo que assumiu a diretoria financeira e de relações com investidores da Agrogalaxy há menos de dois meses.

Na noite de ontem, assim que Martins comunicou ao mercado sobre o acordo para o alongamento das dívidas com os três principais bancos credores, uma enxurrada de mensagens passou a circular por grupos de WhatsApp dando uma medida da incompreensão.

“Só faltou combinar com os credores…”, escreveu uma pessoa em um grupo. “E se não concordarem? Qual o plano B?”, emendou outra. A celeuma foi tamanha que até um membro do conselho de administração interveio.

Nas reações afoitas, muitos perderam de vista o principal: o acordo com os bancos já estava sacramentado. O comunicado enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) só oficializava a aprovação do conselho de administração da Agrogalaxy para assinar o acordo.

“Teve os que leram sem entender bem, mas os bancos leram de maneira muito positiva”, disse o diretor financeiro da Agrogalaxy, em entrevista concedida ao The Agribiz na tarde desta quinta-feira.

Na bolsa, as ações da Agrogalaxy ainda apanharam no pregão de hoje. Os papéis caíram 3,61%, enquanto o Ibovespa subiu 1,23%. A rede de revendas está avaliada em R$ 670 milhões.

Para um banqueiro, a reação negativa não faz sentido. “Se estivesse quebrando, não iríamos rolar a dívida”.

Os termos do acordo

Na prática, a Agrogalaxy conseguiu tirar da frente a maior parte dos passivos bancários que venciam no curto prazo. O acordo costurado com Banco do Brasil, Citi e Santander — os três maiores credores — alongou R$ 839 milhões.

A maior parte do montante alongado vencerá em três anos, disse Martins. Além disso, os bancos concederam uma “carência importante” para a companhia. Sem detalhar o prazo específico, o executivo da Agrogalaxy disse que a carência concedida na negociação vai evitar que o grupo precise voltar a renegociar essas dívidas.

“Não estou prorrogando para daqui a x meses estar com [um pagamento para fazer]”, disse. Segundo ele, os pagamentos dos juros das dívidas renegociadas foram muito “bem desenhados”, casando o prazo de recebimento com o fluxo da safra.

A considerar a reação positiva dos bancos, o alongamento das dívidas pode ter um resultado ainda melhor. Segundo Martins, a sinalização emitida ontem por BB, Citi e Santander já fez com que outros bancos procurassem a Agrogalaxy para também fazer algum tipo de alongamento. “Não estranharia se tiver mais alguém subindo na estrutura. Teve muito banco tentando embarcar [no acordo]”, revelou, sem abrir os nomes.

Aos poucos, espera-se que o mercado perceba a relevância do acordo costurado pela Agrogalaxy. “É um acordo com três bancos de primeira linha. Um voto de confiança desses bancos”, disse.

A companhia também vem tentando fazer a lição de casa, comunicando as medidas para mais interlocutores. “Falei com os fornecedores nossos e com o time interno. Todo mundo ficou bastante surpreso”.

Um golaço da Agrogalaxy

Desde que deixou a Nadir para assumir a diretoria da Agrogalaxy, no início de agosto, Martins vem trabalhando para melhorar a estrutura de capital da companhia.

Para ele, a renegociação com os bancos foi sua maior conquista até aqui. “Basta olhar o bom humor do CFO. Significa que fizemos um trabalho interessante. Em um mês e pouco, é o primeiro golaço”, resumiu.

“Poder fazer esse alongamento de prazo é o que chamamos de cereja do bolo”, repetiu, citando as condições de mercado desafiadores.

No agro, lembrou, este é um ano de ajustes por causa dos estoques abarrotados de insumos no primeiro semestre e da queda nos preços dos grãos. No ambiente macro, há crédito mais apertado para quem é do varejo e uma Selic ainda alta.

Pagamentos da safrinha

Na operação, a rede de revendas controlada pela Aqua Capital vem atuando com “vigilância contínua do caixa” e controle dos custos, assegurou o executivo.

Segundo ele, a Agrogalaxy também aprendeu com a crise de vencimentos e do aumento da inadimplência durante a safra de soja e se preparou melhor para este ciclo de pagamentos da safrinha de milho, que vai até outubro.

Agora, a companhia aumentou a parte que recebe diretamente em grãos (via barter). “Isso mitiga o risco do produtor receber o dinheiro [da trading] e dar outra destinação [que não o pagamento à revenda]”, explica.

A ideia é que, do volume total de vendas da Agrogalaxy, mais de 25% sejam recebidos na forma de grãos.

Covenants confortáveis

Diante da evolução da safrinha, a Agrogalaxy também está em posição confortável para cumprir os covenants contratuais, que exigem que a companhia tenha um índice de alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda) de no máximo 3 vezes em 31 de dezembro.

“Vamos trabalhar com uma margem de folga no fim de dezembro”, projetou, sinalizando uma melhora sobre o retrato do junho, quando a alavancagem marcou 3,3 vezes.

Em junho, a dívida bruta da Agrogalaxy somava cerca de R$ 3 bilhões. Desse total, dois terços estavam com bancos e o restante no mercado de capitais (basicamente, CRAs). Em caixa, havia R$ 1,4 bilhão.

O passivo com fornecedores, que também foi em sua boa parte equacionado, somava R$ 3,8 bilhões. “Tem um outro fornecedor que ainda está negociando, mas é muito mais por uma questão comercial”, disse Martins.

No auge da crise, as revendas Brasil afora (e não apenas a Agrogalaxy) tiveram de devolver parte dos insumos porque os estoques estavam muito grandes.