
A severa crise financeira da fabricante chinesa de papel e celulose Chenming está criando um sweet spot, ou um cenário favorável, de preços que pode ser aproveitado pela Suzano. Nas contas da empresa brasileira, a cada mês desativada, a fábrica chinesa deixa uma demanda de 200 mil toneladas de celulose desassistida — num mercado que movimenta cerca de 3,2 milhões de toneladas por mês.
Sem perspectivas de uma retomada em curto prazo, a restrição de oferta vem impulsionando os preços da celulose desde o início do ano, numa retomada após o ciclo de baixa de 2024. E os fornecedores vêm pressionando para mais reajustes.
De acordo com dados da Fastmarkets, publicação especializada no setor, o preço da fibra curta (BHK) deve subir US$ 20 por tonelada em março, depois de aumentos sucessivos em janeiro e em fevereiro. Hoje, a commodity é vendida entre US$ 580 a US$ 590 por tonelada, ante um intervalo de US$ 540 a US$ 550 por tonelada no fim do ano passado.
A Suzano já fez dois reajustes de preço no ano e, por enquanto, já tem vendas acima das expectativas em regiões como o Oriente Médio, Ásia e África.
“Demandas adicionais não programadas trazem desafios para toda a indústria. Por enquanto, ainda não tivemos problemas de logística para abastecer a demanda adicional que estamos vendo na ponta agora”, disse Beto Abreu, presidente da Suzano, a jornalistas.
A companhia, no entanto, ainda não tem clareza de quanto dessa demanda adicional pode engordar os resultados da Suzano. “Não tem como prever. Se o mercado resolver recompor os estoques da China, que hoje estão abaixo do histórico, a demanda será maior”, afirmou.
A empresa sinalizou que tem uma série de manutenções programadas neste início de ano em meio a uma robusta carteira de pedidos — e essas paradas também podem mexer com as dinâmicas de oferta do setor.
Com a ausência da Chenming, além de vender celulose para a China, a Suzano também é beneficiada pelo aumento de demanda de papeleiras não integradas — que compram a celulose da Suzano para fabricar papel. “A Suzano tem um papel relevante para atender a essa demanda, com praticamente 30% do mercado de fibra curta”, sinalizou Abreu.
Caixa robusto
O impulso dos preços mais altos da celulose vai ajudar a engordar uma geração de caixa já bastante robusta depois da conclusão do Projeto Cerrado, a maior fábrica de celulose do mundo localizada em Mato Grosso do Sul.
No quarto trimestre de 2024, a companhia gerou R$ 16,2 bilhões em caixa operacional (ante R$ 11,6 bilhões no mesmo período de 2023), com um custo, excluindo paradas, de R$ 828 por tonelada (ante R$ 882 por tonelada no ano passado).
A alavancagem da empresa em dólar está em 2,9 vezes (ante 3,1 vezes no quarto trimestre de 2023). A jornalistas, Marcos Assumpção, vice-presidente executivo de financeiro e relações com investidores da Suzano, sinalizou que a empresa ainda não vê atratividade para acessar o mercado americano de bonds — e que continua com as portas abertas no mercado chinês, onde foi a primeira companhia brasileira a emitir dívida.
“Já estamos fora do mercado de bonds tradicional há mais de três anos, refletindo os desafios do ambiente mais desafiador e de juros mais altos. Nos Estados Unidos, a taxa de juros de 10 anos chegou a 3,60%, o que, somando o spread da Suzano abaixo de 2%, somaria uma emissão de 5,50% em dólar. Hoje, as treasuries estão sendo negociadas a 4,5%, o que não nos traz uma taxa atrativa”, explicou o executivo.