Revendas

O tombo de 49% nas vendas da Agrogalaxy; Prejuízo beira R$ 1,6 bi

Se tudo ocorrer como prevê o plano de recuperação, a Agrogalaxy voltaria em 2026, quando a receita poderia alcançar R$ 3,3 bi

sOJA

A Agrogalaxy começou a mostrar os reflexos da recuperação judicial. Ao divulgar o primeiro balanço trimestral após o pedido de proteção contra os credores, a rede de revendas controlada pelo Aqua Capital mostrou uma diminuição de quase 50% nas vendas.

No terceiro trimestre do ano passado, a receita líquida da Agrogalaxy atingiu R$ 1,2 bilhão, queda de 48,6% na comparação anual. Quando se considera apenas as vendas de insumos agrícolas — excluindo os negócios com grãos —, a redução é de 43,8% (chegando a R$ 733 milhões).

Os resultados de julho a setembro, vale lembrar, ainda não incorporam todos os efeitos do pedido recuperação judicial sobre o faturamento. Desde a RJ, em 18 de setembro, o crédito da companhia secou e praticamente inviabilizou as vendas a prazo às vésperas do plantio da safra de soja.

Uma panorama mais completo sobre o ritmo das vendas só será conhecido quando a Agrogalaxy divulgar os resultados anuais, o que vai incorporar a secura do crédito do quarto trimestre e o encolhimento da companhia, que fechou 76 lojas e demitiu mais de 500 pessoas em meados de outubro.

Em entrevista ao The AgriBiz, o CEO da Agrogalaxy, Eron Martins, reconheceu que o tamanho da companhia diminuiu, mas argumentou que há um lado positivo nesse processo, enxugando a companhia para uma retomada sustentável mais adiante, especialmente com as perspectivas promissoras de aprovação do plano de recuperação judicial até abril.

 “Há, sim, uma redução de volume de vendas. Diminuímos metade das lojas e do time, adaptamos a estrutura, mas está dentro do programado na versão do nosso plano de recuperação”, disse Martins.

Neste ano, a Agrogalaxy espera fazer uma receita líquida da ordem de R$ 2 bilhões, uma fração de um negócio que já faturou mais de R$ 5 bilhões por ano com insumos agrícolas.

Se tudo ocorrer como o esperado, a rede de revendas voltaria a crescer a partir de 2026, quando a receita líquida poderia alcançar R$ 3,3 bilhões. Para chegar a essa cifra, a companhia conta com a retomada do acesso ao crédito com fornecedores e instituições financeiras.

O prejuízo bilionário

Enquanto a retomada operacional ainda vai levar tempo, o balanço da Agrogalaxy já mostra efeitos contábeis da recuperação judicial, traduzidos em um prejuízo bilionário — vale lembrar que boa parte não tem efeito sobre o caixa, o que é um alívio.

No terceiro trimestre, a rede de revendas amargou um prejuízo líquido de R$ 1,6 bilhão. Desse total, mais de R$ 200 milhões estão relacionados a efeitos como a baixa de ativos tributários — prejuízos acumulados que poderiam ser utilizados no futuro para compensar o pagamento de impostos.

“Não perdemos esses ativos diferidos de impostos. Ainda está no balanço, mas sou obrigado a baixar até que se aprove o plano de recuperação”, explicou Luiz Conrado, diretor financeiro da Agrogalaxy.

A contabilidade no vermelho também esconde o efeito positivo de uma estratégia da Agrogalaxy para reforçar a liquidez, injetando pelo menos R$ 100 milhões no caixa ainda no curto prazo.

Neste momento, a Agrogalaxy está em fase final de negociação com fundos de investimentos que comprarão a carteira de créditos de inadimplidos — produtores com atrasos superiores a 120 dias.

Esses créditos de perfil distressed têm um valor de face de R$ 1,1 bilhão, disse Conrado. Nessas transações, os fundos compram o montante por uma fração do valor de face, apostando em um retorno substancial conforme recuperem (ainda que parcialmente) os créditos.

Contabilmente, a venda com desconto dessa carteira de recebíveis é negativa no balanço, o que ajuda a explicar o prejuízo bilionário. Somada à baixa de impostos a recuperar em regiões onde a Agrogalaxy fechou lojas, o impacto passa de R$ 700 milhões.

Mas a parte boa é que, neste caso, o efeito para o caixa é amplamente positivo para a companhia. “A venda da carteira traz uma liquidez bastante relevante”, ressaltou o diretor financeiro da Agrogalaxy.

O Ebitda das multas

Na entrevista, Martins frisou por diversas vezes que os resultados negativos precisam ser lidos com o devido contexto. “Um desavisado pode se assustar quando olhar o número, mas é importante ter em mente que quase a totalidade do impacto não afeta o caixa”.

Mesmo o Ebitda, que veio negativo em R$ 1,2 bilhão, não deveria preocupar, argumentou o CEO da Agrogalaxy. “Isso não compromete o plano de recuperação”, assegurou. Principalmente porque parte relevante do Ebitda negativo também reflete um efeito que não mexe no caixa da companhia.

Neste caso, o resultado ficou pior em mais de R$ 200 milhões por causa das multas e penalidades de contratos de take or pay com fornecedores de insumos agrícolas.

Como esses contratos não foram honrados em razão da recuperação judicial, a companhia precisou reconhecer as multas na demonstração de resultados, mas não desembolsa esses valores porque essa dívida passa a figurar entre os créditos sujeitos à recuperação judicial.

Na prática, multas e penalidades serão pagos ao longo de muitos anos, e com descontos: dez anos se for um fornecedor parceiro — o que implica um deságio implícito —, ou 13 anos se for um fornecedor não parceiro, com deságio explícito de 85%.