Com a produtividade da soja altamente impactada pela seca em Mato Grosso e baixos preços dos grãos, a SLC registrou prejuízo de R$ 154 milhões no quarto trimestre — o primeiro para o período em dez anos. Mas a empresa está pronta para tirar proveito da situação.
“O cenário é de margens mais comprimidas, mas, ao mesmo tempo, é de oportunidades”, disse o CEO Aurélio Pavinato ao ser questionado por um analista, durante call de resultados nesta quinta-feira, sobre a possibilidade de expansão de área diante de preços mais baixos no mercado de terras, tanto para compras como arrendamentos.
“Com certeza em 2024 teremos mais oportunidades para expansão do que tivemos em 2023. Estar com alavancagem baixa é ter condições de tomar vantagem das oportunidades que estão aí e das que ainda vão aparecer”, acrescentou o CEO da SLC, que encerrou o ano com uma dívida líquida equivalente a 1 vez o Ebitda. “No momento certo, vamos comunicar ao mercado”.
Em um relatório divulgado a clientes, os analistas Thiago Duarte e Henrique Brustolin, do BTG Pactual, já haviam indicado a curiosidade dos analistas com o potencial de expansão de área da SLC na próxima safra. “Dado o cenário difícil enfrentado por vários agricultores neste ano, acreditamos que há novas oportunidades de fazendas para a SLC negociar, arrendar e operar”.
Embora não tenha detalhado as localidades em que avalia expansão, Pavinato disse que, com os efeitos cada vez mais intensos das mudanças climáticas, a motivação para crescer em novas regiões tem aumentado. Ainda assim, a preferência pelo Cerrado parece prevalecer. “É uma das áreas mais estáveis do mundo em termos de clima”, disse.
Algodão é prioridade
Nos 680 mil hectares que tem disponíveis para o plantio, a SLC pretende plantar o máximo de algodão na próxima safra. Das três commodities cultivadas e vendidas pela SLC —soja, milho e algodão—, o cenário de rentabilidade para a pluma é o mais atrativo.
Segundo Pavinato, a demanda internacional pela commodity se fortaleceu na China, Europa e Estados Unidos. Além disso, as perdas na safra norte-americana, que está no menor nível em 14 anos, ajudaram a elevar os preços da commodity em Nova York. Desde o início deste ano, o contrato com vencimento em dezembro subiram 5%.
Mesmo assim, a empresa ainda não fechou nenhuma posição de hedge para a safra 2024/25. “É um custeio que ainda está em formação”, justificou o CFO, Ivo Brum. Além disso, a empresa ainda pode se beneficiar da volatilidade dos preços nas bolsas americanas durante o desenvolvimento da safra nos Estados Unidos, o chamado “weather market”.
Outro fator que pode mexer com os preços é a inversão do padrão climática esperada a partir de agosto, de El Niño para La Niña. “Nos últimos três anos, a La Niña esteve presente impactando de forma agressiva o sul do Brasil e a Argentina, trazendo alta nos preços dos grãos”, disse Pavinato.
O modelo norte-americano de previsões climáticas aponta para o segundo semestre 74% de probabilidade de La Ninã, fenômeno que normalmente é favorável à produção agrícola no Cerrado, onde estão localizadas as fazendas da SLC.
Falta de navios
Se o clima resultou em perdas de produtividade de até 50% no caso da soja em algumas fazendas da SLC em Mato Grosso, no caso do algodão o desenvolvimento da safra é muito bom, segundo Pavinato. A produtividade pode, inclusive, bater um novo recorde na SLC.
No algodão, o principal desafio da companhia não é agrícola, mas logístico. A geração de caixa da SLC em 2023 foi impactada por um atraso nos embarques de algodão devido à falta de navios disponíveis para transportar todo o volume contratado. Do total da safra 2022/23, a empresa embarcou 100 mil toneladas, mas carregou mais de 200 mil toneladas para serem exportadas em 2024.
Segundo Pavinato, houve um aumento na disputa por navios devido aos altos volumes de exportação do agro brasileiro no ano passado. A expectativa da empresa é que esse volume saia dos portos brasileiros até o início das exportações da safra seguinte, em agosto. Para o CEO, isso será possível devido aos menores volumes de soja e milho exportados este ano.
Custos em queda
A estimativa da SLC para os custos da safra 2024/25 são de uma redução média de 10% em relação ao orçado na safra anterior. Os preços dos defensivos agrícolas genéricos são os mais baixos da história no mercado internacional, abrindo espaço para reduções adicionais nos valores praticados no Brasil, segundo Pavinato.
No caso dos fertilizantes, a SLC aproveitou a recente queda nos preços dos fosfatados e do potássio para comprar mais de 80% do consumo esperado em 2024/25. Já os nitrogenados, que tiveram uma reação no início deste ano, a SLC comprou apenas 16%.
“Quando olhamos a cesta toda, o preço de hoje ainda está 11% acima da média histórica”, disse Pavinato. Segundo ele, os agricultores continuam pressionando os vendedores por novas baixas.
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Na bolsa, as ações da SLC chegaram a cair 7%, em uma primeira reação aos resultados mais fracos do quarto trimestre. Após a teleconferência, as perdas cessaram, indicando um voto de confiança na gestão da companhia. Por volta das 13h30, as ações subiam 0,3%.
A SLC está avaliada em R$ 8,6 bilhões. Em um ano, os papéis caem 12%.