As ambições de consolidação de Ricardo Faria extrapolaram as fronteiras nacionais, atravessando o Oceano Atlântico. Depois de se tornar um dos líderes do mercado de ovos no Brasil a partir de várias aquisições — atingindo 10% de market share —, o empresário catarinense anunciou nesta semana seu primeiro movimento de internacionalização: a compra do grupo Hevo, vice-líder no mercado espanhol.
A aquisição foi realizada pela Global Egg, holding de Ricardo Faria criada para concentrar os negócios do empresário ao redor do mundo. Para assumir o grupo espanhol, o empresário avaliou a Hevo em 120 milhões de euros (em torno de R$ 735 milhões), incluindo o montante em dinheiro que será pago à gestora Cleon Capital e assunção de dívidas. A ideia de Faria é financiar a aquisição com recursos próprios.
“É uma empresa muito boa, não deu nenhum prejuízo ao longo dos últimos cinco anos. É um ‘happy underperformer’, na nossa classificação, uma empresa boa que está abaixo do seu potencial, algo que encontramos com frequência aqui na Europa”, disse Faria, em entrevista a jornalistas.
Fundada oficialmente no ano passado, a Hevo foi montada pela Cleon Capital, uma firma de investimentos espanhola, a partir da aquisição de quatro marcas tradicionais: Dagu, Ous Roig, Granja Agas e Avícola Larrabe. A Dagu, por exemplo, foi fundada em 1974. A Roig surgiu na mesma década.
Mesmo operando abaixo do potencial, a Hevo já possui um market share de 8% em número de ovos, ficando pouco atrás do líder, a Huevos Guillén, que possui 10% do mercado.
Com a aquisição, Faria quer levar o grupo Hevo à liderança, conquistando 30% do mercado espanhol em cinco anos. Conhecendo o perfil audacioso de Faria, novas aquisições devem estar no radar.
Atualmente, o grupo Hevo fatura cerca de 180 milhões de euros, possuindo 15 granjas que abastecem diferentes regiões da Espanha, como Catalunha, Madri e Valência.
A diversificação, inclusive, foi um ponto que chamou a atenção de Faria para o negócio — trazendo uma operação, de certa forma, similar à diversificação geográfica conquistada pela Granja Faria no Brasil.
O plano de Faria na Europa
Estreitar as semelhanças entre a operação brasileira e a espanhola está nos planos para o crescimento do negócio na Europa, afirmou Faria. Nos próximos 12 meses, os novos donos devem acrescentar 770 mil galinhas soltas ao plantel atual de 3,7 milhões do Grupo Hevo, bem como levar para a operação espanhola um maquinário capaz de automatizar a embalagem dos ovos.
“Temos muita oportunidade de eficiência. A empresa tem capacidade de alojamento de mais de 4 milhões de aves, mas hoje não usa tudo isso. Vamos conseguir fazer um crescimento muito rápido aqui com um gasto muito pequeno. Estimamos crescer 20% só em cima daquilo que já temos”, explicou Faria.
A ideia é seguir o exemplo do que foi feito no Brasil, levando a cultura de uma empresa que atua num mercado com um CDI de dois dígitos para um país cujos juros estão perto de 2% ao ano.
Segundo Ricardo Faria, a Espanha foi escolhida como o mercado para estrear no Velho Continente por ser um mais pulverizado do que outros países da Europa.
Depois da Espanha, Ricardo Faria ainda tem a ambição de conquistar também os mercados da França, Itália e Portugal ao longo dos próximos anos — mas trata-se de um desafio diferente, uma vez que esses mercados são muito mais concentrados.
“Portugal tem dois competidores, um tem 80% do mercado e outro tem 30%. Na Itália, o líder de mercado já tem 40%”, lembrou.
No Brasil, a Granja Faria fez uma receita líquida de R$ 1,8 bilhão e um Ebitda de 646 milhões de reais (margem de 35%). A margem do grupo é maior do que a média das granjas que atuam apenas com ovos comerciais graças à operação de genética, com a qual Faria vende ovos de um dia para a criação de frango de corte.
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Com a criação da Global Egg, o primeiro ativo operacional da holding é a Hevo. Não será surpresa se, no futuro, a operação brasileira de ovos passar a fazer parte da mesma holding, criando um negócio de escala global.