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“Em 40 anos de experiência, nunca vi tanta destruição de produto”. Assim o argentino Marcelo Bulman, chefe da Biogénesis Bagó no Brasil, explica a frustração que a pecuária provocou na indústria veterinária em 2024.
Quando os preços do boi gordo ainda estavam no chão — antes da forte recuperação do fim do ano —, os pecuaristas aceleraram o processo de liquidação do rebanho, enviando mais vacas para o abate. Naquele momento, o apetite para investir em reprodução era pífio.
“O ciclo de baixa pegou forte. Descartaram até novilhas”, disse Bulman, que comanda uma operação que faz cerca de 30% das vendas com produtos para reprodução, incluindo o protocolo hormonal para a IATF — sigla para inseminação artificial em tempo fixo.
O desânimo dos pecuaristas levou a uma queda de 25% no número de vacas que fizeram IATF no Brasil, disse Bulman. “A indústria estava preparada para um mercado que vinha crescendo de forma exponencial”, lamentou o executivo. Com isso, produtos com prazo de validade mais curto foram descartados.
Depois da tempestade, no entanto, os sinais positivos começam a aparecer, especialmente com a recuperação dos preços do gado. Em doze meses, o boi gordo subiu quase 35% em São Paulo — chegando a R$ 328 por arroba, segundo o indicador da Datagro.
“No fim do ano, começamos a ver uma luz no fim do túnel. O bezerro começou a valer e o produtor brasileiro acordou. Acreditamos que 2025 vai ser um ano de recuperação”, animou-se Bulman.
Com isso, a Biogénesis Bagó espera acelerar o ritmo de crescimento. No ano passado, a companhia faturou um “pouco menos” de R$ 300 milhões no País, segundo o executivo.
Ele não abriu detalhes do desempenho, mas disse que o negócio no Brasil cresceu “um pouco mais que a média de mercado”. No mercado de animais de produção, a indústria veterinária cresceu apenas 3% no ano passado, menos de metade do ritmo histórico de crescimento no País, frisou Bulman.
Não à toa, a Biogénesis Bagó vem tentando diversificar os negócios no Brasil, ampliando a participação em medicamentos para pets.
No mês passado, a companhia anunciou a aquisição da Mundo Animal, um laboratório brasileiro que possui uma fábrica em Pindamonhangaba (SP) e produz desde medicamentos veterinários até suplementos e itens de higiene e beleza para cães e gatos.
O M&A atende a uma orientação global da Biogénesis Bagó. Controlada por duas famílias argentinas — os grupos Bagó e Insud —, a indústria veterinária quer chegar a 30% da receita global com produtos para pets até 2029.
O número pode parecer distante tamanha a concentração da Biogénesis Bagó em produtos como os protocolos para reprodução bovina e vacinas contra o vírus da febre aftosa, mas o crescimento do grupo argentino nos últimos anos mostra a capacidade da companhia.
Desde 2018, a Biogénesis Bagó mais que dobrou o faturamento, saindo de US$ 120 milhões há sete anos para US$ 245 milhões em 2024. Até 2029, os argentinos querem estar entre as dez maiores indústrias veterinárias do mundo, buscando um faturamento de US$ 300 milhões.
Para isso, o grupo está investindo em animais de companhia e no estabelecimento de fábricas de vacinas contra aftosa em países como Arábia Saudita e China.
No Brasil, a Biogénesis Bagó conta com duas plantas: a fábrica de Pindamonhangaba, recém-adquirida, e uma fábrica em Campo Largo (PR), comprada no ano passado, mas que ainda não está em operação. No Paraná, a companhia vai produzir vacinas para cães e gatos.