Armazenagem

Portos e indústrias: A receita da Kepler Weber para tentar escapar da ressaca

CEO diz que presença em toda a cadeia do agronegócio dá segurança para a empresa atravessar um ano atribulado dentro da porteira

“A Kepler não é só lavoura, não é só produtor rural.” A declaração do CEO da Kepler Weber, Piero Abbondi, ilustra bem o momento da maior fabricante de silos agrícolas do país.

Depois de esforços para diversificar sua carteira de clientes, a fornecedora de silos e equipamentos para armazenagem de grãos diz que a presença em toda a cadeia do agronegócio, do campo ao porto, dá segurança para atravessar mais um ano atribulado dentro da porteira, com agricultores menos propensos a investir.

No mercado, ainda há dúvida. Nesta tarde, as ações da companhia caem mais de 4% na B3, com as ações negociadas a R$ 9,76.

A Kepler começou 2024 com uma carteira de pedidos entre 10% e 20% superior à do ano anterior, segundo o diretor comercial da Kepler, Bernardo Nogueira — o executivo que deve assumir como CEO da companhia ainda neste ano.

Segundo ele, houve crescimento em todos os segmentos de atuação, inclusive nas fazendas, que representam cerca de um terço de seu faturamento.

“A carteira maior nos dá visibilidade e segurança para começar o ano”, acrescentou Abbondi nesta quinta-feira, em teleconferência de resultados. “Enxergamos 2024 como uma continuidade de 2023”, acrescentou. O Ebitda, inclusive, deve continuar no mesmo patamar do registrado em 2023, sinalizou.

A demanda positiva de projetos para a agroindústria e portos deve compensar eventual queda nos pedidos dos agricultores, que devem continuar representando cerca de 30% das vendas — os produtores rurais já chegaram a responder por cerca de 40% do faturamento. Hoje, esse percentual fica com a agroindústria, o que inclui as cooperativas.

O segmento de portos e terminais ainda representa apenas 6% do faturamento, segundo os números do quarto trimestre, mas os esforços de diversificação resultaram em um aumento de 90% no faturamento da empresa em 2023.

Outro segmento que pode ajudar a empresa em manter a resiliência durante as turbulências no campo é o de reposição e serviços, que respondem por 18% do faturamento. No ano passado, a receita nesse mercado cresceu 28%.

No longo prazo, a Kepler pode fazer R$ 1 bilhão em receita com reposição e serviços, segundo fontes que conhecem o negócio. No ano passado, foram R$ 271 milhões.

Armazém é prioridade

Apesar da margem mais apertada do produtor rural, Nogueira acredita que a demanda por silos deve seguir estimulada pelo déficit de armazenagem e pelos prêmios negativos de exportação da soja — parcialmente atribuídos ao excesso de oferta durante a colheita.

“Vemos a armazenagem sendo priorizada na hora do produtor decidir os investimentos que ele vai realizar”, disse. “Os mais profissionais já estão olhando 2024/25 como uma safra cheia e estão iniciando os seus investimentos”.

A Kepler Weber reportou um lucro líquido de R$ 245 milhões no ano passado, uma queda de 36% em relação a 2022, considerado um ano “excepcional” pela companhia. O Ebitda ficou em R$ 117 milhões, 22% inferior ao do ano anterior, com a margem Ebitda em 23,3%. A receita líquida somou R$ 1,5 bilhão em 2022, uma retração de 17%.

Depois de um primeiro semestre difícil, a empresa melhorou os resultados na segunda metade do ano e conseguiu manter a receita estável no quarto trimestre, no qual ficou concentrada boa parte das entregas.

A empresa encerrou o ano com uma posição de caixa líquida de R$ 160 milhões, e foi questionada pelos investidores sobre como deve alocar o capital ao longo deste ano. O CFO, Paulo Polezi, afirmou que a Kepler vê oportunidades para continuar crescendo de forma orgânica e inorgânica.

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Em bolsa, a Kepler Weber está avaliada em R$ 1,8 bilhão. Em doze meses, os papéis caem 8,7%. Rara corporation do mundo agrícola, a Kepler tem a Trígono Capital, gestora de Werner Roger, como a maior acionista (22,7%).