As ações da Raízen caíram 4% nesta quarta-feira, pressionadas pela divulgação de resultados abaixo das expectativas dos analistas no primeiro trimestre da safra 2024/25 (iniciada em abril). Foi a quarta maior queda do Ibovespa — o índice subiu 0,7%.
O Ebitda foi a maior frustração do trimestre, ficando em apenas R$ 2,3 bilhões, um tombo de 30%. Para referência, o consenso de analistas estimava R$ 3,1 bilhões para o período. A queda reflete, principalmente, a decisão da Raízen de segurar estoques de açúcar e etanol, de olho em melhores preços ao longo do ano.
Com o Ebitda mais magro, o índice de alavancagem aumentou, um ponto que despertou atenção de analistas durante a teleconferência realizada nesta quarta-feira.
No fim de junho, o índice de alavancagem atingiu 2,3 vezes (ante 2 vezes no ano passado), um índice ainda absolutamente manejável para uma empresa com grau de investimento.
A piora veio de uma combinação de piora de geração de caixa operacional e consumo de capital de giro (um efeito dos estoques mais altos).
Como a companhia também aumentou os investimentos no trimestre, a geração de caixa foi negativa. No trimestre, a Raízen queimou R$ 6,3 bilhões em caixa. Um ano antes, o consumo foi menor (R$ 4,5 bilhões).
O melhor está por vir?
No call, Ricardo Mussa, CEO da Raízen, buscou tranquilizar investidores, reiterando o compromisso de a companhia atingir o guidance de um Ebitda de R$ 14,5 bilhões a R$ 15,5 bilhões no fim da safra. Além disso, um capex em torno de R$ 10 bilhões também é o alvo da Raízen para o período. Com isso, a companhia prevê encerar o ano-safra com uma alavancagem entre 1,6 vez e 1,8 vez o Ebitda.
Do lado operacional, a contribuição para chegar a esse resultado vem da perspectiva de preços maiores para o etanol, bem como contratos 6% maiores já garantidos para o açúcar.
De olho em tornar o efeito dessas expectativas mais tangível, Carlos Moura, CFO da Raízen, abriu alguns dados financeiros em coletiva de imprensa. A companhia terminou o trimestre com 922 milhões de litros de etanol em estoque, uma produção que teve uma alocação de capital de R$ 2,6 bilhões. Se todo esse estoque fosse vendido hoje, valeria R$ 3,2 bilhões.
No caso do açúcar, a Raízen tem hoje 1,7 mil toneladas, resultado de uma alocação de R$ 3,2 bilhões. Se tudo isso fosse vendido hoje, a companhia ganharia R$ 4,2 bilhões.
“Esses resultados vão aparecer ao longo dos próximos trimestres dentro do ano-safra. Até agora, só produzimos 30,9 milhões de toneladas, mas até o fim da safra, deve somar 83 milhões de toneladas. Estamos num ritmo muito bom de geração de margem”, resumiu o CFO.
Além disso, a companhia também tem assegurado margens maiores para sua divisão de combustíveis. No primeiro trimestre da safra, a margem da divisão de distribuição no Brasil subiu 72% ano a ano, para R$ 169 por metro cúbico. Na América Latina, beneficiada pelo cenário argentino, o aumento foi de 52%, para R$ 343 por metro cúbico.
O E2G, principal promessa da companhia, entregou uma margem de contribuição de 14% no primeiro trimestre em operação, em meio ao ramp-up da planta de Bonfim. Com a capacidade completa, rodando com 77 milhões de litros por ano, a planta deve entregar uma margem de contribuição de 75%, explicou a empresa na coletiva.
“Os contratos de comercialização do E2G já têm um preço mínimo fixado, reforçando o atributo de geração de caixa com sustentabilidade”, afirmou Ricardo Mussa, CEO da Raízen, em coletiva de imprensa, também reforçando o argumento de que o etanol de segunda geração vai contribuir positivamente para os planos da companhia.
Na ponta do lápis
A Raízen também conta com um impulso adicional para chegar aos resultados pretendidos no fim do ano com alguns fatores financeiros. No trimestre, destaca-se a geração de R$ 1,2 bilhão em créditos tributários adicionais, somados à monetização de R$ 1,2 bilhão no mesmo período.
“Tivemos um belo andamento de ICMS no trimestre, mas também recuperação de PIS e Cofins, que chegou a R$ 700 milhões só nesse trimestre”, afirmou o CFO.
A companhia também ressaltou a estratégia de desinvestimentos, concentrando as atenções na geração de caixa operacional e principalmente para o E2G. No trimestre encerrado em junho, a Raízen anunciou um desinvestimento de R$ 700 milhões em geração distribuída.
Na teleconferência, Mussa sinalizou que mais desinvestimentos desse tipo podem vir daqui para frente, um tema que provocou repetidos questionamentos dos analistas pela manhã.
“A gente não é apaixonado na Raízen por geração de energia elétrica, olhamos muito o cliente. Continuar entregando o que precisamos e executar reciclagem de portfólio é o que vamos focar daqui para frente”, disse Mussa, sem abrir mais detalhes.
Por enquanto, os analistas do sell side mantêm o voto de confiança de que a geração de caixa será mantida no fim desta safra, ficando em mais de R$ 5 bilhões, sustentada pela combinação de preços melhores para açúcar e etanol e margens saudáveis na distribuição.
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Na B3, a Raízen está avaliada em R$ 35 bilhões. As ações caem 9,5% em 2024.