Balanço

Rocket Chicken: BRF bate o consenso e faz a melhor margem da história

Dona da Sadia fez uma margem de mais de 15% no primeiro trimestre, gerando R$ 844 milhões em caixa livre; CEO atribui resultado a programa de eficiência

BRF Lollapalozza

Rocket Chicken. Que a recuperação dos preços internacionais da carne de frango impulsionaria os resultados da BRF, ninguém duvidava. Mas a dona da Sadia conseguiu entregar mais um resultado histórico no primeiro trimestre, com margens bem mais suculentas do que os analistas imaginavam.

No balanço que acaba de divulgar, a BRF entregou um lucro líquido de R$ 594 milhões, fazendo a maior geração de caixa livre dos últimos três anos: R$ 844 milhões. O botton line ficou bem acima do consenso dos analistas, que trabalhavam com uma expectativa média de R$ 374 milhões.

A maior surpresa, no entanto, veio das margens. Os grãos mais baratos reduziram drasticamente os custos de produção da BRF. Somado aos benefícios capturados pelo programa de eficiência — foram mais R$ 438 milhões no trimestre — e à recuperação dos preços internacionais, o Ebitda praticamente quadruplicou.

Globalmente, a BRF registrou um Ebitda de R$ 2,1 bilhões no primeiro trimestre, mais de 30% acima das expectativas. O consenso Bloomberg esperava um Ebitda de R$ 1,6 bilhão, o que já seria um resultado positivo.

Com isso, a margem Ebitda da dona da Sadia chegou a 15,8%, a melhor da história para os primeiros três meses do ano, afirmou Fábio Mariano, vice-presidente de finanças e relações com investidores. Na comparação anual, a margem aumentou sete pontos.

Os bons resultados vieram tanto do mercado internacional, ajudados pela recuperação dos preços da carne de frango (que sofreram bastante no ano passado), e pelos bons resultados no mercado brasileiro, que responde por pouco mais da metade da receita da companhia.

No trimestre, o Ebitda no mercado doméstico aumentou 81,4%, atingindo R$ 931 milhões. A margem aumentou 7,1 pontos, marcando 15,1%. No exterior, a margem Ebitda chegou a 16,9%, um salto de 18 pontos na comparação anual. No período, a BRF também ganhou market share na Turquia, onde é líder de mercado com a marca Banvit.

Sem voo de galinha

Em entrevista ao The AgriBiz, o CEO da BRF, Miguel Gularte, argumentou que a melhora dos resultados é reflexo de um movimento estrutural, com o programa de eficiência (o BRF+) mudando os “fundamentos produtivos e comerciais” da companhia.

Com uma estratégia que inclui um acompanhamento semanal dos indicadores agropecuários, industriais e de logística, a BRF ainda vê mais espaço para ganhar eficiência operacional, além dos R$ 3,4 bilhões obtidos em 2023.

Miguel Gularte, CEO da BRF
Miguel Gularte, CEO da BRF, diz que cenário global de consumo de proteína é favorável | Crédito: Divulgação

Depois de uma primeira fase em que buscou atingir os indicadores operacionais de 2019, no pré-covid, agora o objetivo do BRF+ é trocar experiências entre as unidades. Se uma fábrica tem uma indicador melhor, todas as outras devem persegui-lo para também o alcançar.

Com isso, a BRF se protege do sentimento de “já ganhou”. Na gestão de Miguel Gularte, o futuro sempre pode ser melhor — e começa toda segunda-feira pela manhã, como o executivo gosta de repetir.

No Brasil, a companhia acredita que pode explorar uma nova avenida na área comercial, com as marcas Sadia e Perdigão ganhando participação de outras marcas que não necessariamente pertencem à maior concorrente (Seara), sinalizou Manoel Martins, vice-presidente da companhia.

Além de continuar perseguindo a melhora dos indicadores operacionais, o mercado também conspira a favor, o que sugere que a companhia não terá um voo de galinha, como alguns temiam. “O cenário global de consumo de proteína é favorável, e os preços também. Não se vislumbra uma queda, pelo menos no curto prazo”, disse Gularte.

Alocação de capital

Nessa conjuntura, a expectativa é que a BRF continue gerando caixa, o que contribui para a melhora dos indicadores financeiros da companha. No fim de março, o índice de alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda) atingiu 1,45 vez, abaixo das 2 vezes registradas em dezembro.

A dívida bruta também caiu ligeiramente, passando de R$ 19,6 bilhões em dezembro para R$ 19,4 bilhões. Com mais de R$ 10 bilhões em caixa, a dívida líquida terminou o primeiro trimestre em R$ 9 bilhões.

Para Fabio Mariano, o vice-presidente de finanças, a situação mais confortável da BRF permite inclusive avaliar oportunidades de investimento que possam “mudar o perfil da organização e tenham bons retornos”.

Uma das possibilidades de investimento é a joint venture com o PIF, fundo soberano da Arábia Saudita, que foi anunciada em 2022 com planos de investir US$ 500 milhões (a BRF tem 70% da sociedade com os sauditas), mas ainda está em fase de estudos do business plan.

“Seguimos trabalhando. Ainda não adquirimos convicção para alocar os recursos, mas isso pode acontecer e, naturalmente, os recursos serão alocados”, indicou o executivo.

Apesar da sinalização, Mariano garantiu que a orientação geral da companhia não muda, e a BRF continua perseguindo a redução da dívida bruta até porque ainda tem capacidade ociosa nas fábricas para ampliar os volumes.

Nesse sentido, o executivo reafirmou o que o nível de capex da BRF deve ficar em torno de R$ 3 bilhões neste ano, patamar muito próximo ao de 2023.

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Na bolsa, a BRF está avaliada em R$ 27,7 bilhões. No ano, as ações sobem mais de 25%.