Revendas

Safrinha castiga Agrogalaxy e vendas caem pela metade

Frustração com as vendas no primeiro trimestre fez a alavancagem disparar, mas a companhia projeta um segundo semestre bem melhor

A safrinha castigou o balanço da Agrogalaxy — e não foi pouco. Os profundos cortes de despesas até ajudaram a sustentar a margem bruta, mas não foram capazes de compensar o estrago provocado por uma demanda tíbia dos agricultores.

No balanço divulgado nesta noite, a rede de revendas controlada pelo Aqua Capital amargou um prejuízo de R$ 250 milhões no primeiro trimestre, mais que o dobro das perdas registradas no início do ano passado (R$ 96,6 milhões).

A última linha do balanço reflete mais um trimestre turbulento para as revendas agrícolas. Com uma safrinha efetivamente no diminutivo (com o perdão do trocadilho), as vendas de insumos da Agrogalaxy caíram pela metade.

Ao todo, a companhia fez uma receita líquida de R$ 1,6 bilhão, queda de 42,7%. Excluindo os grãos, as vendas despencaram 56,2%, totalizando R$ 691 milhões no primeiro trimestre.

“Quando olhamos o investimento do produtor por hectare na safrinha, houve uma redução de 30%. Além disso, a área plantada caiu aproximadamente 9%”, afirmou Axel Labourt, CEO da Agrogalaxy, em entrevista a jornalistas.

Ebitda negativo

A frustração nas vendas cobrou um preço alto. O Ebitda do trimestre ficou no vermelho, em R$ 95 milhões — o que implicou em uma margem negativa de 6%. No ano anterior, os indicadores ainda estavam no azul, com uma margem de 2,1%.

Nesse processo, a companhia queimou R$ 385 milhões em caixa ao longo do trimestre. No fim de março, a Agrogalaxy tinha R$ 352 milhões em recursos disponíveis.

Com a queda das vendas e do Ebitda, consequentemente, o índice de alavancagem disparou. A razão entre a dívida líquida e Ebitda dos últimos doze meses da Agrogalaxy atingiu 10 vezes em 31 de março.

Em dezembro, esse indicador estava em 3,9 vezes, o que já havia obrigado a companhia a pedir (e conseguir) um waiver com os credores. Pelos termos da emissão dos CRAs, a Agrogalaxy precisa manter o índice em até 3 vezes — o que é verificado sempre em 31 de dezembro.

Milho agrogalaxy
Agricultores cortam investimentos na safrinha de milho e impactam resultados da Agrogalaxy | Crédito: Schutterstock

Na prática, a rede de revendas precisa de uma resposta da demanda, o que pode acontecer no segundo semestre, indicou Eron Martin, CFO da Agrogalaxy.

“Nosso ano está mais concentrado no segundo semestre. A La Niña é um facilitador de negócios e, além disso, produtores não têm estoque como no ano passado”, argumentou Martins.

Por enquanto, as vendas para a safra de soja na temporada 2024/25, que começa a ser plantada em setembro, ainda estão atrasadas. No acumulado até abril, a comercialização de insumos está 20 pontos percentuais atrasada em relação à safra passada, disse o CEO da Agrogalaxy.

“O agricultor ainda está muito cauteloso e comprando da mão para a boca, mas não tem como fugir de adubação. Então, ainda tem muito tempo para isso [as vendas] acontecer”, completou Labourt.

Lição de casa

Enquanto sofre com a demanda acanhada, a Agrogalaxy vem cortando na carne, com medidas para reduzir despesas e melhorar a margem bruta do negócio.

Em doze meses, a companhia economizou mais de R$ 200 milhões em despesas. Só no primeiro trimestre, quando os impactos do fechamento de loja e demissões apareceram, a economia chegou a R$ 40 milhões.

Ao mesmo tempo, a Agrogalaxy vem apostando em um mix de vendas com produtos de maior margem, reduzindo o peso de fertilizantes e defensivos tradicionais em detrimento das especialidades (biológicos e fertilizantes especiais).

No trimestre, as vendas de insumos agrícolas do Agrogalaxy entregaram uma margem bruta de 15,6%, um acréscimo de 0,6 ponto na comparação anual. Segundo o CFO da companhia, a margem bruta das especialidades é da ordem de 30%.

Enxugando gelo

Com a lição de casa feita, a Agrogalaxy depende agora de uma retomada nas vendas. Sem isso, o esforço brutal da companhia e dos controladores será como enxugar gelo.

Desde o ano passado, o Aqua Capital injetou R$ 238 milhões na companhia, o que inclui um adiantamento para aumento de capital de R$ 150 milhões e R$ 88 milhões em empréstimos a custos módicos (basicamente, “CDI careca”). A empresa também busca um sócio para o negócio de sementes, o que poderia representar mais uma injeção de capital.

A companhia vem conseguindo captar dinheiro novo no mercado, a partir da emissão de FIDCs. Ao todo, já foi mais de R$ 1 bilhão, que ajuda na estratégia de negociação com os fornecedores de insumos.

“Eles arrumaram a casa, mas o mercado ainda não trouxe a demanda. Se a receita vier como prometido, a empresa traciona. Agora, se a estratégia comercial não decolar, eles ficam em uma situação bem dura”, disse uma fonte que conhece o setor.

Na indústria de insumos agrícolas, muitos apostam que o pior já passou, apesar do quadro ainda delicado. Mais um indício disso veio nesta quarta-feira. Wilson Romanini, o sincero CEO da Vittia, disse a analistas que já é possível ver uma luz no fim do túnel, algo que ele não acreditava até poucos meses.

O produtor está pagando?

No caminho até tudo clarear, ainda vai ser preciso receber os pagamentos dos produtores de grãos.

A preocupação mais imediata dos investidores está relacionada à concentração de recebimentos entre maio e abril, o prazo convencional para o pagamento dos insumos usados na safra de soja.

Para um gestor de crédito, só vai ser possível conhecer o real nível da inadimplência dos produtores de grãos no Brasil daqui a 60 dias, uma vez que o atraso de 30 dias é praticamente cultural no setor.

Perguntado a respeito do assunto, o CFO da Agrogalaxy ressaltou as diferenças entre o ano passado e esse ano, bem como o foco da companhia no barter para garantir recebimentos. A companhia está mais preparada para lidar com potenciais casos de inadimplência.

“Estamos sofrendo muito menos do que no ano passado porque desde lá atrás migramos para recebimento em grãos”, diz Martins. Da safra passada para esta, a Agrogalaxy passou de uma faixa de 15% a 20% de pedidos pagos em grãos para 40% e ainda há espaço para mais.

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Em bolsa, a Agrogalaxy está avaliada em R$ 282 milhões. Em doze meses, as ações caem 75%.