Balanço

Sem concessionárias de máquinas, agro volta a dar alegrias à Vamos

Refletindo apenas os resultados de locação de caminhões e máquinas, companhia do grupo Simpar expurga efeitos negativos de venda de máquinas agrícolas em 2024

No primeiro balanço após a cisão de negócios, nasce uma Vamos mais leve e cautelosa. Expurgado o baque do negócio de concessionárias de máquinas agrícolas no último ano, a companhia controlada pela Simpar conseguiu mostrar a força do negócio de aluguéis de caminhões.

Ao todo, a receita líquida da Vamos aumentou 32% no último ano, somando R$ 4,7 bilhões. O aumento permeou todo o balanço, com um incremento na mesma proporção do Ebitda no período e chegando, por fim, a um aumento de 57% no lucro líquido. 

Os dados da Vamos já foram ajustados, excluindo a contribuição da área de concessionarias — que fazia parte da companhia em boa parte do ano, ante da cisão que deu origem à Automob.

“Toda essa comparação foi feita com cuidado, até para atender ao pedido dos investidores, que sempre quiseram que a companhia fosse mais dedicada para o negócio de locação”, explicou Gustavo Couto, CEO da Vamos, ao The AgriBiz.

Nos cálculos do executivo, o negócio de concessionárias tinha uma representatividade de menos de 5% na última linha do balanço e de cerca de 40% na primeira linha — evidenciando a característica de um negócio de margens diminutas.

Mergulhando no negócio de locação, o crescimento ao longo do último ano vem carregado pelo agronegócio: os segmentos sucroenergético, de pecuária, frigoríficos e florestal somam um terço da receita líquida da Vamos. Esse agregado do agronegócio, por assim dizer, é o mais representativo para a companhia em termos de receita, respondendo por um terço do faturamento. 

Dentro do agro, as usinas de açúcar e etanol impulsionaram boa parte da demanda no último ano. “É um nicho que vem de dois anos muito positivos. Tem o aspecto da seca na produção 2025/26, mas até a safra passada, muitas usinas transportaram bastante, renovaram frota, o que trouxe para nós um crescimento significativo. Operamos no setor há muito tempo, atendendo os principais nomes em São Paulo, Goiás e Mato Grosso do Sul”, ressalta Couto.

Além de uma demanda resiliente no agronegócio, a Vamos conseguiu fazer contratos com mais margem. No último ano, a companhia renovou um patamar acima da média de contratos que preservam o mesmo equipamento. No acumulado do ano, esse volume foi de R$ 400 milhões — também puxados pela demanda do agronegócio. 

“Esses contratos foram assinados há cinco anos, antes de toda essa variação da taxa de juros e do preço do caminhão, que, combinados, resultaram em um aumento de 80% no preço do caminhão em relação ao patamar atual”, explica Couto. 

Nesse sentido, o racional dos clientes passou por estender os contratos — para períodos de dois a três anos, em média — arcando com os custos de manutenção e com eventuais reajustes de preço. Na conta final, segundo o executivo, a economia é de cerca de 30% em relação a um novo caminhão.

As previsões para 2025 na Vamos

Para este ano, o objetivo da companhia é preservar essa característica para crescer e desalavancar.

A Vamos fechou o último ano com uma dívida líquida equivalente a 3,3 vezes o Ebitda. “A tendência é diminuir esse número neste ano”, ressaltou Couto, sem detalhes específicos da meta da empresa.

Para chegar até lá, além de contratos com mais margem, a Vamos vai reduzir o patamar de investimentos em novos ativos. No último ano, a companhia investiu R$ 4,2 bilhões em novos ativos, uma cifra que deve ser de R$ 2,1 bilhões em 2025.

Isso não significa, contudo, uma perda de poder de fogo por parte da empresa. Na soma entre ativos novos, renovação de contratos, extensão e venda de caminhões, a Vamos projeta chegar ao final de 2025 com um nível de locação de ativos de R$ 5 bilhões, estável em relação ao ano passado — como divulgado em comunicado em novembro do ano passado. 

Crescer com cautela

Depois de passar por um ano turbulento, permeado por juros elevados e pela inadimplência de clientes, a Vamos entrou em 2025 com uma postura mais cautelosa.  

“A demanda em janeiro e fevereiro ainda veio mais devagar, acelerando em março. Mas temos agora uma preocupação muito grande em trazer junto o embarcador para esse processo, o dono da carga. Nessa sanfona de alta e baixa, o transportador acaba ficando muito espremido no processo”, afirma Gustavo Couto, CEO da Vamos, ao The AgriBiz.

Os embarcadores podem ser os mais variados agentes dentro da cadeia, desde produtores até tradings. O objetivo dessa conversa, ou melhor, dos contratos costurados a mais mãos, é de trazer uma blindagem adicional para a inadimplência nos momentos de baixa do ciclo, fomentando uma visão de longo prazo. 

No ano passado, por exemplo, a companhia sofreu justamente com essa situação, em que transportadores de grãos haviam feito investimentos e, diante de um transporte menor do que o previsto, quebraram.

O foco dessa conversa é o de construir condições para que o transportador tenha um processo mais organizado de volumes a serem escoados e de frete — blindando a companhia contra a inadimplência também.

“Toda trading, toda indústria tem um volume mínimo que precisa operar de forma linear. Nosso foco é estruturar como ele vai garantir isso. No final do dia, o que não dá para fazer é crescer em cima de demanda spot. Há uma previsão de alta demanda para esse ano, mas estamos mais cautelosos, trazendo à mesa todo mundo que tem interesse numa visão de longo prazo”, diz Couto. 

Na prática, diferentes modelos podem ser adotados sob esse novo racional. Existem casos em que a Vamos aluga caminhões diretamente para o embarcador — que por sua vez direciona isso para um operador — e modelos em que ele entra como co-locatário, em que pode até mesmo, no limite, trocar o operador. “Em última instância, ele garante o caminhão disponível para si”, frisa Couto.