M&A

SLC adiciona 100 mil hectares com aquisição da Sierentz — e ultrapassa 800 mil

Companhia dos Logemann vai pagar US$ 135 milhões para assumir cinco fazendas — e amarra a transferência de duas delas ao empresário Ricardo Faria

Embora a sede de crescer da SLC Agrícola tenha ficado mais do que evidente depois da forte expansão de área no ano passado, a empresa da família Logemann surpreendeu nesta sexta-feira com uma aquisição comparável ao porte da transação com a Terra Santa, em 2021.

A SLC anunciou a compra da operação brasileira da Sierentz Agro, um conglomerado agrícola internacional que pertence a membros da família Dreyfus, fundadora de uma das maiores tradings do mundo. Com a aquisição, fechada por US$ 135 milhões, a SLC vai adicionar 100 mil hectares ao seu portfólio a partir da safra 2025/26, chegando a impressionantes 833 mil hectares na próxima temporada. O céu é o limite?

“Na nossa visão, não há um limitador”, disse Aurélio Pavinato, CEO da SLC, em teleconferência. “Hoje, nós temos uma diretoria de operações que tem quatro gerências regionais, cada uma cuidando de cinco a sete fazendas. Adicionar mais uma gerência para cuidar de mais cinco a sete fazendas é totalmente possível e viável. É tudo uma questão de estruturação de equipes e organização do cronograma de operação”, explicou.

No ano passado, a SLC anunciou uma série de acordos que resultaram em um aumento de área plantada em aproximadamente 60 mil hectares, considerando primeira e segunda safras. Capitalizada, a companhia vem se aproveitando de redução nos custos de arrendamento, causados pela forte queda nas margens de lucro da soja na última safra, para expandir área.

Pavinato indicou que, considerando o tamanho atual do portfólio, qualquer novo projeto deve incrementar algo entre 5% a 10% ao tamanho da SLC Agrícola. Na transação de hoje, a empresa expandiu a área plantada em 13%. O foco é a diversificação geográfica, para reduzir riscos climáticos.

A SLC assumirá cinco fazendas da Sierentz, que só opera em áreas arrendadas. Elas estão localizadas no Maranhão, Piauí e Pará — neste último estado, a SLC vai estrear suas operações. Mas duas dessas propriedades, uma no Maranhão e outra no Pará, serão posteriormente vendidas à Terrus S.A, empresa do empresário Ricardo Faria, por R$ 191,2 milhões.

O negócio era uma parte essencial da transação e estava acordado desde o início das conversas. “Poderíamos ter comprado sozinhos? Sim, mas não teríamos feito o negócio se não tivesse essa parceria”, explicou Ivo Brum, diretor financeiro da SLC.

Os recursos devem entrar no caixa da SLC em julho deste ano, e podem ter uma variação perto de 10% em relação ao valor inicial, considerando os estoques para a próxima safra, incluindo os de fertilizantes para fazer os tratos culturais a partir de outubro. O mesmo racional se aplica ao pagamento da SLC pela Sierentz — a companhia dos Logemann ainda aguarda o fechamento da safra para definir o valor a pagar.

A taxa de retorno (TIR) da aquisição é de CDI +5%, em linha com os demais investimentos da SLC, apoiada principalmente no cultivo de algodão. Em linhas gerais, o algodão entrega um Ebitda de R$ 7 mil por hectare, ante R$ 3 mil da soja e R$ 1 mil do milho. 

Mais arrendamentos

Com as três novas fazendas, a companhia passa a ter 66,5% das áreas sob sua gestão arrendadas, ante 62% antes da operação. Pavinato disse que a intenção é manter essa proporção no curto e médio prazo, e não descarta a possibilidade de comprar algum ativo para não se distanciar dessa proporção.

No longo prazo, entretanto, a situação pode mudar. “À medida que o mercado vai se consolidando, com mais arrendamentos e menos operações em terras próprias, nós podemos chegar lá na frente a ter um quarto de terras próprias e três quartos arrendados”, admitiu o CEO.

Os arrendamentos das fazendas da Sierentz têm um prazo de 13 anos de contrato, fechados pelo valor de 9,3 sacas por hectare, abaixo da média na região. Todas as fazendas pertencem a donos que não operam — o que abre a possibilidade de a empresa continuar nas terras por períodos ainda mais longos do que os atualmente contratados.

Foco no algodão

Nas três fazendas que vai assumir, a SLC Agrícola vai substituir a soja e o milho por algodão a partir do terceiro ano de operação. O plano é começar a migração pelas fazendas do Maranhão, uma vez que elas estão em áreas muito próximas às que a própria SLC opera no estado. 

O plantio do algodão só daqui a três anos está ligado à estratégia de investimentos da empresa, que já prevê outros investimentos na cultura em outras regiões. A partir do ano que vem, a SLC deve começar a plantar o algodão em pequena escala e beneficiar em suas próprias algodoeiras, nas áreas vizinhas, a fim de estruturar a operação para que esteja redonda no terceiro ano para a produção em larga escala.

Apesar das sinergias, a gestão das fazendas não será unificada. A SLC vai preservar toda a força de trabalho da Sierentz nas operações adquiridas, diante da visão de que se trata de uma empresa com equipes enxutas e otimizadas.

A SLC vai investir em compra de máquinas, uma vez que as fazendas compradas têm um nível de terceirização maior do que o da empresa dos Logemann. Em relação ao solo, serão feitos apenas investimentos de manutenção. “A cada três, quatro anos, você investe ali R$ 400 a R$ 500 por hectare pensando em solo”, adiantou Pavinato.

Para garantir que a excelência operacional da SLC seja mantida, o que não é nada trivial quando se fala em incluir 100 mil hectares no portfólio, a empresa aposta em uma estrutura corporativa robusta, que dá suporte às novas fazendas e permite que a empresa consiga crescer.

“É isso que nos dá conforto em fazer a incorporação e manter o nível de eficiência da empresa. Tivemos sucesso na Terra Santa e estamos na expectativa de sucesso agora também, com a incorporação das fazendas da Sierentz”, afirmou Pavinato.