Nos últimos anos, a trading chinesa Cofco conquistou uma posição de liderança nas exportações brasileiras de commodities. Agora, está perto de preencher uma lacuna importante para ganhar uma participação ainda maior nos embarques. A empresa inaugura, no final de março, o seu novo terminal no porto de Santos, triplicando a sua capacidade de exportação no maior porto da América Latina.
Na sexta-feira (31), The AgriBiz visitou as obras e constatou que os superlativos chineses, comuns nas estatísticas, estão também na economia real. Cerca de 1.400 pessoas trabalham 24 horas por dia, 7 dias por semana, para viabilizar a inauguração do Terminal Exportador Cofco (TEC) num tempo invejável: cerca de um ano e meio depois do início dos trabalhos.
A empresa está investindo US$ 285 milhões no terminal, que será o maior da Cofco para exportação em todo o mundo. A capacidade estática de armazenagem será de 490 mil toneladas, a maior do porto de Santos. Dois shiploaders capazes de embarcar 4 mil toneladas por hora estão sendo instalados, o que tornará possível o carregamento de dois navios Panamax por dia, se não houver chuva — ou seja, até 140 mil toneladas diárias.
O recebimento das cargas será prioritariamente por ferrovia. A expectativa é que 70% das cargas sejam entregues por trem e apenas 30% por caminhão. Para isso, a empresa anunciou um investimento de R$ 1,2 bilhão na compra de vagões e locomotivas que serão operados pela Rumo.
Com o novo terminal, a Cofco inverterá a logística em que trabalha atualmente no terminal 12A, também em Santos, que está sendo incorporado ao TEC. Tudo isso resultará em ganhos de eficiência e de competitividade.
“A matriz ferroviária proporciona maior eficiência no carregamento e, com uma capacidade estática muito grande, não precisaremos interromper o recebimento. Vamos receber e embarcar ao mesmo tempo, vai dar muito giro”, diz Sérgio Ferreira, diretor de operações da Cofco no Brasil. Com o terminal próprio, ele estima que os custos ficarão de 10% a 15% menores do que a exportação por terminal de terceiros.
Operação para terceiros
O ganho de eficiência será tão grande que a Cofco pretende fazer da elevação um negócio. A partir do próximo ano, a companhia exportará carga de terceiros a partir do TEC.
Capacidade não falta. O novo terminal embarcará 14,5 milhões de toneladas por ano, considerando soja, milho e açúcar — os grãos devem representar entre 9 e 10 milhões de toneladas desse total. Até hoje, o máximo que a Cofco conseguiu exportar pelo seu terminal próprio em Santos foi 4,5 milhões de toneladas. Ou seja, a capacidade da Cofco de exportar por Santos mais que triplicará a partir de 2026.
Em 2025, a expectativa é que sejam exportadas 8 milhões de toneladas pelo novo complexo, todas originadas pela própria Cofco (5,5 milhões de toneladas de grãos e 2,5 milhões de toneladas de açúcar).
No ano que vem, o terminal deve operar em plena capacidade e, das 14,5 milhões de toneladas que deverão ser embarcadas no TEC, 4,5 milhões de toneladas serão de terceiros, sendo 3 milhões de toneladas de açúcar, segundo Ferreira. Ainda não há, no entanto, nenhum contrato fechado para prestação de serviços, afirmou.
A peça que faltava
Quando estiver a pleno vapor, o TEC proporcionará um salto relevante nas exportações da Cofco por Santos. Em 2024, a trading chinesa embarcou 17 milhões de toneladas do Brasil, sendo 4,5 milhões de toneladas a partir de Santos — a empresa também exporta pelo Arco Norte. Neste ano, a empresa deve exportar até 18 milhões de toneladas, segundo Ferreira.
Em 2026, a Cofco terá espaço para dobrar as suas exportações de grãos por Santos, o que pode significar um considerável ganho de share nas exportações brasileiras — e mais soja garantida para os consumidores chineses, uma condição bem-vinda diante da expectativa de aumento na tensão comercial entre China e Estados Unidos com o retorno de Donald Trump à Casa Branca.
Na última década, quando começou a abrir os horizontes para se tornar uma das maiores tradings globais de commodities, a Cofco colocou o Brasil como prioridade em seus planos de expansão e fez investimentos significativos. Hoje, possui 20 silos na região de Mato Grosso, uma planta de esmagamento de soja no mesmo Estado e quatro usinas de açúcar e etanol em São Paulo, além do novo terminal.
Soja certificada
Neste domingo, no porto de Santos, a Cofco International assina com a Mengniu Dairy, uma das maiores empresas chinesas do setor de lácteos, e com a Sheng Mu Organic Dairy um acordo para o fornecimento de 1,5 milhão de toneladas de soja sustentável certificada.
Além de garantir que a soja é proveniente de áreas livres de desmatamento e conversão desde 31 de dezembro de 2020, uma auditoria realizada nas fazendas por terceiros garante o cumprimento de outras exigências para obter a certificação, como a gestão sustentável da água e a conservação da biodiversidade na propriedade.
“Existe uma demanda crescente por soja sustentável na China. Nos últimos seis meses, recebemos outros grupos chineses com interesse em comprar soja certificada com a Cofco, então há outros acordos em discussão”, afirmou Allan Virtanen, diretor global de sustentabilidade da companhia.
A Cofco tem o compromisso de eliminar o desmatamento de suas cadeias globais de fornecimento de soja e milho até 2025. Questionado sobre a pressão de produtores brasileiros para flexibilização dos critérios da Moratória da Soja, Virtanen limitou-se a dizer que a empresa continua “totalmente comprometida” com o acordo.
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Com sede em Genebra, a Cofco Internacional, controlada pela estatal chinesa Cofco, teve uma receita de US$ 50 bilhões em 2023. Possui mais de 11 mil colaboradores em todo o mundo, dos quais 7 mil estão no Brasil (900 deles em Santos). Há mais funcionários da Cofco no Brasil do que na China — uma demonstração das ambições do maior importador de commodities do gigante asiático no País.
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A matéria foi atualizada para corrigir o número de funcionários da Cofco no Brasil.