Os ativos do Grupo Virgolino de Oliveira, companhia sucroalcooleira que ficou conhecida por dar um calote gigantesco nos bondholders, devem começar a ser vendidos em janeiro, quando ocorrem os leilões das usinas de Monções e José Bonifácio, ambas no interior paulista.
Grupos brasileiros e estrangeiros já se credenciaram para disputar as duas usinas, que serão leiloadas separadamente — com certames previstos os dias 6 de janeiro (Monções) e 20 de janeiro (José Bonifácio), como prevê o plano de recuperação judicial do grupo.
Entre os interessados nos ativos, estão a chinesa Cofco e as brasileiras Uisa (antiga Usinas Itamaraty), Balbo, Santa Isabel e Colombo. O apetite pelas usinas se explica pelos valores envolvidos, abaixo dos parâmetros do mercado sucroalcooleiro.
Para se ter uma ideia, a usina de Monções será leiloada a um lance mínimo de R$ 136 por tonelada de cana, ao passo que a planta de José Bonifácio irá ao certame com um piso de R$ 124 por tonelada.
Enquanto isso, usinas listadas como São Martinho e Jalles Machado negociam perto de R$ 500 por tonelada de cana de capacidade de moagem. Construir uma usina do zero custaria ainda mais (R$ 700 por tonelada).
Em negócios privados entre usinas, os negócios têm saído entre R$ 350 a R$ 400 por tonelada, em linha com os preços pagos recentemente pela Zilor para adquirir a Salto Botelho, que pertencia à gestora americana Amerra.
Localização privilegiada
“Monções e José Bonifácio ainda estão em uma região de São Paulo onde há menor competição por cana, ao contrário de regiões como Araçatuba e Ribeirão Preto”, explicou uma fonte, argumentando que o interesse também faz sentido considerando a garantia de fornecimento de cana.
As terras na região das duas usinas também são menos disputadas por outras culturas, o que torna a estratégia de suprimento de cana mais barata do que em regiões como Sul de Goiás e Triângulo Mineiro.
No lance mínimo, a venda de Monções trará cerca de R$ 327 milhões para pagar os credores do GVO, ao passo que o leilão da usina de José Bonifácio tem potencial para arrecadar quase R$ 570 milhões.
Com um mix potencial bastante açucareiro, as usinas de Monções e José Bonifácio têm capacidade para moer 2,4 milhões e 3,8 milhões de toneladas de cana por safra, respectivamente.
Mais leilões
As usinas de Monções e José Bonifácio não são os únicos ativos a serem leiloados na recuperação judicial do GVO. Conforme o plano de recuperação já aprovado, a companhia possui outras duas usinas e duas áreas de terras para serem vendidas nos meses seguintes.
A expectativa é que todos os leilões arrecadem algo em torno de R$ 2 bilhões. Na prática, os credores aceitarão um haircut substancial para reaver parte do dinheiro. Originalmente, o GVO devia mais de R$ 7 bilhões.
O processo de alienação dos ativos do GVO é coordenado pela Makalu Partners, butique que ficou conhecida na reestruturação que deu origem à Uisa. Procurada pela reportagem, a Makalu não quis se manifestar sobre os leilões do GVO.