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Para onde vai o açúcar? Na falta de consenso, XP rebaixa São Martinho

Ações da empresa caíram 5% após XP mudar recomendação de “compra” para “neutro”; mesmo em cenário otimista, analistas veem Ebitda abaixo do consenso

Há uma perspectiva de superávit de açúcar em 2024 — e a tendência de queda nos preços da commodity ainda não foi incorporada às ações da São Martinho. 

É essa a mensagem principal que os analistas Leonardo Alencar, Pedro Fonseca e Samuel Isaak, da XP, passaram em um amplo relatório divulgado nesta terça-feira sobre a empresa. Os analistas rebaixaram os papéis de “compra” para “neutro” e estabeleceram um preço-alvo de R$ 33,20, ainda com um potencial de valorização de 11,7%.

Ao incorporar a curva futura de preços do açúcar na análise de São Martinho, a equipe estima um Ebitda 5% abaixo do consenso para esta safra (2024/25). Para a temporada seguinte, eles veem o Ebitda 8% abaixo da média das projeções.

Mesmo em um cenário mais altista para os preços da commodity, os analistas consideram que o valuation da empresa é “desanimador”. Os papéis reagiram rapidamente, operando em queda de 5% durante a maior parte do pregão. Perto do fechamento, recuavam 4%.

“Nossa visão de médio e longo prazo para o açúcar é baixista. No entanto, mesmo assumindo, num cenário mais otimista, preços em US$ 0,20 por libra-peso, nossas projeções de Ebitda ainda ficam 1% abaixo do consenso de analistas”, explicam os analistas. Nesta terça-feira, o contrato de açúcar de segunda posição fechou a US$ 0,19 por libra-peso em Nova York.

Desde o início do ano, os preços do açúcar à vista caíram 10%, enquanto as estimativas de Ebitda para a São Martinho aumentaram 5%. As perspectivas para os números da companhia vinham apoiadas na falta de consenso sobre os preços futuros do açúcar, bem como uma perspectiva de cotações mais altas para o etanol em um ano de demanda aquecida.

Só no último mês, as ações da São Martinho escalaram 10%, ultrapassando o Ibovespa e a própria valorização dos preços do açúcar. 

A visão dos analistas é de que a maior parte dos ganhos a serem capturados em curto prazo não está nas ações da companhia, mas sim nos próprios contratos futuros da commodity.

“Nossa mesa avaliou que as volatilidades implícitas estão rodando abaixo da volatilidade realizada”, escrevem os analistas. 

O cenário descrito pela equipe tem muito a ver com a falta de um consenso sobre a safra de cana no Brasil: apesar de os volumes colhidos terem sido, até agora, melhores do que o esperado, a qualidade da cana vem surpreendendo negativamente.

“Quando a colheita de cana de açúcar do país é incerta, a volatilidade é garantida”, resumem os analistas.

Rali de curto prazo

Para exemplificar as opiniões díspares sobre o cenário atual, os analistas citam dados distintos de dois grandes nomes no setor. A consultoria Czarnikow aumentou sua previsão de excedente global de açúcar para a safra 2024/25 de 5,4 milhões de toneladas para 8,8 milhões de toneladas no dia 19 de julho. Seis dias depois, a Stonex reduziu sua previsão de excedente de 2,5 milhões para 1,2 milhões de toneladas.

Com tantas incertezas, um rali de curto prazo é esperado entre o período de entressafra do Brasil e o início da colheita do Hemisfério Norte. E é nesse espaço que os analistas veem a maior oportunidade de ganhos — mais atrelados aos contratos futuros de açúcar commodity do que às ações da São Martinho. 

Etanol, outra incerteza

Junto com as perspectivas menos animadoras para o açúcar, estão as incertezas ligadas ao etanol. O biocombustível começou o ano abaixo da paridade de preços com a gasolina de 60%, considerada como um estímulo ao consumo. Com a recuperação da demanda, os preços já começaram a reagir. 

“Preços mais altos da gasolina devem continuar encorajando consumidores a mudar para o biocombustível. Mas, sem aumentos futuros no preço da gasolina por parte da Petrobras, o upside é limitado, já que os preços do etanol na bomba estão perto da paridade de 70% com a gasolina”, afirmam os analistas.