
Em queda no último ano, as ações das principais usinas de açúcar e etanol oferecem um ótimo ponto de entrada ao investidor, na visão do BTG Pactual. A explicação é simples: o comportamento dos papéis está descolado da trajetória dos preços das commodities, o que deve mudar este ano.
Essa desconexão é explicada pelos problemas enfrentados pelo setor em 2024, como a seca e os incêndios que atingiram o Centro-Sul, a principal região produtora do País, um mix de produção menos favorável e, no caso da Raízen, preocupações sobre a sua estrutura de capital.
Mas, com boas perspectivas para a safra 2025/26, as empresas devem apresentar melhora nos resultados, o que leva o BTG a reiterar a sua recomendação de compra para as ações de São Martinho, Raízen, Jalles Machado e Adecoagro.
A margem operacional das usinas deve aumentar este ano devido a condições mais favoráveis para a produção de açúcar, que é mais lucrativo do que o etanol para os produtores. Além disso, espera-se uma redução no capex, já que no ano passado as empresas tiveram de investir mais na manutenção dos canaviais por causa dos incêndios.
“A beleza do agronegócio é que cada ano apresenta novos desafios e oportunidades, e a próxima safra está se desenhando promissora”, afirmam os analistas Thiago Duarte, Guilherme Gutilla e Gustavo Fabris em um relatório de 13 páginas distribuído nesta quinta-feira a clientes. Entenda os argumentos:
O etanol vai subir (mais)…
Mesmo depois de uma alta de 30% no ano passado, há espaço para o preço do etanol subir mais no Brasil, superando a paridade de 70% em relação à gasolina — atualmente, essa relação está em 68%.
Os analistas do BTG lembram que a relação entre oferta e demanda continua apertada. Com o consumo continua aquecido durante a entressafra, a expectativa é que o nível dos estoques de etanol caia a níveis muito baixos até maio, quando a moagem da nova safra se intensifica.
Outro fator que pode impulsionar o preço do etanol é o aumento do ICMS sobre a gasolina anunciado em fevereiro pelo Confaz em R$ 0,10 por litro, o que beneficia a competitividade do etanol.
Já o cenário para a oferta não é tão promissor. Com condições mais favoráveis à produção de açúcar, o mix de produção para o adoçante deve atingir 51% na próxima safra, o que resultará numa queda na produção de etanol de aproximadamente 2,6 bilhões de litros, na avaliação do BTG.
O consumo, por sua vez, deve aumentar. O aumento da mistura do etanol anidro à gasolina de 27% para 30% resultará num aumento de demanda em torno de 1,3 bilhão de litros por ano, também segundo o BTG.
Mesmo considerando o etanol de milho, a oferta adicional total (de milho e de cana) não será suficiente para cobrir a nova demanda, afirma o banco.
…e o açúcar também
O BTG também tem uma visão altista para o preço do açúcar — entre todas as commodities agrícolas cobertas pelo banco, aliás, o açúcar é o único que permanece com uma forte visão de alta para o longo prazo.
Além de ser a fonte de calorias mais barata no mundo, o açúcar vai ter de subir de preço para estimular um aumento na oferta, que ficou abaixo da demanda em três dos últimos quatro anos.
Mesmo com esse descompasso, o preço do açúcar na Bolsa de Nova York continua ao redor de 18 centavos de dólar por libra-peso —um nível que não remunera produtores em nenhum lugar do mundo além do Brasil, que é mais competitivo.
“O problema? Brasil não pode mais ser mais o único produtor que vai ditar os preços do açúcar”, escreve Duarte.
Uma expansão significativa na produção de açúcar no Brasil é vista como improvável devido a três fatores principais: a área não deve crescer por causa da forte competição com grãos por terras; a produtividade está estagnada há cerca de 20 anos (e não há nada no horizonte capaz de mudá-la); e os retornos dos projetos de cristalização não têm oferecido retornos atrativos.
“Se o Brasil não consegue fechar o gap de oferta, outros produtores devem entrar. Para isso acontecer, os preços têm que subir — significativamente”, dizem os analistas.
Para as exportações de açúcar se tornarem competitivas na Índia, por exemplo, o preço da commodity deveria ficar entre 21 e 22 centavos de dólar por libra-peso. No caso da Tailândia, o breakeven seria ainda maior.