A farra do etanol barato está chegando ao fim, um bônus para as usinas que conviveram com um nível de estoque historicamente alto na safra 2023/24 (concluída no início do ano), dependendo do boom do açúcar para fazer dinheiro.
Depois de um longo inverno, o reequilíbrio na balança entre oferta e demanda começou a chegar aos preços do etanol, mostrou o BTG Pactual em um relatório enviado a clientes na semana passada.
Nos últimos 30 dias, os preços do etanol hidratado (aquele que abastece diretamente os veículos) subiram 11% na refinaria, conforme o levantamento de preços do Cepea, o centro de estudos ligado à Esalq/USP.
“Os preços do etanol podem subir mais 14% nas próximas semanas”, projetou o BTG, em um relatório de nove páginas assinado por Thiago Duarte, Henrique Brustolin, Pedro Soares e Henrique Pérez.
Para os analistas, o cenário é mais um motivo para justificar a compra das ações de companhias como Raízen, Jalles Machado, São Martinho e Adecoagro.
“A combinação de preços firmes do açúcar com demanda crescente de etanol é um bom presságio para o crescimento dos lucros na safra 2024/25”, apontaram os analistas do BTG.
Por que o etanol vai subir
Em tese, a valorização do etanol poderia ser ainda maior, chegando a 32%. Isso ocorreria se a Petrobras reajustasse a gasolina para um nível próximo da paridade internacional, o que é sempre uma incógnita diante das repercussões políticas.
Mesmo sem a ajuda da Petrobras, o etanol caminha para uma inversão de cenário, deixando a sobreoferta que marcou a última safra para um ambiente de oferta insuficiente na temporada 2024/25, que acabou de começar.
Em São Paulo, maior mercado consumidor, os preços do etanol hidratado rodaram por mais de oito meses abaixo de 70% do preço da gasolina, o limiar que costuma determinar se vale mais abastecer com o biocombustível ou a alternativa de origem fóssil. Em alguns momentos, o etanol equivalia a 60% da gasolina, um incentivo e tanto para o consumidor.
De novembro para cá, a demanda dos consumidores começou a reagir, ajudando a normalizar o estoque de etanol, especialmente quando comparado à demanda. Depois de atingir o pico histórico de 11,2 bilhões de litros em novembro, os estoques de etanol vêm caindo (ajudados também pelo período de entressafra).
Com isso, a participação do etanol nos veículos do ciclo Otto se recuperou, saindo de 36,1% em março de 2023 para 44% em fevereiro deste ano, mostraram os analistas do BTG. E como ainda continua competitivo na comparação com a gasolina, a tendência é que o nível de consumo siga acelerando.
Fim da sobreoferta
Nessa conjuntura, é bastante provável que o excedente de etanol que existia no mercado já esteja em vias de ser completamente enxugado.
Na leitura do BTG, a recuperação da demanda trouxe o consumo anualizado de etanol no Brasil para 32,5 bilhões de litros, acima dos 30 bilhões de litros que serão produzidos na safra 2024/25.
Ou seja, a sobreoferta vai ficar no passado, até porque a menor disponibilidade de cana reduz o potencial de produção neste ciclo. Além disso, boa parte das usinas está aumentando o uso de cana para a produção de açúcar, aproveitando o boom de preços do adoçante.
Diante disso, a única via para aumentar a oferta de etanol está nas indústrias de etanol de milho, mas essa capacidade é limitada. Mesmo considerando um aumento de 20% na oferta do biocombustível feito de milho, a oferta total (31 bilhões de litros) ainda estaria muito próxima da demanda (30 bilhões de litros).