Energia

Vai ter trigo suficiente para produzir etanol? O Itaú BBA fez as contas

Um dos projetos de etanol de trigo foi anunciado no início do ano pela gaúcha Be8, que levantou R$ 728 milhões com o BNDES

O etanol de milho está na crista da onda, mas novas fronteiras de produção do biocombustível já começam a ser estudadas — e mensuradas. A líder Inpasa está desbravando o sorgo e o trigo também vem ganhando no Brasil.

Em um novo relatório elaborado pelo Itaú BBA, o time da consultoria agro do banco estima que produção de etanol à base dessa matéria-prima deve somar 15 milhões de litros em 2025, com um horizonte de 385 milhões de litros a ser colocado em operação em médio e longo prazo.

“Principalmente no curto prazo, esse etanol deve ser consumido na indústria química e de higiene. São áreas pequenas e com fácil acesso a esse tipo de consumo”, diz Lucas Brunetti, analista da consultoria agro do Itaú BBA.

É um montante ainda pequeno diante da produção atual de etanol de cana, que hoje soma 27,3 bilhões de litros e também em relação ao do etanol de milho, que soma 6,2 bilhões de litros atualmente, de acordo com os dados da Unica para a safra passada (2023/24).

Os dados estimados pelo Itaú BBA derivam de um mapeamento do banco a partir de três projetos no Rio Grande do Sul. Um dos projetos de maior destaque nesse sentido se tornou público em março deste ano, quando a Be8 levantou R$ 728 milhões com o BNDES. A companhia está construindo uma usina dedicada à produção do biocombustível à base de trigo capaz de responder por 20% da demanda por etanol do estado.

Chegar aos volumes projetados pelo Itaú BBA não será simples. Apesar da capacidade das usinas que serão erguidas no Rio Grande do Sul, a disponibilidade de trigo é uma dúvida que paira a respeito de futuros projetos.

“É necessário ter um suprimento constante, com baixo custo e qualidade. Nesse quesito, as usinas flex possuem vantagem, devido à utilização de energia integrada, sem necessidade de adquirir de terceiros”, afirmam os analistas.

Rio Grande do Sul e o Paraná revezam entre os maiores produtores de trigo do País. Para a safra atual, a estimativa da Conab é de uma produção de 8,8 milhões de toneladas de trigo no país, com 4 milhões do RS e 3 milhões do Paraná.

Para chegar aos 385 milhões de litros, seria necessário um consumo de 915 mil toneladas de trigo por ano, de acordo com as estimativas dos consultores. Ou pouco menos de 20% da produção atual.

As dúvidas

Um ponto em aberto em relação aos projetos futuros de etanol de cereais está no consumo de energia por parte dessas usinas.

Ao contrário das usinas de cana ou usinas flex (cana e milho), que contam com a produção da biomassa para gerar energia para a produção de etanol a partir do cereal, as plantas dedicadas somente aos cereais têm esse vácuo a ser preenchido.

“O planejamento dessa matéria-prima de biomassa será um ponto fundamental para essas usinas. Hoje, por exemplo, algumas usam a queima do cavaco de eucalipto, um produto cujo preço tem aumentado ao longo dos últimos anos”, diz Brunetti. “No Rio Grande do Sul, há conversas a respeito do uso de serraria e casca de arroz”, completa.

Os projetos de milho

Enquanto as novas fronteiras do etanol são desbravadas, as usinas de etanol de milho devem continuar crescendo de forma expressiva. Neta safra 2024/25, a expectativa do Itaú BBA é de uma produção de 7,8 bilhões de litros, 25% maior do que a do ano anterior.

Para o período seguinte, a previsão é de um crescimento mais modesto, mas ainda assim em dois dígitos. Com um aumento de 11%, a produção de etanol de milho deve somar 8,7 bilhões de litros na safra 2025/26.

Em duas safras, pelo menos seis novas plantas de etanol de milho devem entrar em operação, de um total de 22 projetos em médio e longo prazo.

De olho em dar conta dessa capacidade adicional, os analistas do banco estimam um consumo de 17,3 milhões de toneladas de milho em 2024, subindo para 19,4 milhões de toneladas em 2025.

Atualmente, o uso para etanol compreende a segunda maior finalidade de consumo interno de milho. Das 83 milhões de toneladas consumidas no País, 67% são usadas para ração animal e 21% para a produção de etanol.

Em uma visão regionalizada, situação muda de figura. No Mato Grosso, maior estado consumidor, com 16 milhões de toneladas de milho de produção, 77% é desinado à produção do biocombustível.

No Sul, a criação de suínos e aves é o maior destino do milho produzido nesses Estados. Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul produzem 12 milhões de toneladas, 6,3 milhões de toneladas e 6 milhões de toneladas do cereal, respectivamente.