“Tudo na agricultura mudou, menos a matriz de produção de fertilizantes. Nos fosfatados, com o processo de acidulação. Nos nitrogenados, pela síntese de Haber-Bosch, um processo inventado no início do século passado”.
A frase é de Felipe Holzhacker Alves, o fundador da Frontera Minerals, uma holding brasileira que investe na prospecção de fertilizantes mais sustentáveis e minerais da transição energética.
Há duas semanas, Alves fechou uma transação com a Ore Capital — a gestora de private equity fundada por Mauro Barros — para acelerar a Morro Verde, o negócio de fertilizantes desenvolvido pela Frontera.
A Ore comprou o controle da mina de fosfato e calcário da Morro Verde em Pratápolis (MG), operação com reservas comprovadas de 50 milhões de toneladas que começou a funcionar em 2016. A operação segue com os executivos da companhia.
A Morre Verde possui outras duas minas em produção: potássio no município de Tiros e magnésio na cidade de Fortaleza de Minas, ambas em Minas Gerais. A companhia detém ainda uma mina de enxofre em Arapina (PE), que está em fase de definição das reservas.
“Também estamos avançando em um projeto de amônia verde e fertilizantes nitrogenados no Paraguai”, contou o chairman da Morro Verde em entrevista ao The Agribiz.
Com o investimento em Pratápolis, a ideia é ampliar a produção das atuais 400 mil toneladas por ano para 1,5 milhão de toneladas. No ano passado, a companhia faturou R$ 150 milhões.
Sem químicos no processo
Embora seja pequena para o tamanho da demanda dos agricultores brasileiros por fertilizantes — um mercado de mais de 40 milhões de toneladas, abastecido majoritariamente por importações —, a Morro Verde atua em duas pautas essenciais para a agricultura nacional.
“Estamos na intersecção de dois assuntos muito relevantes para o Brasil: a segurança alimentar, com a produção nacional de fertilizantes, e a descarbonização”, disse Alves.
Ao contrário da maior parte da produção global de fertilizantes, que usa processos químicos (ácido sulfúrico para produzir os fosfatados e combustíveis fósseis na produção da amônia), a Morro Verde não utiliza química no processo.
Segundo Alves, o tema do momento é o fertilizante triplo zero: não usa produto químico e tampouco água no processo. A terceira perna é a pegada de carbono, que tende a zero. É para esse lugar que a Morro Vede está indo.
Pegada de carbono
“Os nossos fertilizantes têm pegada de carbono 95% menor que os outros fosfatados”, disse o fundador da Morro Verde. A ideia agora é ser a primeira companhia de fertilizantes neutra em carbono até 2025. Para isso, investe em um programa de conservação de florestas na região de Guaxupé (MG) e está convertendo parte da geração a diesel para uma usina fotovoltaica.
Por não passarem por qualquer tipo de beneficiamento químico, os fertilizantes naturais que a Morro Verde já comercializa (fósforo, calcário, manganês, potássio e silício” chegaram mais rapidamente aos canaviais.
Atualmente, 40% das vendas da Morro Verde são feitas diretamente para usinas sucroalcooleiras. A localização da companhia ajuda na estratégia: Pratápolis está a apenas duas horas de Ribeirão Preto, polo de produção de cana.
O uso dos fertilizantes da Morro Verde ajuda as usinas a obterem uma nota melhor no RenovaBio, o que significa um potencial maior para a emissão de Créditos de Descarbonização (CBios). “É quase um cashback”, compara o executivo.
Granjas como clientes
Outra parte relevante dos minerais da companhia é vendida para a produção de organominerais, adubos orgânicos enriquecidos com fertilizantes minerais. Nessa frente, a Morro Verde tem algumas das maiores granjas de ovos entre os clientes.
“Nos últimos três anos, as três maiores granjas do Brasil criaram unidades de fertilizante organomineral”, diz Alves. Nomes como Mantiqueira e Granja Faria, os maiores produtores de ovos do país, e Campo Forte (que pertence à JBS) produzem fertilizantes a partir de resíduos orgânicos e mistura com minerais.
De olho na demanda para a agricultura regenerativa, a Morro Verde também vem preparando o lançamento de um biofertilizante, um composto de minerais retirados pela companhia misturado a um coquetel de microrganismos.
“Os microrganismos ajudam a solubilizar o fósforo, que atua como um estimulante do crescimento das plantas”, explica Alves. Chamado de BioRocha, o produto foi desenvolvido ao longo dos últimos anos e deve chegar ao mercado até o início de 2024.
Estrutura de capital
Para a Morro Verde, o negócio com Ore — de montante não divulgado — é o segundo reforço de caixa importante feito pela companhia neste ano, destravando o crescimento num momento em que o mercado de fertilizantes ainda sofre com o desbalanceamento de estoques.
Ao longo dos últimos meses, a Morro Verde já vinha fortalecendo o balanço. Em maio, a companhia estreou no mercado de capitais, levantando R$ 60 milhões com a emissão de um CRA com vencimento em sete anos e juros de CDI + 4,5% e outros R$ 60 milhões em uma CPR. As duas operações de dívida foram coordenadas pelo Itaú BBA.
A companhia quer aproveitar as mudanças no manejo agrícola, em direção a uma agricultura que cuide mais da saúde do solo, para continuar crescendo acima do mercado de fertilizantes químicos.
Estima-se que o mercado de químicos avance de 2% a 4% ao ano, enquanto o mercado de fertilizantes especiais cresce mais de 30%. No ano passado, o mercado de fertilizantes especiais faturou R$ 22,2 bilhões, segundo a Associação Brasileira de Tecnologia em Nutrição Vegetal (Abisolo).
“Nossa estimativa é que o mercado de fertilizantes especiais, desenvolvidos para a agricultura tropical, já seja por volta de 15% do total. Em cinco anos, isso vai virar algo entre 20% e 25%”, aposta o fundador da Morro Verde.