Embora os danos provocados pelo caso isolado da doença de Newcastle no Rio Grande do Sul ainda estejam rondando os exportadores, o Brasil vai bater recorde em produção e exportação de frango em 2024, segundo a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal).
Das cerca de 460 mil toneladas embarcadas mensalmente pelo Brasil, entre 10% e 15% continuam comprometidos, à espera da reabertura de mercados que foram fechados após o auto embargo do Brasil. Dos quatro mercados que continuam suspensos para o País como um todo, está a China, o principal comprador, além de México, Argentina e Macedônia do Norte.
Contando com as suspensões aplicadas apenas ao Rio Grande do Sul, o número de embargos sobe para dez, incluindo Arábia Saudita, Chile, Rússia, Peru, Uruguai e Bolívia. O principal impacto é, de longe, o chinês. Do impacto mensal, estimado em 50 mil a 60 mil toneladas, 40 mil toneladas são enviadas à China.
“Todos esses países já receberam as informações sobre o encerramento do foco da doença de Newcastle. Fizemos tudo que era previsto nas regras internacionais. Agora, o ministro Carlos Fávaro e as embaixadas estão tratando dessa retomada, que esperamos que esteja próxima”, disse Ricardo Santin, presidente da ABPA. O México, por exemplo, deve derrubar os embargos em “curtíssimo prazo”, segundo Luis Rua, diretor de mercados da ABPA.
Das 40 mil toneladas que estão sendo deixadas de serem exportadas à China, 35 mil estão sendo direcionadas a outros países. O Oriente Médio, por exemplo, vem aumentando as suas importações, refletindo um esforço na formação de estoques diante da intensificação de conflitos na região. Outra parte será absorvida pelo mercado interno, onde os preços devem permanecer estáveis, segundo a ABPA.
Já no mercado internacional, alguns aumentos de preços já foram sentidos devido às restrições aplicadas ao Brasil, maior exportador de carne de frango. De acordo com a ABPA, os preços médios do que ia para a China aumentaram em cerca de US$ 300.
Com esse cenário, a associação ajustou as projeções do ano para baixo, mas ainda assim mantendo recordes tanto na produção quanto na exportação de frango. No início de 2024, a projeção de produção era de 15,3 milhões de toneladas e hoje está perto de 15,1 milhões de toneladas, um crescimento de 2,3% em relação ao total do ano passado.
Nas exportações, a projeção é de 5,2 milhões de toneladas, aumento de 2,2% em relação a 2023 (anteriormente, a ABPA previa que 5,3 milhões de toneladas). No primeiro semestre, o volume embarcado recuou 1,6%, enquanto a receita com exportações caiu 10%, refletindo uma mudança no mix de produtos exportados, além da queda de preços médios – parcialmente compensada pela valorização do câmbio.
O impacto da doença de Newcastle foi confirmado em apenas uma ave, afirmou Santin. O caso foi isolado, do Paraximovírus (PPMV), típico de pombos silvestres. A contaminação, frisou Santin, veio a partir das enchentes no Rio Grande do Sul, que interferiram na quebra física de biosseguridade.
Concorrência perdendo fôlego
O Brasil tem se beneficiado de um cenário de exportações reduzidas nos Estados Unidos. Apesar de o país aumentar em 11% a produção de frango neste ano, para 21,2 milhões de toneladas, as exportações caíram 11% no acumulado de janeiro a maio na comparação com 2023.
A queda está relacionada principalmente ao aumento da demanda doméstica. Os maiores preços da carne bovina têm estimulado o consumo de frango pelos norte-americanos.
“Outros mercados também estão perdendo fôlego. A Europa cresce, mas, no fim, vai voltar ao patamar de produção de três anos atrás. Estão com dificuldades na parte de grãos, além de terem um custo de produção mais elevado”, disse Santin. Nas projeções do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), as exportações norte-americanas devem diminuir em 7% ao fim de 2024.