A produção brasileira de soja deve atingir um novo recorde, possivelmente aproximando-se da marca de 170 milhões de toneladas se o clima ajudar. As exportações, por sua vez, têm potencial para superar 100 milhões de toneladas, o que começa a gerar preocupações em relação à logística necessária para transportar os grãos das fazendas aos portos — e os valores do frete.
O tamanho da safra já seria uma grande preocupação por si. Mas, neste ano, há um agravante: o plantio da soja está mais concentrado do que o normal. Com isso, a colheita da oleaginosa deve ficar mais concentrada em um curto espaço de tempo, aumentando a demanda por transporte numa janela menor.
O caso é mais preocupante no Mato Grosso, o maior produtor de soja do Brasil. Nas últimas duas semanas, entre 11 e 25 de outubro, o percentual de área plantada passou de 9% para 56%, segundo o Imea. Mesmo assim, o plantio continua atrasado em comparação com os 70% registrados no mesmo período do ano passado.
“O Mato Grosso normalmente colhe a soja antes que os demais, por plantar de forma mais precoce. Este ano, a colheita vai começar de 10 a 15 dias mais tarde, e isso vai acabar impactando a competição por transporte não só no Mato Grosso, mas também com os outros estados”, afirma Fernando Pauli de Bastiani, pesquisador da Esalq-Log. “Esse deve ser o primeiro pico de frete da safra”, disse.
A colheita maior e a demanda mais concentrada devem elevar os preços do frete rodoviário entre 13% e 18% em 2025, segundo estimativa da Esalq-Log. “Mas os valores não devem chegar aos patamares da safra 2022/23, que estavam altos devido a aumentos nos preços do diesel”, explicou Bastiani.
A dependência dos caminhões
O transporte da safra brasileira de grãos é altamente dependente do modal rodoviário — mais de 60% do volume total é feito por caminhões.
“Há anos, a participação das ferrovias não cresce e tem anos em que até diminui”, disse Daniel Furlan Amaral, diretor de assuntos regulatórios da Abiove (Associação Brasileira das Indústrias Óleos Vegetais). “É preciso aumentar a oferta de serviços ferroviários.”
Os investimentos do governo federal no transporte terrestre têm sido desproporcionais. Entre 2019 e 2023, o governo investiu apenas R$ 1,1 bilhão em ferrovias, o equivalente a 4% dos investimentos totais. Já as rodovias receberam 96% do volume total, ou R$ 28 bilhões. Os dados são das ANTT (Agência Nacional dos Transportes Terrestres) e da ANTF (Agência Nacional de Transporte Ferroviário).
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