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Depois da secura, Hidrovias do Brasil está mais otimista — o mercado, nem tanto

Às 14h30, as ações da Hidrovias do Brasil (HBSA3) caíam mais de 4%. Em doze meses, os papéis desabaram 48%

Depois de um ano seco e tenebroso para a navegação, a Hidrovias do Brasil espera mudar o curso da história e, quem sabe, recobrar a confiança do investidor — um desafio que ainda parece distante.

Em uma teleconferência com analistas na manhã desta terça-feira, os principais executivos da companhia traçaram uma perspectiva benigna para a operação das barcaças nos principais corredores de atuação.

Por enquanto, o mercado não comprou a história. Às 14h30, as ações da Hidrovias do Brasil (HBSA3) caíam mais 4%. Em doze meses, as ações desabaram 48%, fazendo mais de R$ 1 bilhão evaporar. Atualmente, a companhia está avaliada em R$ 1,5 bilhão na bolsa.

Na visão do CEO da Hidrovias do Brasil, Fabio Schettino, as obras da empresa para garantir que o calado dos rios permaneça navegável já começaram a dar resultados, especialmente no Corredor Sul — o mais complexo.

“Se o trabalho ainda não tivesse começado, não teríamos conseguido operar em janeiro e fevereiro deste ano”, argumentou Schettino, referindo-se às obras no Corredor Sul.

No ano passado, as restrições do calado do Corredor Sul — usado especialmente no transporte de minério de ferro — provocaram uma queda de 33% no volume movimentado pela companhia.

Com isso, a receita líquida da Hidrovias do Brasil nesse corredor tombou 37%, atingindo R$ 519 milhões. Em 2024, o Corredor Sul foi responsável por 29% do faturamento, bem aquém dos 43% registrados um ano antes.

As obras e seus impactos nas hidrovias

No Corredor Norte, rota mais dedicada ao transporte de grãos, as obras também estão em curso. A ideia é que, durante a fase seca, as barcaças da Hidrovias do Brasil ainda consigam navegar, ao contrário do que ocorreu no ano passado.

“Nosso desafio é de execução, garantindo que haja calado para operar. Por isso, a dragagem no norte é tão importante para nós, para que a partir do período de seca, não tenhamos efeitos”, disse Schettino. 

Aos analistas, o CEO da Hidrovias do Brasil destacou a importância que as obras de dragagem e derrocagem (remoção de rochas subaquáticas) exercem para o futuro da companhia.

No Corredor Norte, esse trabalho é realizado no Rio Tapajós. Na visão de Schettino, trata-se de uma operação mais simples do que as do Sul, por não envolver a remoção de rochas. No Norte, são três pontos de trabalho. No Sul, são 13 (e apenas um já começou por lá, justamente o que evitou a parada em janeiro). 

Com essas obras, a Hidrovias do Brasil acredita que ficará menos suscetível às paradas provocadas pelo clima seco, que ocorrem mais para o meio do ano.

No curto prazo, a companhia conta com a farta colheita de soja em Mato Grosso para crescer. “O único efeito negativo que poderíamos ter seria uma quebra de safra, algo que não está no radar. O atraso da colheita trouxe um impacto pontual em janeiro, mas seguimos em um ritmo muito forte”, disse Schettino.

Segundo ele, a Hidrovias do Brasil já conta com 100% da capacidade de transporte negociada para este ano no Corredor Norte, com tarifas que “trazem ganho real em relação a 2024”. Schettino evitou dar mais detalhes.

Normalmente, a companhia inicia um ano com 60% a 65% da capacidade vendida em contratos de longo prazo — o restante sendo definido em contratos spot.

Aumento de capital

Enquanto tenta garantir o calado e apela a São Pedro, a Hidrovias do Brasil continua trabalhando em uma operação para capitalizar o negócio, uma medida fundamental para reduzir o índice de alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda), que atingiu 6,6 vezes em dezembro. A maior parte desse passivo vence em quatro anos, minimizando o risco de liquidez.

“A alavancagem atual não comporta investimentos marginais relevantes. Não temos um problema de liquidez, mas o grande ponto é o impeditivo de crescimento. O aumento de capital, com injeção de dinheiro na companhia, vai readequar o balanço e permitir uma nova fase de crescimento”, disse André Hachem, CFO da Hidrovias.

A expectativa do executivo é anunciar um aumento de capital até o final do primeiro trimestre. “Para ter projetos de investimentos, precisamos do aumento de capital”, prosseguiu Hachem, frisando a importância da capitalização.

No ano passado, a Hidrovias do Brasil  chegou a anunciar uma tentativa de aumento de capital de R$ 1,2 bilhão a R$ 1,5 bilhão, com o preço de ação a R$ 3,40. Diante da deterioração do mercado, desistiu da oferta, mas costurou uma injeção alternativa de caixa.

Em dezembro, o Grupo Ultra — novo controlador da companhia — injetou R$ 500 milhões na Hidrovias do Brasil, por meio de um AFAC (sigla para adiantamento para futuro aumento de capital). A companhia também levantou R$ 400 milhões no início deste ano.

Com o AFAC e os recursos da debênture, a companhia quitou um bond, que demandou pagamento de US$ 152 milhões. Com isso, a Hidrovias do Brasil conseguiu reduzir a exposição a dólar da Hidrovias em 20%. Em 2024, as dívidas dolarizadas da companhia representaram 79% do endividamento total, de R$ 3,7 bilhões.