Logística

Rumo bate recorde no trimestre — o dilema é o take or pay de 2025

Companhia tem enfrentado uma postura mais dura das tradings nas negociações, mas CEO diz não ter pressa para fechar contratos

Rumo
Crédito: Divulgação

A Rumo apresentou o maior lucro líquido de sua história no terceiro trimestre, um reflexo do aumento de tarifas e dos volumes transportados, possibilitando uma evolução de 18% na receita líquida que se estendeu por todo o balanço. Depois dos (bons) números, que vieram em linha com as estimativas, o mercado se concentra no desempenho para 2025.

Os volumes para transporte ferroviário contratados antecipadamente, por meio dos contratos take or pay, dominaram as perguntas de analistas durante o call de resultados nesta sexta-feira. A falta de clareza sobre as negociações dos contratos antecipados acaba afetando as expectativas sobre a rentabilidade da empresa e, consequentemente, tem contaminado o desempenho da Rumo na Bolsa. Desde o início de agosto, as ações caem quase 17%.

Nesta sexta-feira, o CEO da Rumo, Pedro Palma, apresentou otimismo, citando a expectativa de crescimento na produção de soja e de milho no Brasil e, principalmente, em Mato Grosso — origem de seus principais terminais no Centro-Oeste.

A perspectiva para a safra é realmente muito boa, especialmente a de soja, que deve atingir um novo recorde. Mas a Rumo tem encarado uma postura mais dura das tradings de grãos nas negociações de contratos para o próximo ano, apurou The AgriBiz.

Embora a demora na assinatura desse tipo de contrato seja usual em anos de maior imprevisibilidade na safra de Mato Grosso — o que acontece com o milho este ano —, a companhia enfrenta também um certo mau humor de alguns clientes que foram impactados pela quebra da safra no ano passado e tiveram uma dura negociação com a operadora ferroviária sobre os contratos take or pay.

Para uma fonte do setor de grãos, as tradings estão tentando diminuir a dependência da Rumo e, por isso, podem estar apresentando uma menor disposição em fechar contratos firmes, buscando alternativas como o transporte rodoviário mais eficiente, alternativas fluviais e, no longo prazo, até outros operadores ferroviários, como a VLI.

“A redução nas assinaturas dos contratos pode diminuir o potencial de ganhos da Rumo, gerando preocupações entre os investidores sobre o Ebitda do próximo ano”, escreveu o analista Lucas Marquiori, do BTG Pactual, em relatório sobre a empresa no último dia 21. “No entanto, as tradings podem sair a qualquer momento, mas nunca realmente deixam a Rumo”, acrescentou.

Essa também é a aposta da companhia controlada pela Cosan. Com a safra ficando mais próxima e maior clareza sobre o tamanho da produção (principalmente de milho no segundo semestre), os contratos finalmente devem sair, argumentou o CEO durante o call nesta sexta.

“Com a proximidade do início da safra, naturalmente as contratações vão acontecer de forma a ir ocupando as capacidades de execução que são necessárias para os primeiros meses”, afirmou Palma. “Não tenho preocupação em não avançar plenamente numa contratação agora. Eu acho que isso até pode dar mais capacidade de precificação lá na frente, ainda que esse não seja nosso grande drive”, completou.

Para os analistas Bruno Amorim e João Frizo, do Goldman Sachs, se as expectativas sobre a safra no Mato Grosso forem mesmo batidas, existem grandes chances de o mercado de fretes ficar espremido no Estado e realmente acontecer um aumento de preços ao longo da próxima safra.

Mas aumentar a exposição aos contratos à vista, à espera de uma explosão de preços à frente, não é o objetivo da empresa, segundo o CEO. Garantir previsibilidade continua sendo prioridade para a companhia, disse.

Diversificação

Com o aumento esperado na produção de grãos, a Rumo prevê uma evolução no volume transportado de granéis em 2025, mas afirmou não estar colocando uma pressão enorme no volume desse tipo de transporte. 

“Estou super confiante de que a gente vai fazer o plano de vendas para as partes de granéis, nos preços que a gente quer. E lembrando que, para cumprir um plano de venda, eu tenho várias origens possíveis, vários segmentos que posso ocupar essa minha capacidade ferroviária”, afirmou o CEO. “Não dependo de nenhum cliente específico, de nenhum terminal específico ou de alguma carga individual”.

A Rumo conta com o impacto positivo da entrada da nova planta de celulose da Suzano, o Projeto Cerrado, em Mato Grosso do Sul. Além da celulose, a companhia também deve ter volumes maiores na parte de combustíveis, ocupando a capacidade operacional. Para completar, na virada do ano, uma carga de minério também deve trazer mais geração de valor para o sistema.

A expectativa a respeito de como esses fatores vão desempenhar no próximo ano ainda permanece. Mas, por enquanto, a recomendação de compra permanece, pelo menos no caso do BTG. “A companhia tem um momentum de curto prazo, uma posição sólida de longo prazo na produção de grãos do Brasil e um valuation barato, inferior a 7 vezes EV/Ebitda para 2025”, afirmam Marquiori e Fernanda Recchia, do BTG.

Rumo ao 4º tri

Junto com o balanço, a empresa divulgou o comportamento dos volumes transportados até outubro. No último mês, eles aumentaram 8% na comparação anual e, do início do ano até aqui, cresceram 4% na comparação com o mesmo período de 2023. Na malha norte, os volumes aumentaram 13% para 6,3 bilhões de TKUs e a Malha Sul diminuiu 15%, para 1 bilhão de TKUs.

Além dos resultados operacionais, a companhia também divulgou mudanças em sua diretoria executiva. Daniel Rockenbach, o atual COO da Rumo, passará a ficar responsável pela Malha Sul, focando na gestão da ferrovia e nas negociações para a extensão da concessão. Para o lugar dele, vem Cristiano Carvalho Brasil, ex-Ambev e ex-Pão de Açúcar. 

Em outubro, a companhia também trocou de CFO, com a saída de Rafael Bergman para a Raízen. O cargo agora é ocupado por Guilherme Machado.

Na bolsa, a Rumo está avaliada a R$ 36 bilhões. Em um ano, os papéis caem 14%. Nesta sexta, fecharam em queda de 3%, ante um recuo de 1,4% do Ibovespa.