Ferrovias

Sem renovar concessão, VLI já cortou investimentos em R$ 1 bi

Em um painel durante o Global Agribusiness Forum, o CEO Fábio Marchiori defendeu que recursos dos leilões voltem para o sistema ferroviário

Em um painel durante o Global Agribusiness Forum, o CEO da companhia da logística, Fábio Marchiori, defendeu que recursos dos leilões voltem para o sistema ferroviário

Em meio às arrastadas negociações para a renovação antecipada da concessão da FCA (Ferrovia Centro-Atlântica), um processo que se desenrola desde 2017, a VLI mostrou nesta sexta-feira como os entraves na concessão vêm prejudicando os investimentos em infraestrutura no País.

Diante da falta de visibilidade sobre a renovação da FCA, que integra as regiões Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste e é uma das principais rotas de transporte de grãos, o planejamento de investimentos da VLI já sofreu um impacto de R$ 1 bilhão para 2025.

A informação veio de Fábio Marchiori, CEO interino da VLI, durante um painel no GAFFF, uma mistura de festival e fórum de agronegócios promovido por XP Investimentos e Datagro no Allianz Parque, na capital paulista.

“Custa R$ 25 milhões construir um quilômetro de ferrovia. Uma locomotiva com 80 vagões precisa de um desembolso de R$ 75 milhões”, citou Marchiori, enfatizando a necessidade da previsibilidade para fazer as ampliações.

A concessão da FCA vence em 2026, mas a VLI negocia a renovação antecipada em troca de investimentos, num processo cheio de idas e vindas que reverberou inclusive na estrutura acionária da companhia.

No mês passado, a gestora canadense Brookfield aumentou sua participação, se tornando a maior acionista (36,5%). Vale (29,6%), FI-FGTS (15,9%, Mitsui (10%) e BNDESPar são os demais sócios. Em uma reportagem recente, o Valor Econômico informou que a compra da participação ocorreu (entre outras razões) com a avaliação de que o governo renovaria a concessão, o que ainda não ocorreu.

Com um extensão de 7,2 mil quilômetros, a FCA é o principal ativo da VLI. No ano passado, a companhia de logística faturou R$ 9,1 bilhões, com uma margem Ebitda recorrente de 50% e um lucro de R$ 981 milhões.

Da receita total, os grãos respondem por 43% (R$ 3,7 bilhões), ao passado que açúcar e fertilizantes representam 10% cada (cerca de R$ 900 milhões), com o agronegócio representando mais de 60% das vendas da companhia.

O racional da renovação

Nas conversas com o governo federal, a VLI  defende encontrar uma rota para que o dinheiro da outorga paga na renovação da concessão retorne para o sistema ferroviário. As discussões ocorrem poucas semanas após a nova portaria sobre as renovações antecipadas, publicada pelo Ministério dos Transportes no início de junho.

O principal intuito da portaria ministerial é trazer celeridade ao processo de renovações antecipadas, tornando mais claros os critérios de vantagem para as empresas que já atuam no setor: previsão de investimentos da concessionária em malha própria ou naquelas de interesse da administração pública, por exemplo, estão entre os mecanismos incluídos.

Na avaliação de Marchiori, a VLI já atende a esses critérios para obter a renovação antecipada FCA. Um novo entrante, por exemplo, teria de construir um novo terminal portuário em Santos — área de escoamento para a Ferrovia Centro-Atlântica, em um terminal portuário da companhia. 4

Além disso, a VLI tem um contrato com a sócia Vale para atravessar a Ferrovia Vitória Minas e usar os terminais de Tubarão para escoamento de importação e exportação. “Por isso, para nós, a maior vantagem da renovação antecipada é que a gente já entra jogando aquecido com todo esse ecossistema em torno da FCA”, argumentou o executivo.

Para onde vão os recursos

Ao todo, a União espera receber em torno de R$ 20 bilhões a partir das novas portarias de processos de renovação antecipada de ferrovias em todo o País. Na cerimônia em que a portaria foi assinada, a Associação Nacional do Transporte Ferroviário fez um pedido ao ministro dos Transportes, Renan Filho, para que o dinheiro das renovações possa se manter dentro da própria cadeia ferroviária, de olho em acelerar o investimento em infraestrutura multimodal no Brasil.

Fazendo coro ao pleito setorial, Marchiori lembrou nesta sexta-feira que iniciativas similares já aconteceram anteriormente. “Na renovação das concessões da Estrada de Ferro Vitória-Minas, por exemplo, uma das contrapartidas para o não pagamento de outorga foi a construção da FICO. Essa é uma forma de manter o dinheiro dentro do setor”.

“Dentro da FCA, a gente tem uma oferta de fazer investimentos superiores a R$ 25 bilhões dentro dos próximos 30 anos. E isso só em investimentos em estrutura para continuar renovando e expandindo a malha”, disse o CEO.

Com a renovação, a VLI vê a possibilidade de aumentar a capacidade da malha entre 35% e 40% nos próximos 30 anos, com uma aceleração inicial prevista principalmente para os próximos anos. Atualmente, a ferrovia trabalha acima de 40 milhões de toneladas movimentadas por ano, com dois terços desse total ligados ao agronegócio.

A partir da renovação da concessão da FCA, a VLI vislumbra a oportunidade de estender a capacidade logística para outros investimentos de seu portfólio.

Um dos ativos que poderiam receber aportes é o Tiplan, um terminal portuário na região de Santos. Atualmente, a capacidade dele está em 15 milhões de toneladas por ano, e a companhia vê a oportunidade de levar esse número a pelo menos 20 milhões de toneladas.

Outras concessões também não estão descartadas.  “Nada impede que a gente olhe para novas concessões e ativos no mercado para avaliar. Nossos acionistas, investidores, pensam de fato de longo prazo e não têm nenhum receio de aumentar a alavancagem da companhia em prol de projetos de bom retorno. O que precisamos é de estabilidade regulatória”, resumiu o CEO da VLI.