Enquanto o Brasil começa a preparar mais uma safra recorde de soja, os investidores poderiam aproveitar o momento para montar uma posição (barata) na Hidrovias do Brasil, colhendo os benefícios de um desequilíbrio entre oferta e demanda na logística de grãos que parece contratado.
Avaliada em R$ 3,5 bilhões na B3, a Hidrovias do Brasil (HBSA3) já dobrou de valor neste ano, mas continua negociando com múltiplos atrativos, escreveram os analistas Lucas Marquiori e Fernanda Rechia, num relatório de 19 páginas publicado pelo BTG Pactual.
Nos atuais preços, as ações da Hidrovias do Brasil saem a um múltiplo de 6,6 vezes o Ebitda projetado para 2024. Na prática, um desconto de 25% sobre o valuation da Rumo, companhia de logística controlada pela Cosan que também se beneficia do aumento da produção de grãos.
“As perspectivas positivas para a produção brasileira de grãos sustentam nossa tese de crescimento mais rápido da oferta de grãos em comparação à infraestrutura logística”, disseram os analistas. Nesse cenário, a demanda por infraestrutura deve superar a oferta, garantindo preços mais altos do frete por um longo período.
Clima e fretes
No relatório, os analistas do BTG também destacaram a melhora do clima. Nos últimos dois anos, o clima mais seco atrapalhou a operação do Corredor Sul, reduzindo a navegabilidade do rio Paraguai. A partir de agora, esse problema tende a diminuir.
No Corredor Norte, as perspectivas também melhoraram. Depois de um período em que os fretes mais altos — um efeito colateral dos problemas na BR-163 — reduziram a competitividade do escoamento da safra pelos portos do Arco Norte, a diferença de preço do frete na comparação com o Corredor Sul caiu.
“Essa mudança é positiva para a Hidrovias do Brasil, sinalizando um ambiente de preços mais construtivo”, disseram Marquiori e Rechia. Com isso, eles enxergam espaço para o aumento das tarifas a partir de 2024. A Hidrovias opera pelas duas rotas, mas boa parte dos grãos é transportada pelo Corredor Norte.
Estrutura de capital
Os analistas também trabalham com a melhora da estrutura de capital da companhia. A alavancagem (dívida líquida/Ebitda) chegou a quase 5 vezes no fim do ano passado, mas já caiu para 4 vezes no segundo trimestre de 2023 e pode chegar a 2,6 vezes em 2025, segundo as projeções do BTG. O banco estima um aumento médio de 18% ao ano no Ebitda da Hidrovias do Brasil até 2024.
Com essas perspectivas, o BTG manteve a recomendação de compra das ações de Hidrovias do Brasil, com preço-alvo de R$ 6, um retorno potencial de mais de 30%. Há pouco, os papéis da companhia negociavam a R$ 4,73.
O relatório do banco foi feito após o follow-on que reduziu a posição de Pátria e Temasek, acionistas históricos da companhia fundada em 2010 (ambos estão na fase de desinvestimento do ativo, um ciclo natural em private equity). Em contrapartida, a Tarpon aumentou sua participação, numa demonstração da confiança no futuro da Hidrovias do Brasil, notaram Marquiori e Rechia.
Atualmente, os maiores acionistas de HBSA3 são Pátria (27%, considerando os fundos II e IV), Temasek (5%) e Tarpon (10,5%). 57% estão no free float.