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Para driblar a Selic, John Deere recorre ao crédito em dólar

“O financiamento em reais está bem complicado. Linhas do Moderfrota e do Pronaf já se esgotaram”, disse o CEO do Banco John Deere

John Deere

CAMPINAS (SP) — Em meio à escalada da Selic e ao momento de liquidez apertada que ainda aflige parte dos produtores de grãos, a John Deere está apostando as fichas no financiamento em dólar para contornar as dificuldades e garantir algum crescimento das vendas no Brasil (ou, no mínimo, uma estabilidade).

“O financiamento em reais, com taxa fixa, está bem complicado. Até a semana passada, ainda tínhamos recursos do Moderfrota e do Pronaf, mas já se esgotaram”, contou Alex Ferreira, CEO do Banco John Deere, ao The AgriBiz.

Com a proximidade da Agrishow, a mais tradicional feira agrícola do País e uma das mais relevantes para as fabricantes de máquinas agrícolas, a alternativa dolarizada vai ganhar força.

“Na Agrishow, vamos focar nos empréstimos em dólar. Nós prevemos um crescimento e uma certa migração de empréstimos em reais para essa modalidade”, adiantou Ferreira. A feira de Ribeirão Preto acontece entre 28 de abril a 2 de maio.

O movimento não é exclusivo do Banco John Deere, que recentemente firmou uma joint-venture com o Bradesco. O Itaú BBA também está com a mira apontada para os financiamentos em moeda estrangeira — buscando reduzir a exposição dos tomadores à disparada da Selic.

As alternativas em dólar

No banco da John Deere, os empréstimos em dólar acontecem de duas formas. Uma delas é usar a linha de taxa fixa do BNDES em dólar (TFBD), cujos juros estão em cerca de 8% ao ano. Com essa linha, o banco pode financiar apenas equipamentos que tenham sido produzidos Brasil, explica Ferreira.

A solução para financiar a aquisição de máquinas agrícolas importadas vem de recursos próprios do Banco John Deere, captados no exterior, e emprestados a juros de mercado. Segundo Ferreira, as duas linhas dolarizadas vêm ganhando espaço na carteira do banco, com destaque para os recursos da linha estatal — que contam com subsídios.

No financiamento em dólar, o banco não faz a trava da moeda americana, mas tenta casar o pagamento em dólar com o hedge de grãos feito pelo próprio agricultor.

“Quando produtor faz a venda futura, já trava o custo de um pedaço da produção. A gente faz com que essa prestação fique dentro do custo já travado. Dessa forma, se o dólar subir, o produtor fica protegido dessa variação”, explicou Ferreira.

Por causa dessa sofisticação, o principal público-alvo vislumbrado para os empréstimos em dólar é o produtor maior, com uma governança mais robusta. Aos pequenos e médios, a principal alternativa oferecida pelo banco da fabricante vem de recursos subsidiado, em reais.

“A gente vê um agricultor mais animado do que em 2024, o que nos faz prever um pequeno crescimento do volume de financiamentos neste ano”, ressalta Ferreira. No ano passado, o volume total da carteira do banco ficou estável, em R$ 17 bilhões, com 86% dos recursos destinados aos clientes do agronegócio.

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Além do crédito em dólar, a montadora aposta em inovação como uma forma de conquistar o cliente nesses tempos mais difíceis.

A conectividade foi o grande destaque do John Deere Space, um evento promovido nesta semana em Campinas que reuniu mais de 5 mil pessoas, entre clientes, vendedores e fornecedores.

No pavilhão, o destaque ficou por conta do lançamento da nova colheitadeira de grãos, modelos S5 e S7, vendida como a mais inteligente do mundo — e produzida no Brasil.

Além dela, um trator de pequeno porte, o 5080, usado para lavouras de café, tem tido uma ampla adesão do público brasileiro, ressaltou Antonio Carrere, principal executivo da John Deere na América Latina.

Para quem não quer investir em um novo maquinário, a empresa também enfatizou os benefícios “see and spray”, um produto acoplado a pulverizadores que permite uma economia de 56% no uso de herbicidas.

A repórter viajou a convite da John Deere