Com a colheita de soja atingindo cerca de 40% da área plantada no Brasil, segundo o último boletim da Conab, as preocupações agora se voltam para o comportamento das chuvas na safrinha de milho, cujo plantio chega a quase 60% da área prevista.
Na semana passada, a precipitação foi mais intensa do que nas anteriores, alcançando aproximadamente 80mm em Tocantins, oeste da Bahia, Piauí e Maranhão. No norte de Goiás, foram mais de 100mm em sete dias. Por outro lado, choveu de forma mais irregular e com menor acumulado em Mato Grosso do Sul, São Paulo, Triângulo Mineiro e Cerrado de Minas Gerais —as quatro áreas com algo entre 20mm e 40mm.
Nesta semana, veremos uma mudança da “gangorra” da chuva, com aumento da chuva na a região Sul e enfraquecimento da precipitação e aumento do calor em boa parte do Sudeste e Centro-Oeste. Até a sexta-feira, os maiores acumulados serão registrados no Rio Grande do Sul (entre 35mm e 40mm), Santa Catarina e sul do Paraná (em torno dos 25mm).
A partir do próximo fim de semana, uma nova frente fria levará chuva mais intensa ao centro e norte do Brasil. Vale salientar, no entanto, que a intensidade da precipitação será menor que a registrada na semana passada. Já não teremos as mesmas condições dinâmicas vistas nos últimos dias, tanto que não aparecem invernadas significativas.
Com o fenômeno El Niño ainda em curso, embora cada vez mais fraco, parte da chuva que deveria cair no centro e norte do país ficará concentrada sobre a região Sul durante o outono.
Algo que chama a atenção nas simulações mais estendidas é que os Estados do Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul perceberão um enfraquecimento da chuva a partir da última semana de março, situação que prosseguirá até pelo menos o primeiro decêndio de abril, horizonte máximo da simulação.
A chuva que acontecerá na região Sul por conta do El Niño ficará restrita apenas ao Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Além disso, uma boa parte de Minas Gerais também sentirá diminuição da chuva ainda na primeira metade de abril.
Importante lembrar que a umidade do solo manterá o suprimento de água para a segunda safra algumas semanas à frente. Mas, para áreas instaladas de forma mais tardia, a diminuição da chuva já na virada de março para abril aumenta a preocupação e a chance de que não haja umidade suficiente no solo para completar todo o ciclo.
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Celso Oliveira, colunista de The AgriBiz, é especialista em tempo e clima da Safira Energia. Atua há mais de 20 anos em análises climáticas para a agricultura.