Com a rápida expansão do etanol de milho no Brasil, as usinas estão buscando abrir novos mercados para o DDG, um subproduto do biocombustível cuja oferta vai acompanhar as projeções exponenciais de crescimento do setor.
Até a safra 2029/30, o Brasil deve mais que dobrar a produção de DDG, que pode atingir 7 milhões de toneladas ante 3 milhões de toneladas atualmente. Para absorver o excedente —o consumo interno aparente é de aproximadamente 2,4 milhões de toneladas —, as usinas olham para o mercado externo, buscando replicar a estratégia adotada pelos produtores de etanol dos Estados Unidos há duas décadas.
“Temos nove países definidos como mercados prioritários”, diz Andréa Veríssimo, gerente de Relações Internacionais da Unem (União Nacional do Etanol de Milho), entidade que vem trabalhando para expandir mercados. No mês passado, a entidade lançou uma nova vertical, a Brazilian Distillers Grains, com o objetivo de conquistar novos clientes.
“A China é o nosso maior foco”, afirmou Andréa. Mas Japão, Tailândia, Indonésia, Espanha, Reino Unido, Turquia e Nova Zelândia também são mercados alvo para a Unem.
No ano passado, 608 mil toneladas de DDG e DDGS foram exportadas pelo Brasil, um avanço significativo em relação à estreia do País no mercado internacional, em 2021, quando a primeira tonelada foi embarcada. O principal destino é o Vietnã, concentrando 43% da receita exportada.
Mas, perto dos Estados Unidos, líder absoluto na produção de etanol de milho, o volume chega a ser irrelevante: os norte-americanos exportaram mais de 10 milhões de toneladas de DDG e DDGS em 2023, segundo o US Grains Council (conselho dos exportadores de grãos dos EUA). O volume representa cerca de 20% da produção, estimada em 44 milhões de toneladas.
O exemplo americano
A produção de etanol de milho nos Estados Unidos explodiu no início dos anos 2000, impulsionada pelas crescentes metas de adoção do biocombustível nos automóveis. O DDG acompanhou: de 9 milhões de toneladas de DDG produzidas em 2005, a produção dos EUA saltou para 35 milhões de toneladas em 2010 e 44 milhões no ano passado.
Apesar da elevada demanda doméstica — o rebanho de bovinos nos EUA, um dos maiores do mundo, é confinado, o que torna elevada a demanda por ração —, os produtores americanos trabalharam para desenvolver o mercado de DDG ao longo dos anos. Hoje, tem o México como maior comprador, absorvendo cerca de 20% das exportações, mas outros países hoje também almejados pelo Brasil formam a lista dos principais importadores, como Coreia do Sul, Vietnã, Indonésia e Canadá.
Peso no caixa
Apesar de o etanol ter maior representatividade na receita das usinas, o DDG tem sido mais valorizado e apresentado papel crucial no planejamento das empresas, chegando a cobrir 45% dos custos com a aquisição do grão.
No caso da FS, segunda maior produtora de etanol de milho do País, um terço de todo o milho processado vira etanol e outro terço se transforma em produtos para ração, segundo afirmou Rafael Abud, CEO da companhia, em entrevista ao The AgriBiz no ano passado. Segundo o balanço mais recente da FS, o DDG já representa cerca de 20% da receita líquida.
DDG ou DDGS?
Existem 13 produtos diferentes dentro da categoria conhecida como grãos secos de destilaria. Em geral, eles são divididos entre DDG e DDGS —a presença de fibras no último é a principal diferença entre eles, resultando em um produto com nutrientes solúveis.
A Inpasa, maior produtora de etanol de milho do Brasil, optou por fabricar apenas o DDGS, que hoje representa cerca de 40% da produção da empresa. Composto por 32% de proteínas, ele fornece energia e minerais para nutrição animal, atendendo principalmente a bovinocultura de corte e de leite.
No ano passado, a empresa aumentou o volume de produção e de vendas do DDGS em torno de 50%, segundo Daniel Sarmento, gerente comercial da Inpasa.