Gigante indiana

Dos genéricos aos biológicos: a transformação da UPL

Empresa quer ter metade do faturamento em produtos inovadores e biológicos até 2027. Brasil já ultrapassou essa meta, diz CEO

Durante décadas reconhecida pela fabricação de defensivos agrícolas pós-patente, a indiana UPL quer virar o jogo. A empresa está trabalhando para ter, até 2027, metade do faturamento com produtos de inovação, incluindo biológicos. O Brasil, seu maior mercado, está mais adiantado e deve ajudar a companhia a atingir a meta global.

No mundo, os defensivos pós-patente, também conhecidos como genéricos, representaram cerca de 70% do faturamento da UPL no ano passado, com os produtos inovadores ficando com os 30% restantes — a companhia tem uma receita anual de aproximadamente US$ 6 bilhões.

“No Brasil, os produtos diferenciados já representam mais de 50% da receita”, disse o CEO da UPL Brasil, Rogério Castro, em entrevista ao The AgriBiz.

A diferenciação do Brasil na meta de sustentabilidade é explicada em parte pela aquisição da Arysta, que tinha um forte portfólio de soluções biológicas no país quando foi comprada, em 2019. “A Arysta trouxe esse DNA para a UPL”, disse o executivo.

Depois, a UPL fez outras aquisições nesse segmento e, há dois anos, consolidou o negócio de biológicos numa divisão chamada NPP (Natural Plant Protection), liderada globalmente pelo brasileiro Ezio Costa.

A oferta de soluções que combinam os biológicos com os químicos é o cerne da estratégia de negócios da empresa, que pretende crescer acima da média do mercado nos próximos cinco anos.

“Não defendemos usar só o defensivo, nem usar só o biológico. Não é sustentável”, defendeu Castro. “O mundo não vai ser só orgânico. É impossível ter segurança alimentar só com o orgânico. Mas o mundo precisa ser só químico? Também não. Por isso investimos tanto e desproporcionalmente na NPP, para criar produtos que façam isso”.

A empresa tem 14 novas moléculas no pipeline, segundo informações que constam em uma apresentação aos investidores do ano passado. No Brasil, lançou em 2023 um produto biológico que combina três micro-organismos para combater nematóides. Com validade de dois anos sem refrigeração, algo raro nesse segmento, o produto tem tido uma boa receptividade no mercado, segundo Castro.

Obsessão de dono

Promover a agricultura sustentável se tornou uma obsessão de Jai Shroff, CEO global da UPL e filho dos fundadores. “A agenda dele é 200% focada nisso. Ele não participa de reunião nenhuma que não tenha um viés para a sustentabilidade”, disse o executivo brasileiro.

Foi nesse contexto que a empresa se aproximou do futebol. Castro conta que, nas primeiras tentativas de ser um líder na promoção da agricultura sustentável, Jai não encontrou a receptividade que esperava.

“Ele me falava assim: ‘Rogério, eu ligava para o assessor do presidente do Quênia pedindo uma audiência e ele nem respondia. Aí eu pedi para o Drogba (Didier Drogba, jogador de origem africana), que é meu amigo, ligar e ele não só conseguiu a reunião como o pessoal foi buscar a gente com tapete vermelho no aeroporto’. O Jai percebeu que o esporte fala muito mais alto na sociedade e decidiu usá-lo para isso”.

O ex-jogador Cafu, contratado pela UPL como embaixador da Copa de 2022 no Brasil, e o CEO Rogério Castro | Crédito: Divulgação

Assim aconteceu a primeira aproximação entre a empresa indiana e a Fundação Fifa, parceira da UPL no projeto Gigaton Carbon Goal, que tem o objetivo de reduzir as emissões de CO2 equivalente na agricultura em 1 Gigaton entre 2021 e 2040. O objetivo da Fifa, na parceria, é a divulgação.

Depois, veio o patrocínio à Copa do Mundo do Qatar, uma iniciativa que chama a atenção considerando que os produtos da UPL não são vendido para a massa que assiste aos jogos — ao contrário dos tradicionais patrocinadores de eventos esportivos. No Brasil, a UPL contratou o jogador Cafu como embaixador para as ações da Copa de 2022.

“Na Copa, o objetivo era promover a agricultura sustentável. Usamos o slogan ‘Reimaginando a sustentabilidade do agro’. Fomos super felizes porque o Messi foi comemorar o gol bem ao lado da placa. A UPL ficou bem conhecida por causa disso”, afirma Castro. Também foi gol do Jai.

***

Listada na bolsa indiana, a UPL está avaliada em US$ 4,8 bilhões (400 bilhões de rúpias).