Meteorologia

Os riscos de uma La Niña cada vez mais fraca exigem atenção

Quais os efeitos disso para o Brasil? O primeiro deles terá mais a ver com a elevada temperatura observada no Atlântico Norte

A expectativa é grande para o resfriamento das águas superficiais do oceano Pacífico equatorial central e formação do fenômeno La Niña. Porém, alguns sinais indicam que este fenômeno, se formar, será fraco e com curta duração.

Primeiramente, para uma rápida formação do La Niña, há necessidade de que a temperatura de outros oceanos esteja em fase. Um deles é o oceano Índico. Normalmente o fenômeno La Niña se forma rapidamente quando a temperatura do Índico leste é mais elevada que em sua porção oeste. A questão é que no início do outono o padrão foi o contrário, atrasando o resfriamento do Pacífico Central.

Além disso, mais recentemente, a anomalia de temperatura do oceano Pacífico em profundidade indicou que a área de águas frias, que dá sustentação à formação do La Niña, diminuiu em extensão.

Um terceiro ponto, possivelmente inédito na história recente do monitoramento da temperatura dos oceanos, é a presença de águas quentes em praticamente todos os oceanos tropicais do globo.

Isso cria uma dificuldade para que surja um resfriamento robusto na região equatorial do Pacífico em meio a tanta água quente ao redor. A água fria mistura com a água quente e complica a formação do La Niña.

Naturalmente, as simulações computaram as mudanças e passaram a indicar primeiramente um fenômeno mais fraco e, em segundo lugar, um fenômeno de menor duração.

A Universidade de Colúmbia mensalmente faz uma compilação de todas as simulações que preveem a anomalia de temperatura para o oceano Pacífico e, na atualização do fim de junho, passou a indicar que o La Niña começará entre setembro e novembro de 2024 e prosseguirá no máximo até o primeiro trimesre de 2025. Na rodada anterior, a previsão de início do resfriamento era entre agosto e outubro. Sistematicamente, a maior parte das simulações vem postergando o início do La Niña.

Com relação à intensidade do fenômeno, a média das simulações dinâmicas mostram anomalias no máximo pouco abaixo de -0,5°C no trimestre entre novembro e janeiro. Na maior parte do período, a anomalia ficará no limite do valor para ser considerado La Niña (-0,5°C). Apenas como comparação, na atualização de maio, a anomalia prevista se aproximava de -1°C entre outubro e dezembro de 2024.

Quais os efeitos disso para o Brasil?

O primeiro deles terá mais a ver com a elevada temperatura observada no Atlântico Norte que com o La Niña fraco. O transporte de umidade do Atlântico Sul para o interior do continente será menor que o normal. Com isso, os sistemas meteorológicos chuvosos irão gerar precipitações abaixo do normal na maior parte do Brasil no trimestre móvel de julho a setembro. Os dois primeiros meses desse período já são naturalmente secos, mas setembro é um período em que a chuva começa a aparecer em partes do país.

Além disso, a temperatura permanecerá acima da média na maior parte dos próximos 90 dias. Isso implicará em manutenção das baixas vazões na maior parte dos rios e elevado potencial para formação de queimadas em praticamente todos os biomas brasileiros.

Mais à frente, mesmo com o La Niña fraco, alguns efeitos serão sentidos. Um deles será o aumento da precipitação sobre a região Norte e a chuva abaixo do normal sobre a região Sul no último trimestre de 2024. A temperatura, que costuma ser mais baixa que o normal no Sudeste sob La Niña, permanecerá com valores acima da climatologia no fim deste ano.

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Celso Oliveira, colunista de The AgriBiz, é especialista em clima e tempo da Safira Energia. Atua há mais de 20 anos em previsões climáticas para a agricultura.