Análise de solo

Por dentro da tese do Aqua Capital para agricultura regenerativa

Firma de private equity investe em análises de solo prevendo uma consolidação no mercado, que pode atingir R$ 3 bilhões

Um dos principais candidatos a uma nova onda de consolidação no agro brasileiro, o mercado de análises de solo é hoje uma das principais teses de investimento do Aqua Capital.

Com a compra da goiana Exata, empresa de análises de solo e foliar, há seis meses, a firma de private equity criada pelo argentino Sebastian Popik deu a partida para um processo de remodelagem do setor. A finalidade do investimento é clara: transformar a Exata na líder de mercado e consolidadora.

À medida que o mundo caminha para a agricultura regenerativa, as análises de solo e foliares tornam-se cada vez mais importantes para a otimização dos insumos. E foi a partir da sua experiência no setor de biológicos que surgiu o interesse do Aqua nas análises laboratoriais de solo, há cerca de dois anos.

“Para entender o impacto positivo dos biológicos, você acaba usando as análises de solo. Então foi natural olhar para essa tese de laboratórios também”, disse Verena Bohrer, diretora de investimentos do Aqua Capital, ao The AgriBiz. “Nos espelhamos no que já foi feito nas análises laboratoriais de sangue. O agricultor precisa fazer o teste de solo para saber como está a saúde dele”,

Apesar da dificuldade para estimar o tamanho de um mercado ainda extremamente pulverizado e carente de informações, Verena acredita que o mercado brasileiro de análises de solo pode facilmente alcançar R$ 3 bilhões. O cálculo considera um aumento na taxa de adoção, na frequência dos testes e no ticket médio deles.

Enquanto os agricultores brasileiros costumam realizar apenas um ou dois testes de solo por ano, com foco apenas na nutrição, os agricultores norte-americanos fazem o dobro disso e investigam mais variáveis. O preço médio das amostragens, que varia entre US$ 7 a US$ 9 no Brasil, também é um pouco mais que o dobro nos EUA, em torno de US$ 20.

As bases da tese

A tese do Aqua para esse segmento está pautada em três pilares: os testes são essenciais para o agricultor; o mercado ainda é muito pulverizado, com potencial para consolidação orgânica e inorgânica, e carece de um líder que assumirá o papel de consolidador.

Segundo Verena, há um grande espaço para profissionalização nas análises laboratoriais de solo que deve ser explorado pelo Aqua.

“Vimos na Exata um grande potencial para ser a líder no setor”, disse a executiva. Além de se destacar em número de amostras, os sócios têm uma boa credibilidade no mercado e histórico de transparência com o cliente.

Para desenvolver a tese da Exata, o Aqua adotou o seu programa de CEO-in-residence, no qual a firma de private equity seleciona um executivo de mercado para liderar a gestão da empresa investida.

O modelo foi adotado pelo Aqua na bem-sucedida tese da Biotrop, a fabricante de insumos biológicos vendida no ano passado por R$ 2,8 bilhões à belga Biobest. No caso da Exata, o CEO-in-residence é Marcelo Marzola, executivo com ampla experiência em analytics que migrou para o agro há seis anos, liderando startups com foco em agricultura regenerativa.

Perspectivas

Comparando com os Estados Unidos, a taxa de adoção das análises de solo ainda é muito incipiente no Brasil. Para se ter uma ideia, a penetração da agricultura de precisão no País está entre 20% e 30%, cerca da metade das taxas estimadas para os EUA, entre 50% e 60%, segundo Marzola.

Para ele, as características da agricultura brasileira podem favorecer um rápido crescimento. Milhares de hectares são convertidos em agricultura a cada ano, exigindo testes para um conhecimento preciso da nutrição do solo. As janelas de plantio se tornaram mais apertadas, com um aumento no uso de variedades precoces exigindo análises foliares mais frequentes para entender como está o desenvolvimento das lavouras.

Além disso, a qualidade do solo do Brasil é inferior à dos EUA e precisa de mais aplicações de fertilizantes para alcançar boas produtividades. O uso racional desses insumos, tanto para economia de custos como para um menor impacto ambiental, torna-se cada vez mais relevante.

“A importância da informação como componente essencial da agricultura vem crescendo de forma avassaladora e ganha ainda mais relevância com os eventos climáticos extremos que temos vivenciado”, disse o CEO da Exata.

Testes de carbono

Além de fornecer ao agricultor um portfólio completo de análises de solo, incluindo estudos sobre a estrutura física do solo, análise de enzimas e nematóides, a Exata também tem se dedicado a análises de carbono.

A empresa conta com certificação ISO, exigida por certificadoras de crédito de carbono, como a Verra. “Temos capacidade para fazer análise de carbono no padrão ouro, adequada para analisar a curva de carbono no solo”, afirmou. Outros segmentos atendidos pela empresa são as indústrias alimentícia, de rações, sais minerais, fertilizantes e até a indústria farmacêutica.

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