Transição climática

Por que o fundo ativista da Fama investiu na SLC

Latam Climate Turnaroud investe em companhias consideradas grandes emissores de gases do efeito estufa para engajá-las na transição climática

SLC

O fundo ativista da Fama Re.Capital, gestora de ações comandada por Fabio Alperowitch, montou uma pequena posição na SLC, estreando a estratégia de comprar ações de grandes emissores de CO2 para engajá-los na transição climática.

Em um relatório divulgado nesta semana, a Fama detalhou as razões do investimento na maior companhia agrícola do Brasil — com mais de 600 mil hectares semeados na última safra.

A empresa da família Logemann, uma das mais respeitadas do Brasil quando o assunto é produtividade agrícola, é a primeira investida de um total de cinco a seis companhias brasileiras do fundo Latam Climate Turnaroud, o veículo criado pela Fama.

Pelos dados disponíveis na CVM, a posição começou a ser montada em março. Em junho, o investimento valia R$ 2,9 milhões, indicam os dados mensais divulgados pela Fama ao regulador. É um aporte pequeno para o porte da SLC, que está avaliada em mais de R$ 8 bilhões, mas simbólico para os planos da gestora.

A tese do Latam Climate Turnaroud é investir em ações de companhias brasileiras que estejam classificadas como grandes emissores de gases do efeito estufa (mais de 1 milhão de toneladas em equivalente de CO2).

No Brasil, o agronegócio pareceu um caminho natural para a estratégia da gestora, especialmente pela relevância que as atividades agrícolas e as mudanças do uso da terra (leia-se, desmatamento) têm nas emissões de CO2 do País: 74% do total.

“O caso brasileiro é emblemático, pois o país é o sétimo maior emissor histórico de gases de efeito estufa do mundo e um dos principais fornecedores de commodities. Logo, é seguro dizer que as emissões brasileiras importam e muito no contexto do desafio da comunidade global de superar a crise climática”, escreveu a Fama.

Apesar de ser um fundo ativista, a estratégia do Latam Climate Turnaroud está longe de ser uma abordagem belicosa. Pelo contrário. A gestora só investe numa companhia se tiver diálogo. Para isso, faz uma abordagem prévia com os executivos das potenciais investidas para sentir a receptividade.

“O time de investimento busca estabelecer uma parceria e relação de confiança mútua com a companhia”, explicou a gestora. Por isso, o fundo da Fama está em busca de negócios de “alta qualidade, com vantagens competitivas, altos retornos sobre o capital investido, bem administrada e com bons padrões de governança”.

Como acionista da SLC, a Fama quer ajudar a companhia de origem gaúcha na transição para uma agricultura regenerativa, reduzindo o uso de produtos químicos e melhorando a saúde do solo. O uso de insumos biológicos e sementes de cobertura deve ser ainda mais estimulado.

No relatório, a Fama reconhece que a SLC vem avançando em práticas de agricultura regenerativa, mas argumenta que ainda há muito a fazer. A ambição é posicionar a gigante agrícola como um “benchmark global de agricultura de baixo carbono”.

A chegada da Fama é mais um indicativo de que o terreno da SLC nunca esteve tão fértil para tratar do tema. No início deste ano, o empresário rural Guilherme Scheffer, um dos mais engajados do País em agricultura sustentável, fez um investimento de R$ 450 milhões em ações do grupo agrícola.

Scheffer e Fama investiram numa empresa que tem potencial para multiplicar de valor em muitas vezes ao longo dos próximos anos, provando que a aposta na economia de baixo carbono pode trazer muitos retornos.