Mudanças climáticas

Selo baixo metano já tem adeptos, mas só em mercados premium

A butique de carnes Carapreta e a produtora de lácteos No Carbon conseguiram um selo que comprova a redução das emissões de CO2.

Duas empresas brasileiras já podem assegurar aos consumidores que o processo de produção de sua carne ou leite teve redução nas emissões de metano: a butique de carnes Carapreta e a produtora de leite e derivados No Carbon — ambas vendedoras de produtos premium e já com histórico em investimentos em produção sustentável.

Elas obtiveram o certificado Go Planet, desenvolvido pela FairFood (especializada na certificação de alimentos de origem animal) e conduzido por certificadoras de terceira parte. O processo consistiu basicamente em atestar o uso correto do Bovaer, suplemento alimentar desenvolvido pela multinacional dsm-firmenich. O produto reduz as emissões de metano entérico, emitido pelos animais ao arrotar, entre 30% e 40%.

No caso da No Carbon, marca que quer mostrar que é possível produzir leite de vaca com baixa pegada de carbono, comprovar a menor emissão de metano era fundamental para a estratégia, segundo Luis Fernando Laranja, fundador e CEO da companhia.

Rebanho da No Carbon na Fazenda da Toca, em Itirapina: 65% das emissões de CO2 vem do processo digestivo dos animais | Reprodução

Ao estudar o tema, Laranja descobriu que 65% das emissões totais da empresa eram oriundas do metano proveniente do processo digestivo dos animais. “Não há nada com maior impacto no nosso balanço de emissões do que isso”, disse Laranja ao The Agribiz.

Após a aprovação do uso do Bovaer no Brasil, há dois anos, a No Carbon incluiu o aditivo na dieta dos animais e passou a estimar um corte nas emissões de metano ao redor de 30%. “Para nós, isso resulta em uma redução da pegada de carbono de 20%”, afirmou. Mas, para levar essa informação ao mercado, era preciso de uma certificação, “principalmente num mundo recheado de greenwashing como o atual”, pontuou o CEO.

Com a comprovada redução nas emissões de metano, a No Carbon — já tinha o selo de carbono neutro há dois anos — vai reduzir a necessidade de neutralização das emissões. Hoje, a empresa compensa as emissões geradas durante a produção de leite com o plantio de árvores nativas na fazenda da Toca, no interior de São Paulo, amplamente conhecida pela produção de orgânicos onde está localizada a sua produção.

Na carne

A Carapreta tinha um objetivo parecido ao obter o certificado. As fazendas da empresa já possuíam o selo de bem-estar animal Certified Humanity — o único para bovinos no Brasil — e um outro selo de sustentabilidade ambiental, social e animal concedido pela alemã TÜV Rheinland. “Era extremamente estratégico para nós fecharmos o ciclo para termos uma carne sustentável”, disse Vitoriano Dornas, CEO da Carapreta.

Com a produção 100% verticalizada, a Carapreta e a No Carbon têm controle total do processo, o que facilita iniciativas como essa. Também ajuda o fato de ambas atuarem em mercados de nicho, com a oferta de alimentos com valor agregado mais alto. Os consumidores já pagam um prêmio pelo sabor e qualidade dos produtos, e a conta da sustentabilidade acaba entrando junto.

Para grandes indústrias que trabalham com uma quantidade grande de fornecedores e competem em preço, adotar iniciativas como essas ainda parece ser bem desafiador.

“Existem alguns consumidores que estão dispostos a pagar por atributos de sustentabilidade, mas já estamos num mercado premium. Vemos a certificação mais importante do ponto de vista estratégico”, afirmou o CEO da Carapreta. “O retorno não vem só do consumidor, mas de abertura de mercados, valorização da marca a acesso a capital mais barato”.