Opinião

Um balanço da volta da chuva e o que vem pela frente

Precipitações devem prosseguir na maior parte do País nos próximos dias. Para o primeiro trimestre, simulações indicam chuvas abaixo da média no Centro-Oeste, o que deve ajudar a colheita da soja e plantio da safrinha

Há três dias a chuva voltou para parte das áreas produtoras do Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste. Fazendo uma composição de dados vindos de estações meteorológicas oficiais e de estimativas por satélite, percebe-se que a precipitação ainda não foi abrangente.

No Centro-Oeste, por exemplo, os maiores acumulados foram registrados sobre a região de Apiacás, no norte de Mato Grosso, Nova Ubiratã, no médio norte, ao longo do Vale do Araguaia, divisa de Mato Grosso e Goiás, regiões de Campo Verde e de Primavera do Leste, no sul de Mato Grosso, além do entorno do Distrito Federal. Em Nova Ubiratã, o acumulado passou dos 200 milímetros em três dias. Por outro lado, choveu pouco sobre o Parecis, no centro, oeste de Mato Grosso e em Mato Grosso do Sul.

A maior parte do Sudeste recebeu pouca chuva. Na realidade, somente o norte de Minas Gerais e do Espírito Santo receberam acumulados expressivos. Em Rio Pardo de Minas, município próximo da divisa com a Bahia, choveu mais de 140mm em três dias. A situação ainda é crítica para áreas de soja e milho do Triângulo Mineiro, por exemplo. Também vem chovendo pouco sobre o café do sul de Minas Gerais e da cana de açúcar de São Paulo.

O Nordeste foi a região que teve chuva mais espalhada. Até mesmo áreas que não recebem chuva forte nesta época do ano foram contempladas. Nas áreas de grãos da Bahia, Luís Eduardo Magalhães recebeu 30mm, enquanto Formosa do Rio Preto registrou 90mm. No Maranhão, destaco o acumulado de 30mm em Grajaú, enquanto no Piauí, choveu quase 45mm em Uruçuí.

Chuva na agricultura

Nas áreas de grãos do Norte, a precipitação também foi razoável com 45mm em Araguatins-TO e 50mm em Vilhena-RO.

No Sul, a chuva enfraqueceu e isso não é ruim, pelo menos para o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e a maior do Paraná, que sofreram com inundações ao longo da primavera — estação, aliás que terminou às 0h27m desta sexta-feira, 22 de dezembro. Os produtores aproveitam os maiores períodos secos e ensolarados para acelerarem as atividades de manutenção das culturas. A exceção é o norte do Paraná, que está com umidade do solo baixa e necessita de chuva para o desenvolvimento de soja e de milho.

O que vem pela frente?

Para os próximos cinco dias, a chuva prosseguirá sobre a maior parte do país, mas a situação lembra um cobertor curto que não consegue cobrir completamente todo o corpo.

No Matopiba, por exemplo, a precipitação enfraquecerá. No Centro-Oeste, a chuva não para completamente, mas enfraquece com acumulados inferiores aos 20mm na maior parte dos municípios. Se a chuva quase cessa sobre o Nordeste e diminui sobre o Centro-Oeste, os Estados do Pará, Tocantins e Rondônia também verão enfraquecimento da precipitação nos próximos dias.

Por outro lado, a área mais castigada pela baixa umidade do solo no Sudeste terá precipitações intensas nas próximas 120 horas. Na região do Cerrado de Minas Gerais, áreas de São Gotardo, Araxá e Patrocínio, estimam-se acumulados entre 50mm e 100mm. A precipitação também aumentará sobre o Triângulo Mineiro e o Estado de São Paulo.

No Sul, as tempestades retornam à metade norte do Rio Grande do Sul, oeste de Santa Catarina e sul e oeste do Paraná, todas as áreas com mais de 50mm.

E depois?

Tudo descrito acima é temporário, para um período de cinco dias. Digo isso porque o oceano Atlântico Sul ainda está aquecido e compensando parcialmente o efeito do El Niño.

Na primeira semana de janeiro, voltará a chover intensamente sobre o Norte e Nordeste, inclusive Matopiba, além de Goiás e norte de Minas Gerais e do Espírito Santo. Em Mato Grosso, espera-se uma situação intermediária com acumulados abaixo da média histórica para a época do ano, mas suficiente para manter a umidade do solo em níveis adequados para o desenvolvimento da soja instalada de forma mais tardia. Por outro lado, deverá chover pouco sobre o Sul, São Paulo e Mato Grosso do Sul nos primeiros dias de 2024.

Aliás, valendo-se da simulação americana CFSv2, a distribuição da chuva para o primeiro trimestre de 2024 indica que esta compensação do Atlântico continuará funcionando nos próximos meses. A previsão é de chuva acima da média entre o sul da Bahia, norte de Minas Gerais e Espírito Santo, algo não usual em um período influenciado pelo El Niño.

Nas áreas de grãos do Matopiba, a distribuição da precipitação será mais irregular, mas é possível que a quebra, tão comum quando o Pacífico está aquecido, não seja tão grande neste ano.

No Sul, a chuva continuará acima da média com a vantagem de que não será tão extrema e persistente como na primavera. Ou seja, depois de três anos de estiagem, a expectativa é uma melhor safra de milho e soja nos três Estados.

Por fim, a chuva ficará abaixo da média na maior parte do Centro-Oeste, no sul de Rondônia e em São Paulo. Neste contexto, preocupa mais a situação da cana de açúcar de São Paulo e de soja de Mato Grosso do Sul, pois são dois Estados mais distantes da Amazônia e que dependem de frentes frias estacionadas para levar chuva organizada às áreas produtoras.

Em Mato Grosso, ao contrário, a previsão de chuva abaixo da média indica que as invernadas serão curtas neste verão, situação que ajuda a colheita da safra e instalação da segunda safra. Uma precipitação abaixo da média não quer dizer ausência de chuva especificamente nesta área e a expectativa é de que as áreas de soja instaladas mais tardiamente tenham um melhor desempenho em relação às áreas que estão em colheita neste momento.