Zander Navarro é um sociólogo que gosta de uma boa discussão. Estudioso do capitalismo agrário e provocador, já causou a ira da diretoria Embrapa por criticar a falta de foco das pesquisas da estatal em um artigo (a celeuma rendeu uma demissão posteriormente anulada na Justiça).
Lotado no Ministério da Agricultura, o inquieto pesquisador escreveu recentemente um ensaio (quase um desabafo com a verve acadêmica) reunindo uma reflexão sobre as origens do conceito de capitalismo agrário — o agronegócio, como viria a ser conceituado nos anos 1950 por Ray Goldberg — em que critica o desinteresse dos cientistas sociais brasileiros pelo tema.
Mobilizando desde autores marxistas (isso mesmo!) como Lenin a economistas de inclinação keynesiana, Navarro traz o conceito de capitalismo agrário à baila para mostrar os fatores de produção que ajudaram a agricultura brasileira a florescer especialmente a partir do fim da década de 1990.
A partir do que seria a força irrefreável do capitalismo no campo, o sociólogo dispara petardos contra o “pensamento mágico”, criticando as demandas por reforma agrária no século XXI e o conceito de agroecologia, o que para ele seria apenas uma tentativa de confrontar o capitalismo em geral, e não de substituir a agricultura moderna por outro modelo tecnológico.
“Se a hegemonia do capital se torna tão avassaladora, concentrando riqueza e determinando os investimentos, além de ampliar fortemente a distância tecnológica entre os estabelecimentos rurais, como imaginar que pequenos produtores rurais empobrecidos e com limitado acesso aos mercados e às tecnologias modernas poderão sobreviver à competição intercapitalista?”, escreveu Navarro.
Para um provocador nesses termos, chama atenção o que ele tem a dizer sobre a temática ambiental. Aliás, Navarro não é um negacionista das mudanças climáticas. Muito pelo contrário.
“Os vários levantamentos climatológicos mostram que os impactos estão ocorrendo, com eventos climáticos anormais cada vez mais frequentes. Ou seja, existe de fato uma relação entre o desmatamento e o regime de chuvas”, disse o sociólogo numa conversa com The Agribiz.
Diante disso, o que fazer? No lugar da esperança, Navarro é só pessimismo. Se estamos caminhando rumo ao ponto de não retorno da savanização da Amazônia, apenas uma atitude enérgica poderia interromper o quadro: cessar o desmatamento — o ilegal e também aquele permitido pela legislação (20% no bioma amazônico).
“Acho que o Código Florestal tinha que mudar, proibindo o desmatamento na Amazônia. Mas isso não passa de jeito nenhum”. Diante de tanto pessimismo, é bom correr antes que seja tarde.