Estratégia

Raiar busca R$ 50 milhões em equity — e o primeiro dólar na produção brasileira de ovos

Fundada há apenas três anos, a Raiar Orgânicos está pronta para alçar voos maiores e chegar a 2 milhões de aves

Criada há apenas três anos, a Raiar está pronta para alçar voos maiores. A produtora de ovos orgânicos inicia um roadshow em agosto para captar R$ 50 milhões em equity, numa rodada 100% primária que financiará um plano que pode levar o faturamento do negócio a meio bilhão.

A meta é atingir 2 milhões de aves em sua plataforma de produção no interior de São Paulo até 2032, o que tornaria a companhia um importante player mundial em orgânicos, segundo o CEO Marcus Menoita, um dos fundadores. Em cinco anos, a ideia é chegar a 1 milhão de galinhas.

No atual ritmo, a Raiar prevê alcançar 240 mil galinhas poedeiras em seu sistema de produção em Avaré (SP) até 2024, o dobro em relação a 2022. O salto para 2 milhões de aves é ambicioso, mas absolutamente viável considerando que os investimentos em sua fábrica de ração orgânica foram feitos para atender 1,5 milhão de aves.

O objetivo é ganhar escala para reduzir o custo por produto vendido e aumentar a rentabilidade. “Quanto mais cedo eu atingir 2 milhões de aves, mais rápido eu consigo reduzir o spread para outras categorias de ovos”, Menoita disse ao The Agribiz. Considerando também as despesas administrativas, a redução de custos pode chegar a 50%.

Geração de caixa

Até hoje, a Raiar levantou pouco mais de R$ 100 milhões, dos quais R$ 57 milhões em equity com um grupo de 31 investidores que incluem sócios de grandes casas de investimentos, e o restante em dívida.

Nas negociações que começam em agosto, não haverá qualquer tranche secundária. “Nenhum sócio quer sair, o que é um sinal muito importante para quem está chegando”, ressaltou Menoita.

À luz do que a Raiar construiu até aqui, é fácil explicar. A marca ganhou apelo entre os consumidores pelo sabor dos ovos — e não apenas pelo apelo sustentável — e o negócio está a caminho de gerar caixa já no ano que vem.

Com os R$ 50 milhões que virão com a nova rodada — além de outras operações de dívida —, Menoita não vê mais necessidade de captações adicionais para executar o novo plano, criando uma companhia de R$ 500 milhões em vendas.

Produtores integrados

O caminho até as 2 milhões de aves será dividido em fases. A Raiar primeiro vai se dedicar a ocupar a capacidade total de sua fazenda em Avaré, construída para 700 mil aves. O passo seguinte será comprar uma segunda fazenda, para abrigar mais 700 mil galinhas, e adotar o modelo de integração com produtores nas proximidades para chegar ao restante.

Vista área da fazenda da Raiar Orgânicos em Avaré, no interior de São Paulo: capacidade para abrigar 700 mil galinhas | Crédito: Divulgação

Muito comum na cadeia de carne de frango e suína no Brasil, o sistema de integração é pouco usual no setor de postura e foi inspirado na Vital Farms, uma companhia americana avaliada em US$ 470 milhões. No Brasil, a Mantiqueira entrou recentemente em integração, assumindo a produção de ovos da cooperativa paranaense LAR.

No modelo de integração, a Raiar fornecerá ao avicultor pintainhas, ração, treinamentos sobre manejo e garantia de compra dos ovos. Do plantel de 2 milhões, um terço virá do uso total da capacidade em Avaré, outro terço de uma nova propriedade e o restante de integrados.

A empresa também planeja investir em novas linhas de negócios, como o recém-lançado ovo pasteurizado, o primeiro orgânico no Brasil.

Primeiro dólar no setor

Na rodada, a Raiar quer acessar três tipos de investidores: family offices com perfil ESG, fundos institucionais voltados para agricultura e alimentação e fundos de impacto ambiental nos Estados Unidos e Europa que têm demonstrado interesse na empresa.

“Se tivermos sucesso, será o primeiro dólar investido no setor de postura no Brasil”, disse Menoita.

Um eventual investimento estrangeiro na Raiar coroaria a tese da empresa criada por Menoita, fundador da NovAgri, trading de grãos investida do Pátria e vendida à Toyota; Luis Barbieri, ex-Dreyfus; e Leandro Almeida, que também veio da NovAgri e do mundo das tradings.

Os cofundadores da Raiar Orgânicos, direto do mundo dos grãos: Leandro Almeida, Marcus Menoita e Luis Barbieri | Crédito: Divulgação

A elevada pulverização do setor de postura no Brasil e a ausência de investidores estrangeiros, aliás, foi o primeiro grande motivador do trio para investir em ovos, disse Menoita.

O segundo foi a rápida mudança pela qual passam os produtores agrícolas, com aumento da demanda por insumos biológicos em busca de maior eficiência, e os consumidores, que vêm buscando mais alimentos orgânicos e produtos com impactos positivos ambiental e socialmente.

Demanda aquecida

Atualmente, a demanda pelos ovos da Raiar supera a produção da empresa, que está presente em cerca de mil pontos de venda divididos em quatro estados e no Distrito Federal.

Nos últimos anos, a empresa conseguiu superar os desafios de assegurar milho orgânico para produzir ração e igualar os indicadores de produtividade de sua produção orgânica aos do sistema convencional — em muitos casos, até melhorar.

“Cumprimos todos os requisitos que nos permitem ir para o próximo passo”, afirmou Menoita. “Estamos confortáveis para crescer.”

Passado o primeiro ano da estratégia de go to market, testando a recepção de varejistas e consumidores, a Raiar prevê faturar cerca de R$ 25 milhões em 2023.