Opinião

'Gangorra' da chuva muda na primeira semana de novembro

Precipitações migram para a metade norte do País, beneficiando o plantio de soja, mas não permanecerão por muito tempo sob influência do El Niño

Pelo segundo mês seguido, a chuva foi muito intensa sobre a região Sul, enquanto áreas do Norte, Nordeste e Centro-Oeste veem demora na regularização da precipitação. O efeito do fenômeno El Niño é claro na agricultura. No Paraná, por exemplo, o temporal do último fim de semana de outubro paralisou a colheita das culturas de inverno e o plantio de milho, feijão e soja. Além disso, áreas já instaladas podem passar por replantio.

No Rio Grande do Sul, a situação é semelhante. Os poucos dias sem chuva não são suficientes para entrar com as máquinas no campo e semear a soja, de acordo com produtores da metade norte do Estado.

Em Frederico Westphalen-RS, o mês de outubro terminou com acumulado acima dos 670mm, ou três vezes acima do normal. Acumulados semelhantes foram registrados no vale do rio Iguaçu, entre Santa Catarina e o Paraná.

Com a “gangorra” da chuva tão desequilibrada, é natural que áreas do centro e norte do Brasil estejam em um ritmo de plantio abaixo do desejável pela baixa umidade do solo. De acordo com levantamento da Conab feito entre 23 e 29 de outubro, o Mato Grosso está com 70% das áreas semeadas com soja ante mais de 85% das áreas no mesmo período do ano passado.

Mudança no padrão

Para este início de novembro, finalmente veremos uma mudança no padrão de distribuição da precipitação no Brasil. Uma frente fria conseguirá levar chuva para o Matopiba e Estados de Mato Grosso, Goiás, Rondônia e norte de Minas Gerais. Nos primeiros sete dias do novo mês, o acumulado deve alcançar algo próximo dos 100mm no extremo sudoeste da Bahia, área próxima da divisa com Minas Gerais e Goiás.

Mais ao norte da Bahia, a região de Luis Eduardo Magalhães receberá algo em torno dos 50mm. Precipitações de pelo menos 50mm também serão vistas no sul do Piauí, norte de Goiás, norte de Mato Grosso (Vale do Araguaia e BR-163, na região de Sorriso), Tocantins e Rondônia. Por outro lado, produtores do Sul terão alguns dias sem chuva.

O grande problema é que essa mudança será pouco duradoura para ambos os lados da “gangorra”. No mais tardar a partir da segunda semana de novembro, a chuva forte retornará ao Sul, enquanto o Norte e o Nordeste voltarão a ter precipitações mais fracas e pontuais.

Somente no fim de novembro, simulações atmosféricas mais estendidas indicam uma nova reviravolta. Esse desequilíbrio não é desejável para o setor agrícola do Brasil, mas é normal quando há atuação do El Niño. O fenômeno atualmente varia entre moderado e forte, alcançando seu ápice nesta primavera. A partir do verão 2024, o aquecimento diminuirá gradativamente até o retorno de uma neutralidade em meados do ano que vem.