Safra 2024/25

Os prêmios da soja estão acima da média. É hora de travar?

"Eu diria que sim. Isso poderia amenizar o patamar mais baixo do preço internacional”, afirma Flavio França Junior, da Datagro

Soja

CUIABÁ (MT) — Se a perspectiva para o preço da soja em Chicago está longe de animar o produtor, o comportamento dos prêmios nos portos brasileiros está trazendo algum alento. Com a ajuda da alta do dólar, eles devem ficar acima dos valores praticados nos últimos dois anos.

A avaliação é de Flávio França Junior, líder de pesquisa de grãos da Datagro, consultoria que promoveu, nesta terça-feira, evento de abertura da safra de grãos e algodão em Cuiabá (MT).

“Para fevereiro, na soja precoce, estamos com prêmio de US$ 0,50, acima do padrão médio normal para essa época. Para abril e maio, estamos falando em prêmios de US$ 0,30 centavos ou US$ 0,40, também acima da média para o período”, observou França durante apresentação.

Diante de prêmios mais atrativos — depois de duas safras negociando com frequência em terreno negativo —, fica a pergunta: Vale a pena travar as vendas da soja que será colhida no ano que vem?

“Eu diria que sim. Isso atuaria no lado positivo para amenizar parte desse patamar mais baixo do preço internacional”, afirmou França Junior.

Para o dólar, a Datagro trabalha com o cenário de relativa estabilidade, com uma taxa média entre R$ 5,40 e R$ 5,50 para a safra 2024/25, ainda refletindo incertezas envolvendo a política fiscal brasileira — e apesar do viés de baixa a partir da redução dos juros dos Estados Unidos.

Preços pré-pandemia

Na Bolsa de Chicago, a expectativa para a safra 2024/25 é de que a soja continue a ser negociada em torno dos valores praticados pré-pandemia, evento que resultou numa escalada no preço das commodities.

Para o primeiro semestre de 2025, a Datagro acredita que a soja seja negociada entre US$ 10 e US$ 10,50 por bushel — abaixo da média de US$ 11,90 na safra 2023/24. Para França Junior, o mais provável é que o preço da oleaginosa fique próximo do patamar de US$ 9,50 por bushel registrado entre 2014/15 até 2020. Nesta terça, o primeiro contrato fechou a US$ 9,87.

Os preços mais acomodados vão continuar a refletir o desencontro entre oferta e demanda. A produção mundial deve continuar aumentando, atingindo 429 milhões de toneladas ante as 395 milhões da safra atual. 

Os números refletem o bom momento da safra nos EUA, que deve produzir 125 milhões de toneladas de soja, além de perspectivas positivas para a América do Sul, com destaque para Brasil e Argentina. “Por enquanto, as previsões são de um La Niña fraco, o que deve trazer efeitos menos nocivos do que o El Niño para a região”, disse França Junior.

No Brasil, a área plantada deve crescer 1,8% em relação à safra 2023/24, de acordo com pesquisa realizada pela Datagro em julho. Caso as perspectivas de uma La Niña mais fraca se confirmem, a produção de soja deve somar de 167 milhões a 168 milhões de toneladas, renovando o recorde anterior de 160 milhões de toneladas, em 2023. As exportações devem totalizar 100 milhões de toneladas.

“A demanda segue forte no mundo, especialmente pela China. Entra ano e sai ano e não sobra soja no Brasil. Estamos há 18 anos aumentando área, melhorando tecnologia e práticas de manejo. É um sinal muito interessante que mantém a perspectiva de demanda forte paro próximo ano”, diz França.

Rentabilidade

Nesse cenário, a palavra de ordem para a próxima safra é produtividade. Ganhos em volume podem trazer algum alívio ao produtor em termos de rentabilidade, além da queda nos custos, que devem ficar entre 5% e 10% menores do que na safra anterior.

“É uma safra mais desafiadora, na qual será necessário ter muita atenção na comercialização”, disse. 

E o milho?

As perspectivas são parecidas para o milho. O mercado global deve ter um superavit de 1,2 milhão de toneladas na próxima safra, também influenciado por alta produtividade nos EUA, maior produtor mundial. Assim, o preço também deve ficar abaixo do praticado no ano passado, em uma média de US$ 4 por bushel. 

No Brasil, a perspectiva é de uma colheita estável, próxima de 118 milhões de toneladas, com a demanda interna bastante aquecida. “Na safra passada, foram vendidos quase 18 milhões de toneladas de milho para etanol, número que deve ser de 21 milhões de tonelada na próxima safra”, diz França. 

A estabilidade na produção está relacionada à redução de área plantada do grão, motivada pela rentabilidade também apertada. Na safra verão, a queda deve ser de 5%, com boa parte disso sendo direcionada para a soja. Na safra de inverno, a projeção da consultoria é de um recuo na área de 2%. 

“Assim como na soja, estamos com paridade de preço de exportação abaixo dos padrões do ano passado. Se houver boa produtividade, a gente tem condições de estar perto do ponto de equilíbrio, em uma conta que não considera o custo de arrendamento. Podemos ver, nesse sentido, talvez mais algodão no inverno”, disse França.