O plantio de soja avança mais lentamente nesta safra. De acordo com boletim mais recente da Conab, pouco mais de 48% da área total foi semeada até 5 de novembro, ante mais de 55% no mesmo período do ano anterior. Pelo menos desde 2019, quando começa a série histórica da Conab, não tínhamos menos da metade das áreas semeadas no Brasil entre o fim de outubro e início de novembro.
O atraso acontece pelo excesso de chuva no Sul e a irregularidade da precipitação nas regiões Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste. No centro desse padrão, temos o fenômeno El Niño, que é o aquecimento anômalo das águas do Pacífico Equatorial. Temos também um coadjuvante não muito mencionado, mas que está potencializando os extremos neste ano: o aquecimento do oceano Atlântico Norte acima do normal.
Nos próximos dias, a situação não deverá mudar. Deve, aliás, piorar.
Mesmo com a chuva irregular, as frentes frias estavam conseguindo avançar até a costa da Bahia. Agora, por aproximadamente dez dias, os sistemas frontais ficarão presos entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina pela formação de um bloqueio atmosférico.
Enquanto o noroeste do Rio Grande do Sul deverá receber mais de 500mm de chuva, ou meia caixa d’água de mil litros em cada metro quadrado, as regiões Sudeste e Centro-Oeste experimentarão temperaturas acima dos 40°C.
Impactos
Quais serão as consequências? Uma diminuição da umidade do solo e dificuldade em estabelecimento inicial de áreas recém-instaladas no Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste. Além disso, aumenta a chance de replantio de soja no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina pela chuvarada que virá em breve.
E quando isso mudará? No último decêndio de novembro, uma frente fria conseguirá quebrar o bloqueio e levar chuva especialmente ao Sudeste e Estados de Goiás e de Mato Grosso do Sul. Mas, ainda assim, não veremos um corredor de umidade típico da primavera.
O El Niño não permitirá que a “gangorra da chuva” mude completamente. Isso está aparecendo apenas para dezembro. Ainda assim, pelos próximos 46 dias, em nenhum momento há previsão de chuva tão forte como as vistas nas duas últimas primaveras sobre o centro e norte do Brasil.