As fazendas da SLC valem mais do que a empresa na bolsa, o que sugere que um dos maiores grupos agrícolas do País está sendo negociado com um desconto significativo em relação ao valor de suas terras. Não por acaso, as ações da companhia da família Logemann sobem 6% nesta segunda-feira.
Num fato relevante enviado na sexta-feira à noite, a SLC informou que suas terras foram avaliadas em R$ 11,6 bilhões pela Deloitte, ante R$ 10,9 bilhões no ano anterior. Desconsiderando um pequeno ajuste de portfólio, as fazendas tiveram uma valorização de 7%, um resultado surpreendente para um ano de queda nos preços das commodities.
O preço da terra está diretamente ligado ao valor que é possível extrair dele. Apesar de, historicamente, ser muito resiliente durante períodos de baixa das commodities, a liquidez do mercado de terras tende a cair. “Portanto, esperávamos que os preços permanecessem praticamente estáveis”, escreveram os analistas Thiago Duarte, Guilherme Guttilla e Pedro Soares, do BTG Pactual.
Mas, além de subir, o valor das terras da SLC superou a média do mercado. Enquanto as propriedades da empresa foram avaliadas em R$ 57.600 por hectare, o preço médio das áreas de grãos é estimado em R$ 55.000 por hectare, destacou o BTG, citando dados do relatório de terras da S&P Global.
Embora a valorização do portfólio de terras atualmente tenha um peso menor nos resultados da companhia, ele deve ser considerado na avaliação de empresas do agronegócio, segundo Guilherme Palhares, analista do Santander.
Segundo ele, o valor de mercado da SLC, de R$ 7,7 bilhões na sexta-feira, implica uma avaliação das terras de R$ 6,7 bilhões, sugerindo um desconto de 30% em relação ao valor de suas fazendas. “Este cenário indica que o mercado de capitais pode subestimar o valor dos ativos tangíveis da empresa”, afirmou Palhares em um post no LinkedIn.
Nos cálculos do BTG, a relação entre preço da ação e o valor líquido dos ativos (NAV) está em apenas 0,86 vez. “Isso ignora que cerca de dois terços da área plantada da SLC é arrendada e, portanto, não é considerada no cálculo do NAV”, diz o relatório.
“É quase como se o negócio agrícola da SLC não pudesse gerar qualquer valor”, ressaltaram os analista do BTG. O indicador P/NAV (preço da ação versus NAV) é uma das razões para a recomendação de compra das ações da SLC pelo BTG. Apesar da alta desta segunda, os papéis da SLC ainda acumulam queda de 8% em um ano na B3.
Quem percebeu muito cedo a barganha foi a família Scheffer, que montou uma posição de quase R$ 450 milhões em ações da SLC no início do ano, ficando com 5,3% da companhia controlada pelos Logemann.
Na produção
Nesta segunda-feira, a SLC divulgou outro fato relevante com uma atualização sobre a safra 2023/24 e suas posições de hedge para a próxima temporada.
Com a colheita de soja finalizada, a empresa teve uma produtividade de 3.276 quilos por hectare, uma queda de 17% ante o projetado devido à seca que atingiu o Mato Grosso. Para o milho safrinha, a companhia estima uma queda de 4,3%, para 7.255 quilos por hectare, devido a perdas localizadas no Maranhão. Já o algodão deve superar as expectativas da companhia em produtividade.
A companhia também avançou na comercialização da safra que está terminando e na próxima. Da produção estimada em 2024/25, 44% da soja está hedgeada (no final de abril, o percentual de hedge estava em 21%). Para o milho e o algodão, praticamente não foi feito hedge ainda.
A empresa tem aproveitado a boa relação de troca entre preço de commodities e fertilizantes e o restante dos insumos para travar os custos de produção da safra de verão. A empresa já finalizou a compra de cloreto de potássio e adquiriu 92% dos fosfatados, 97% dos nitrogenados e 85% dos defensivos.